A carta aberta do Jumento ao Compromisso Portugal
Nota prévia:
Pensámos em republicar parte deste texto, mas como tudo é importante optámos por publicar a carta na íntegra, após devida autorização do seu autor. Mas porque razão, no entender do Macroscópio, esta Carta aberta - e a forma como está redigida é de extrema importância?! Vejamos: hoje em dia cada um de nós é dono do seu principal activo: a massa cinzenta que tem dentro da caixa craniana. Uns utilizam-na para fazer o Compromisso Portugal (CP), outros para assaltar bancos, outros ainda para governar e outros - simplesmente - para reflectir umas coisas na blogosfera. Na melhor que se faz em Portugal, presumo. Ora sendo dono das nossas próprias mentes estamos a rasgar um campo de possibilidades de Liberdade verdadeiramente novo, desta feita somos todos livres para opinar, escolher os destinos que quisermos e até para fazer o CP. Ou seja, a escolha é nossa. Assim como já escolhemos entre ver e ouvir Marcelo e ver e ouvir António Vitorino. Já sabemos qual é a certeza a 22º de Pulido Valente. E quanto mais singulares formos melhor nos saímos, esta é a regra d' ouro. Todavia, a leitura desta Carta aberta ao CP empurrou-me para outra narrativa, especialmente pelas referências que faz a Marx e a Lenine. Só faltou ao CP formular a velha questão: Que Fazer? Mas foi ao ver aquela peregrinação ao Convento do Beato - tipo romaria da nova Idade Média - que me certifiquei de que Portugal - com a introdução da agricultura passámos duma sociedade de recolecção (de caçadores) a uma sociedade de agricultores, e com o advento da electricidade, entrámos definitivamente na Era industrial a que seguiu a Era cibernético em que hoje estamos, no meio dos circuitos integrados. Talvez por isso Lenine tenha dito um dia que o Comunismo = Electrificação + Poder (para os sovietes, que se queriam libertar do Czar). Veio a revolução de 1905 (que meteu Lenine na cadeia e o fez viajar até à Suíça num comboio marado, o que lhe deixou tempo de reflexão) e depois a verdadeira Revolução de 1917 - que, desta vez, meteu o Czar no cemitério e abriu caminho para cerca de 80 anos de totalitarismo comunista de que tivémos sinal lamentável com a demissão do autarca do PCP de Setúbal. O resto da história é conhecida, mas o que procuro sublinhar é o exemplo diário de verdadeira sociedade do conhecimento que o Jumento nos dá a todos, de borla, e que mais nenhum outro jornal consegue igualar. Pelo menos, por enquanto e que eu saiba. Claro está que a blogosfera é povoada por uma larga percentagem de invejosos, de pessoas mal formadas, egosístas e egocêntricas, com má fé que detestam rever-se nesta imagem que o espelho devolve, mas as coisas são como são. Aliás, com certa blogosfera só se desaprende porque reflecte à velocidade da luz os piores traços e instintos da condição humana. Contudo, apraz-me registar verdadeiras excepções aquela infelicidade. Afinal, o futuro nunca pôde ser previsto, teve sempre de ser criado, e hoje sucede o mesmo. Ou vemos as coisas acontecerem sem nada fazer, ou intervimos para fazer com que aconteçam. A Net - como sabemos, pode ser usada para promover a pedofilia, distribuir pornografia e cometer uma catadupa de crimes ciber-virtuais - até de natureza fiscal (fugindo aos impostos...) como ser um veículo preferencial de produção de conhecimento e de sabedoria. Na realidade, o futuro não existe, mas pode ser aquilo que nós fizermos dele. Agora, já!!!
Carta aberta (in Jumento)
- Antes de mais gostaria de lembrar vexas que Portugal tem uma democracia que, mal ou bem, tem funcionado, que nessa democracia os cidadãos escolhem quem os deve representar e que os problemas do país se discutem no Parlamento. Eu sei que nem sempre andamos bem representados, que os deputados não correspondem ao modelo de virtudes que todos desejaríamos e ainda por cima é frequente a maioria ter sido eleita por partidos de que vexas não gostam, mas a democracia tem destes inconvenientes, era Winston Churchill que dizia que “a democracia é o pior sistema de governo com exceção de todos os outros”.
- O ideal seria os governantes serem escolhidos por concurso curricular, António Borges teria currículo para primeiro-ministro, Nogueira Leite teria boas hipóteses de ficar nas finanças e o Carrapatoso, com o seu MBA da Universidade Nova, poderia ambicionar um lugar de secretário de Estado. O parlamento deveria ter duas câmaras, uma composta pelos deputados eleitos pela populaça, aos quais só seria exigido o ensino obrigatório, e uma outra câmara constituída por gente inteligente e com provas dadas, nela onde poderiam estar muitos dos peregrinos do Beato. O orçamento apenas pagaria os vencimentos dos eleitos pelo povo, os governantes seriam pagos pela empresas promotoras e ganhariam prémios fixados por essas empresas, os deputados da câmara dos inteligentes teriam que recolher patrocínios para se sustentarem, como sucede com os pilotos portugueses da Fórmula 1.
- O problema é convencer o povo. Permita-me que lhe dê os parabéns pela escolha dos nomes para a apresentação dos textos provocatórios, como, por exemplo, o do capítulo relativo a “Pensar e redefinir as Funções do Estado”, foram dois secretário de Estado de Pina Moura (um dos melhores modelos de político-empresário que por cá temos), Nogueira Leite (o vaidoso secretário de Estado do Tesouro) que quando o barco guterrista começou a dar sinais de meter água pela borda assumiu o papel de ratazana de serviço, e Fernando Pacheco (secretário de Estado do Orçamento), que quando a nau já não tinha salvação inventou à pressa cinquenta medidas para reduzir a despesa pública.O modelo escolhido para fazer passar a mensagem também me merece o elogio, não deve ter sido fácil a tão ilustres pensadores transformar as propostas numa linguagem tão simples, quase tão simples como a publicidade que o Continente me mete na caixa do correio.
- Não insinuo que estamos perante uma nova linguagem para a economia política, a linguagem pimba, trata-se antes de uma forma de comunicação simples e objectiva, para que o povo a entenda, tão simples que me até parece tem semelhanças com uma quadra do corridinho algarvio:
- As moças da minha aldeia.
Quando vão mijar à rua.
Dizem umas para as outras.
A minha é maior que a tua!
- Deixe-me dizer-lhe também que discordo do muitos que o acusam de defensor do ultra-liberalismos, embora a generalidade das propostas nos levem a pensar assim, a verdade é que o Compromisso Portugal propõe-nos a mais moderna e actualizada das revisões do leninismo, quer no plano político, quer no que se refere ao modelo económico.As críticas subtis ao modelo político e a exibição dos modelos de virtudes da sociedade portuguesa não são mais do que evidenciar as fragilidades da democracia e a defesa de que cabe a uma vanguarda a mudança da sociedade. No antigo modelo leninista esse papel cabia à classe operária, enquanto vanguarda do proletariado era a classe que melhor simbolizava os valores da nova sociedade e capaz de ser mais fiel ao marxismo-leninismo.
- Para o Compromisso Portugal deverá continuar a haver uma vanguarda que deverá zelar pela mudança, em vez dos operários, coisa que está em extinção, deverão ser os assalariados mais capazes e bem sucedidos, os administradores das empresas. Aliás, a melhor das democracias seria aquela em que o país seria governado por essa mesma classe, ninguém tem dúvidas que em vez do Santana Lopes o lugar de primeiro-ministro seria de António Borges, o grande líder da nova vanguarda.
- Também no modelo económico o Compromisso Portugal se revela leninista, pois para o seus promotores a mudança da sociedade faz-se através do Estado, todos os males e benfeitorias da sociedade passam pela gestão do Estado. Até no texto provocatório dedicado à competitividade, onde esperava uma análise dos problemas das nossas empresas só encontramos medidas aplicadas ao Estado, isto é, fiquei a saber que é do Estado que depende a competitividade das nossas empresas, coisas como a inovação são manias dos americanos.
- Para o Compromisso o Estado é a fonte de todos os bens e de todos os males, o grande centro da economia. Acho mesmo que da peregrinação do Beato deveria ter saído o Manifesto do PCP – Partido do Compromisso Portugal, e os textos provocatórios, que contemplam centenas de medidas para o Estado, deveria ter saído do encontro sob a forma de plano quinquenal.Sem mais, despeço-me com elevada estima e consideração. Até para o ano.
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