quinta-feira

Vem aí o Consenso de Washington versão lusa...

Esta onda de privatizações é uma proposta tão sedutora quanto fácil e até simplista de propôr. Funcionará nuns casos, não funcionará noutros. Em todo o caso, é consensual que a economia nacional ainda está muito protegida pela regulamentação político-administrativa (e orçamental) do Estado, logo pesada para todos nós. Se em certos sectores for possível libertar recursos com acréscimo de eficácia e qualidade pelos serviços prestados às populações - tanto melhor.

No entanto, essa onda de choque gerada pelo Consenso de Washington - tem perigos. E um deles é olhar para a economia com as vistas do merceeiro de lápis atrás da orelha, que é, na verdade, aquilo em imediatamente penso sempre que vejo o sr. Carrapatoso a falar de economia. Mais: além do lápis atrás da orelha, eu até o consigo ver Carrapatoso enrrolando chouriços, farinheiras e demais enchidos em papel pardo e depois a assoar-se aos punhos do casaco. Ora, o problema com este egocêntrico - que é a versão economicista de S. Lopes - é não conseguir olhar para a economia com olhos de Político - que desejaria ser.

Porque a receita da privatização, abertura brusca dos mercados, reformas económicas em doses cavalares, "flexibilização" dos direitos dos trabalhadores, cortes nos gastos sociais e conexos que faz com esta crónica até possa ser subscrita pelos camaradas Jerónimo de Sousa e Caralho da Silva da CGTP. Infelizmente, o camarada Carlos Sousa, ex-autarca de Setúbal já não a pode subscrever porque foi enviado para a Sibéria, embora haja quem diga que ele pegou da família e (e)migrou para Tróia para aí poder assistir - como repórter de guerra do 25h. - às próximas implosões belmirianas.

Mas o que me espanta neste frenesim carrapatosiano que se repete ano após ano, é a limitada concepção que esta gente tem da economia - que pretende autoregular-se sem interferências políticas de teor social a fim de equilibrar ou impedir alguns derrapanços... Sem o quererem e sem o saberem - essa gente do Compromisso Portugal pode estar a contribuir para acelerar uma onda de privatizações que pode estar na calha durante uma semana, mas o reverso da medalha decorre da própria natureza do processo de globalização económica e, fundamentalmente, das suas consequências e implicações para a própria ideia de cidadania. Mas a premissa subjacente à retórica neoliberal dominante seja a de que a democracia política salvaguarda os direitos de propriedade que, por seu turno, fomentam o crescimento económico ao diminuírem os riscos dos investidores.

Embora se saiba ainda pouco acerca das correlações da democracia - em promover (ou não) o próprio crescimento económico, impede-o ou é-lhe indiferente. Lembremo-nos do processo que conduziu a ascensão de Adolfo ao poder... Então ele também prometera, caso fosse eleito (como foi em 1933), um carro para cada alemão. O carro do povo, um VolksWagen. Nesse caso tratou-se de um outro compromisso bem diferente, infelizmente...