Compromisso Portugal nunca existiu, senão em campo holográfico e 3D...
- O que a generalidade das pessoas e dos media em Portugal julgou ter visto a semana passada no Convento do Beato foi um conjunto de gestores mais ou menos bem-sucedidos, ricos e mimados, alguns parvos e presunçosos que ainda confundem a Bíblia com o Das kapital de Carlinhos Marx - e ambos com a obra ultrapassada (embora fundadora e seminal) de Adam Smith. O cidadão médio, os jornalistas, a sociedade em geral julgaram percepcionar uma ida em bando ao Convento do Beato - como quem vai a um banquete ou a um casamento sem ser convidado e depois sai à pressa mas, na realidade, o que se passou, segundo a macro-teoria da comunicação e da nova interpretação aqui expendida, foi coisa bem diversa.
- O que se passou - sem que ninguém soubesse do facto, é que uma multidão de duas pessoas conceberam, planificaram, montaram, executaram e controlaram todos os passos que aquela ciber-operação sofisticada exigiu. A esse dueto (que não foi nem Cavaco nem Socas, dado que um já sonhava com Espanha e o outro navegava no pesadelo de perceber os contornos do melhor modelo da segurança social seguir) - vamos, por convenção, chamar-lhes o casal McGiver: um replica do outro.
- Foram eles os autores do cenário de ficção científica projectado no Convento do Beato fazendo supor ao país que, na realidade, estaria alí uma centena de pessoas de carne e osso. Montado o cenário, escolhida a tecnologia havia que meter mãos à obra. O casal McGiver - investigadores de profissão ligados à 7ª Arte - puseram em movimento réplicas a 3D de 50 Carrapatosos, 20 Nogueiras Leites, 10 "(r)iBarcardis" (os outros não me lembro do nome, o resto são objectos e outros adereços conventuais e ícones religiosos relacionados com o lucro e a economia) - de forma a recriar todo um ambiente sensitivo susceptível de ser aceite como real pelos jornalistas e pela generalidade da opinião pública.
- Aquelas replicas moviam-se em tempo real, os gestos, os olhares, até os tiques do Carrapatoso (mostrando os punhos de renda e o seu foleiro relógio - quase do tamanho do que está na Rotunda do Relógio à entreda ou à saída de Lisboa) - eram, milimétricamente reproduzidos através dessa tecnologia de reprodução de formas e de aparências de molde a fazer supor que esses modelos 3D representassem - fidedignamente - entidades físicas e não meros hologramas. E foi esta a razão pelo qual toda a comunidade de jornalistas foi iludida, e por meio dela o país inteiro.
- Ou seja, em virtude da tecnologia manipulada pelo casal McGyver (a séria predilecta de Cavaco na década de 90) as pessoas podiam-se cumprimentar, falar normalmente, emitir sons, gestos, cheiros nauseabundos pelas bufinhas que davam discretamente (enquanto tussiam, como fazem na vida real)... - tudo em tempo real. E os otários dos jornalistas a gravarem o "pastel" como se aquela gente fosse de carne e osso. Os papalvos dos telespectadores, claro está, ainda foram mais otários ao manjar aquele festim como se fosse real.
- Assim que cada um dos oradores falava outro entrava - já com a sua morfogenia adaptada à sua verdadeira entidade real e posição relativa no terreno. De modo que quando se usava uma replica - a réplica Carrapatoso, por ex., - uma outra se transformava na forma adequada para interagir com ele, à semelhança da Matrix - numa espécie de escada de extensão. De modo que naquele dia as replicas foram às centenas.
- O espaço fora colonizado por aqueles feixes de luz, por aqueles entes holográficos, por fragmentos morfo-carrapatosianos e nogueireanos a invadir os claustros do Convento do Beato - numa espécie de neovisita virtual teleguiada - revisitando a Nova Idade Média mas a partir do séc. XXV. Havia replicas de vários tamanhos e todo aquele simulacro estava sendo retransmitido em tempo real através dos canais de tv alí estacionais, sem sequer se aperceberem que estavam a gramar um pastel de videoconferência a 3D com recurso às mais sofisticadas nanotecnologias.
- Que foram, afinal, os verdadeiros sensores que deram forma, tamanho, peso, cor, vox, volumetria aqueles simulacros carrapatosianos que o país julgava estar alí a discutir a forma de fazer uns negócios à pala do Estado e do zé povinho (que lhes paga os impostos), através da baixa do IRC e do abatimento de 200 mil cabeças de funcionários públicos - que o Estado iria integrar - na Boca do Inferno - alí em Cascais - mediante um "Plano integrado" (segundo expressão do nano-carrapatoso).
- Foi, portanto, por recurso às nanotecnologias controladas por minúsculos sensores que se recriou todo aquele ambiente físico, "humano" fazendo interagir pessoas com objectos, cores, cheiros e sons num determinado espaço que também se ía ajustando às necessidades do próprio simulacro global do Convento do Beato - que levou Portugal inteiro a acreditar que aquelas pessoas estavam ali aquela hora dizendo aquelas barbaridades - face-to-face.
- O que começou por ser uma ideia de fazer mais uns negócios de outsourcing acabou num projecto avançado de investigação nanotecnológica. De que os filmes Lord of the Rings ou o Polar Express ou mesmo Matrix (dos irmãos Wachowki) são exemplos de captura de imagens 3D e depois codificadas em projectos intensivos de realidade virtual. Permitindo ver em tempo real replicas de borboletas voando pela sala, Carrapatosos deslocarem-se ao WC, os Bacardis a ligarem para as amantes nos intervalos da sessões sobre pseudo-economia, alguns "homo" a combinarem saídas para o day-after, os empregados do Convento a servirem o fua-grá, caviar e bebidas dando a ideia de que aquele era o melhor dos mundos possíveis - quando tudo, afinal, não passava de replicas 3D. Decorrentes das tais interferências construtivas que falámos acima e que permite estimular a textura dos corpos e dos objectos numa perfeita interacção entre si e recriando inúmeros interfaces. O Compromisso Portugal pareceu uma coisa de carne e osso, mas foi um evento ciber-virtual de matrix holográfico. Mostrando como as comunicações são hoje o maior desafio para a política, para a sociedade e até para os investigadores e a percepção com que descobrimos e (re)inventamos o mundo vindouro - sempre em aberto.
- Contudo, esta tecnologia do casal McGyver oferece riscos (superiores ao do modelo de capitalismo de casino com que o Psd pretende reformatar o modelo de segurança social fazendo depender uma reforma duma roleta russa de fundos de capitalização com acções e obrigações a operar no carrossel bolsista), pois já se especula, dado os poderes quase milagrosos da mesma, que se façam aparecer pessoas onde elas na realidade não estão. Um exemplo: todos nós sabemos que Cavaco está neste momento em Espanha numa visita oficial, mas já é possível entrar no Palácio Rosa e iludir a segurança, o mordo-mor e até a criada dos quatros - através duma imagem em tamanho real e em pleno movimento, neste caso do próprio PR, Cavaco Silva. Ou até, invertendo os termos, pondo José Sócrates (num simulacro, como pretende Hugo Chávez, PR da Venezuela em campanha) a passear ao lado do Cavaco-real por entre os quase 2m. do rei D. Juan Carlos.
- Como se trata de nanotecnologias os dispositivos em causa também se adaptam bem a M.Mendes que amanhã o casal McGyver pode (re)colocar a dar uma conferência de imprensa no Hotel Ritz - numa cena de beijos e abraços entre Socas e ele próprio - a fim de celebrar (mais) o pacto da Segurança Social quando na véspera Portugal compreendeu que entre um e outro é o preto e o branco. Daí os perigos destas falsas aparências e falsas movimentações em múltiplos locais numa recriação permanente com incidência na esfera pública. Neste caso, já não seria necessário pôr Mário Soares a debitar as barbaridades do costume sobre as causas do terrorismo, porque aquilo que ele diz na realidade já faz dele um aliado estratégico de Bin Laden - com quem defende neogociações. Portanto, Soares já é um simulacro por natura.
Chama-se a isto fazer o futuro em tempo real. E o futuro hoje diz-nos aqui que o Compromisso Portugal não existiu, foi um simulacro mediante efeitos nanotecnológicos e toques holográficos.. Mas mais importante que isso é a descodificação e desconstrução da realidade como um mero exercício intelectual - para a reconstruir de seguida estimulando em todos nós os diferentes aspectos do acto criativo. E talvez isto explique porque razão aqui falámos no processo criatogénico esta semana quando tentamos explicar as razões que demonstram fazer do blog O Jumento o melhor blog português.
- E são esse, cremos, os principais desafios que se colocam hoje ao blogger quer ele seja investigador, cientista, docente, jornalista, analista de sistemas, consultor, bruxo, bruxa, pedreiro, (ex)deputado, advogado de causas efémeras e de outras viúvas negras, farmacêutico ou vendedor de pentes, pensos rápidos e de preservativos ao domícilio. Tudo aqui pode confluir com mais ou menos qualidade em função da natureza de cada lente e, naturalmente, dos neurónios de cada um na apreensão dessa troika de dimensões essencial a este novo tipo de narrativas neorealistas: concentração, estratégias criativas de tipo sistémico ou holístico e muita socialidade - por forma a fornecer em segundos todo um campo de meditação e de visualização que permita ao ciber-leitor um pensamento interactivo para descofidicar os "objectos de luxo" que tem pela frente, sobretudo tratando-se deste simulacro (qui recriado) com base no "Compromido Portugal". Um simulacro que desafia o movimento estonteante dos corpos (já que das ideias poucas ou nenhumas houve) por causa da velocidade absoluta, do controlo absoluto, instantâneo, de um poder quase divino associado estas novas tecnologias. Confrontando-nos com a própria ubiquidade e omnipotência, pois já nada disto remete para a democracia representativa que alguns ainda pensam viver.
- Daí a questão na esfera da teoria democrática (que também ocupa as reflexões da socióloga Maria José Stock - que as recoloca no quadro da nova teoria da ágora contemporânea): poderemos encontrar uma democracia do tempo real, da imediaticidade e da ubiquidade? Aqui somos bem acompanhados por uma outra extensão de raciocínio: os multimedia colocam-nos diante uma questão nuclear que o Compromisso Portugal teve o mérito de denunciar: a da velocidade da política - a cronopolítica - que implica o abandono da realidade e das velhas oposições direita vs esquerda - que alguma blogosfera no outro dia desenvolveu - e vem revolucionar a percepção do mundo pela emergência duma nova estética do desaparecimento, já que o sr. Nogueira leite se acha portador de uma apurada sensibilidade estética. Aliás, estamos mesmo convencidos que já não é Keanu Reeves, Laurence Fishburne ou Weaving (o agente Smith) que estão alí aos tirinhos, mas a dupla cCarrrrapatoso-N.Leite (S.a.) adaptados a nova morfogénese do compormisso com o futuro (embora com muito passado).
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