A segunda lição de Karl Polanyi; e o Editorial de Helena Garrido
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- Post dedicado a todos aqueles gestores, economistas, ou pseudo-gestores e pseudo-economistas que foram ler Karl Polanyi à pressa para fazerem melhor figura no Convento do Beato.
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- Republicamos aqui na íntegra talvez o melhor grito de alerta vindo precisamente do interior do jornalismo que pensa e reflecte alguma coisa em Portugal
Beato
- "Não perguntes o que o teu país pode fazer por ti, pergunta o que podes fazer pelo teu país." A famosa frase de John F. Kennedy é naturalmente trazida da memória com a iniciativa do Compromisso Portugal.Pelo Convento do Beato, em Lisboa, passaram ontem gestores - mais que empresários - das maiores e mais importantes empresas a trabalhar em Portugal. Lideram uma significativa parte da criação da riqueza e do emprego no País. Pela influência das suas empresas são responsáveis, em grande medida, pelos caminhos económicos, sociais, políticos e culturais de Portugal. Mas, tal como há dois anos, ouvimos conselhos para o outro, o Estado.Portugal, na imagem que foi transmitida, está uma desgraça. É verdade. Todos conhecemos o diagnóstico do baixo crescimento e da reduzida escolaridade que nos pode condenar ao empobrecimento.É preciso combater o abandono escolar, dizem os gestores do Beato. Quantos deles, nas suas empresas, têm políticas de responsabilidade social com programas de apoio aos seus empregados para promover a escolaridade dos filhos? É preciso aumentar as exportações. Mas é o Estado que arranja clientes no exterior? Ou será que ao mesmo tempo que se pede menos despesa pública está a dizer-se que é preciso gastar mais no apoio às exportações? É preciso reduzir o número de funcionários públicos em 200 mil, dizem. Quantos destes gestores iriam para a praça pública dizer que precisavam de reduzir em quase 30% o seu número de empregados? E quantos conseguiram fazer isso sem ser lentamente e usando com grande frequência os mecanismos que o Estado, ou seja, a despesa pública, põe ao seu dispor através de reformas antecipadas ou do subsídio de desemprego?É preciso salvar a Segurança Social, dizem. E a receita é passar do actual regime em que os empregados pagam a reforma dos pensionistas para uma conta de poupança individual. E quem paga as pensões de quem está reformado ou prestes a ser pensionista? A resposta é: o Estado endivida-se. Falta contar o resto da história. Se Portugal se endividar mais viola mais uma vez os compromissos assumidos com Bruxelas e corre o risco de ter de pagar taxas de juro mais altas e, como tal, aumenta a despesa pública. Além disso, a dívida, como todos sabemos, tem de ser paga, mesmo que seja daqui a 50 anos. E nessa altura aumentam os impostos.Ouvir o que têm para nos dizer alguns dos gestores de topo de Portugal acaba por ser mais um triste contributo para percebermos porque está o País como está. Como é vulgar, há muitos conselhos para os outros, pouco ou nenhum pensamento sobre o que cada um no seu lugar pode fazer por Portugal.
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