quinta-feira

A segunda lição de Karl Polanyi; e o Editorial de Helena Garrido

Ainda mais uma nota sobre o "Comprimido Portugal" que é a versão masculina da passagem de modelos tipo Fátima Lopes. E como o sr. carrapatoso tem revelado que só leu Adam Smith, e de esguelha, somos aqui impelidos a dizer o seguinte. De facto, a dinâmica da globalização política e económica implica, uma remodelação e uma redefinição quase permanente das formas de gestão e de exercício da soberania, enquanto capacidade de autonomia e de eficácia das políticas públicas dos Estados e das sociedades do chamado bolo do capitalismo avançado de que Portugal, bem ou mal, faz parte. Porém, o mais inquietante e grave nessa agremiação de interesses que todos os anos coloniza o Convento do Beato - onde estão os presidentes de conselhos de administração pagos a peso de ouro, empresários falidos e muitos outros sem escrúpulos, economistas ressaibiados por terem sido chutados borda fora ao tempo em que o prof. Sousa Franco era vivo e mandava nas finanças em Portugal, - é que ela também mina a autoridade política (e até económica e social) do Estado, agravando os problemas de legitimidade das instituições e práticas democráticas neles enraizados, como o revelam a forma como a população portuguesa tipifica os deputados (os menos credíveis) ou ainda pelos índices de corrupção, nepotismo, desinteresse pelos assuntos da polis, desconfiança e até dissonância crescente daquilo que é o pulsar das populações e os interesses neocorporativos dessa pseudo-elite gestora que, afinal, pouco mais leu do que Adam Smith. O Convento do Beato arrisca-se a ser uma sinfonia de ratos que todos os anos diz a mesma coisa, só que em línguas e datas diferentes. Mas eles são sempre os mesmos e também não desejam coisa diferente. Já se vê o que é...
  • Post dedicado a todos aqueles gestores, economistas, ou pseudo-gestores e pseudo-economistas que foram ler Karl Polanyi à pressa para fazerem melhor figura no Convento do Beato.

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- Republicamos aqui na íntegra talvez o melhor grito de alerta vindo precisamente do interior do jornalismo que pensa e reflecte alguma coisa em Portugal

Beato

  • "Não perguntes o que o teu país pode fazer por ti, pergunta o que podes fazer pelo teu país." A famosa frase de John F. Kennedy é naturalmente trazida da memória com a iniciativa do Compromisso Portugal.Pelo Convento do Beato, em Lisboa, passaram ontem gestores - mais que empresários - das maiores e mais importantes empresas a trabalhar em Portugal. Lideram uma significativa parte da criação da riqueza e do emprego no País. Pela influência das suas empresas são responsáveis, em grande medida, pelos caminhos económicos, sociais, políticos e culturais de Portugal. Mas, tal como há dois anos, ouvimos conselhos para o outro, o Estado.Portugal, na imagem que foi transmitida, está uma desgraça. É verdade. Todos conhecemos o diagnóstico do baixo crescimento e da reduzida escolaridade que nos pode condenar ao empobrecimento.É preciso combater o abandono escolar, dizem os gestores do Beato. Quantos deles, nas suas empresas, têm políticas de responsabilidade social com programas de apoio aos seus empregados para promover a escolaridade dos filhos? É preciso aumentar as exportações. Mas é o Estado que arranja clientes no exterior? Ou será que ao mesmo tempo que se pede menos despesa pública está a dizer-se que é preciso gastar mais no apoio às exportações? É preciso reduzir o número de funcionários públicos em 200 mil, dizem. Quantos destes gestores iriam para a praça pública dizer que precisavam de reduzir em quase 30% o seu número de empregados? E quantos conseguiram fazer isso sem ser lentamente e usando com grande frequência os mecanismos que o Estado, ou seja, a despesa pública, põe ao seu dispor através de reformas antecipadas ou do subsídio de desemprego?É preciso salvar a Segurança Social, dizem. E a receita é passar do actual regime em que os empregados pagam a reforma dos pensionistas para uma conta de poupança individual. E quem paga as pensões de quem está reformado ou prestes a ser pensionista? A resposta é: o Estado endivida-se. Falta contar o resto da história. Se Portugal se endividar mais viola mais uma vez os compromissos assumidos com Bruxelas e corre o risco de ter de pagar taxas de juro mais altas e, como tal, aumenta a despesa pública. Além disso, a dívida, como todos sabemos, tem de ser paga, mesmo que seja daqui a 50 anos. E nessa altura aumentam os impostos.Ouvir o que têm para nos dizer alguns dos gestores de topo de Portugal acaba por ser mais um triste contributo para percebermos porque está o País como está. Como é vulgar, há muitos conselhos para os outros, pouco ou nenhum pensamento sobre o que cada um no seu lugar pode fazer por Portugal.