segunda-feira

O sentido do Tempo em Marvão: filosofia aérea a 900m de altitude

- Chega-se a Marvão e o Tempo ganha automáticamente uma outra dimensão geo-temporal. Parece que tudo muda - mudando nós (também) nessa transformação. Não me refiro às ruas esventradas pelas obras necessárias, ao pó decorrente, à intransitabilidade, à tristeza dos monumentos, à frustração de todo um património histórico e das populações - numa constatação evidente de que os agentes políticos não estão à altura da monumentalidade que (supostamente) dirigem.
- Nem sequer me reporto à tristeza e menor agitação das aves - de pequena, média e grande porte - que sobrevoam os céus de Marvão - pouco abaixo dos inúmeros aviões que por aqui fazem rota - e cedo perceberam o malogro que está em curso: malogro por incapacidade de planeamento político, mas também por impreparação cultural, técnica e de ordem comunicacional junto das populações - que hoje lamentam a opção política que tomaram. Ante a ausência da execução do tal planeamento político e capacidade de iniciativa que referi acima. E de que a candidatura de Marvão à Unesco foi um lamentável exemplo dessa impreparação e falta de iniciativa e de empreendedorismo na política local em Portugal.
- Como consequência destas lacunas diminui também a capacidade de atração de investimentos para a região e, por extensão, a capacidade de fixação de pessoas e de agentes de modernização e de desenvolvimento - que operem como enzimas - no concelho de Marvão. Em Junho passado - desenvolvemos esse lamentável dossier...
- Em lugar dessa impreparação geral a que a política lusa está sendo submetida - por causa de deficiência da escolha dos dirigentes políticos, observamos a continuação das visitas à Vila do chamado turista pé-descalço com a Nikon ao pescoço que anda por aí batendo chapas às muralhas do Castelo - que impávido e sereno assiste a todo este tipo de insuficiências quer por parte daqueles que supostamente deveriam dirigir os destinos do Concelho, quer por parte dos cromos que visitam a Vila e nada lá deixam, senão a aquisição dumas mui pequenas peças de artesanato.
- Mas o sentido do TEMPO - a 900m de altitude é, na essência, aquilo que me ocupa. Rever a sua definição é a nossa preocupação, dado que o Tempo percepcionado a partir de Marvão se reveste duma qualidade e duma textura e experiência intelectual e espiritual novas, especialmente quando estamos emocionalmente empenhados no desafio dessa tarefa de compreensão do tempo e do espaço - que ora se vê alterado.
- Tal condição ou fluxo pode exprimir-se de duas formas: 1) o Tempo parece acelerar - já que um dia parece uma hora, uma hora parece um minuto...); 2) mas o oposto também ocorre - na medida em que os minutos parecem horas, estas parecem dias, e os dias semanas, e as semanas uma eternidade.
- Frequentemente, nesse fluxo mental do tempo - ele voa rápido quando nos divertimos, mas desacelera a marcha quando o contexto psicológico muda. Mas quer duma forma, quer doutra o Tempo - de que falamos - não tem relação com o tempo medido pelo relógio que acaba por nos reger a vida pessoal, familiar e profissional. Nem sequer podemos escolher a hora a queremos morrer...
- Apenas procuramos significar que a interpretação que aqui fazemos do Tempo e do fluxo de experiências que verte nele - pode resultar no sentido modificado da própria passagem do Tempo. Especialmente, quando curiosos (como eu) procuram saber como é que o Tempo passa tão depressa.