sábado

Interpretação do mundo via blogosfera

Quantas e quantas vezes dou comigo a pensar que a blogosfera - alguma dela - já se superioriza - em termos qualitativos e até em termos quantitativos relativamente aos media tradicionais - na recolha, análise e exposição de informação (doméstica e internacional). É óbvio que os jornais e os jornalistas - da velha guarda - jamais o admitiriam: o capricho, o orgulho, alguma soberba e a vidinha dos dinheiros, do status e da posição social que alguns ocupam nessa pirâmide de caprichos e de poderes impedem-nos de o reconhecer. Em tempos chamamos aqui a esses actores da secretária-antiga os agentes ou jornalistas de poltrona - que têm muita tarimba e pouca formação. Felizmente, hoje, essa realidade já vai mudando em virtude da massificação do ensino universitário. O que também não é sinónimo de acréscimo de qualidade..

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Mas a blogosfera - alguma dela - (óbviamente!!) - continua a contribuir para alargar os horizontes, e é desse instrumento poderoso que aqui me reporto, o qual reflecte actualmente a entidade mais madura da Internet.

- Muitos blogers talvez ainda não tenham pensado nisto, porque utilizam os blogues para desabafar sobre os cortinados da cozinha, a queda na banheira do sobrinho, a eficiência do detergente ou mesmo da excelência das férias que passaram - e mais uns etcs ridículos - sem qualquer interesse público.
- Mas há gostos para tudo, e o respeito por esse ridículo também é aqui observado. Mas nós encaramos aqui a blogosfera - que até é gratuita para quem a lê (e nela intervém construindo mundos com sentido) - como uma tecnopsicologia que tece redes sociais e interacções intelectuais que formam a consciência de milhares de pessoas sobre todos os assuntos e em tempo real.
- Os blogues são, pois, essas conexões - potenciam essa inteligência conectiva criando espaços de reflexão partilhada a custo zero - e em relação aos quais os jornais e televisões vão buscar muita da informação que depois usam e abusam omitindo deliberadamente a fonte, ao bom estilo estalinista - violando todos os códigos deontológicos que eles juraram cumprir.
- Mas o mais importante da blogosfera talvez ainda esteja para vir, ou por definir, se bem que já se fale em Web semântica que, de par com os motores de busca (potenciados pelos blogues), poderão pensar por nós na busca de palavras e de conceitos que tentamos descobrir ou interpretar - e de que apenas só sabemos as palavras-chave que depois o Google ajuda a identificar.
- Portanto, entendemos aqui deixar este crédito a esta plataforma gratuita que é a blogosfera - ao serviço de todos a fim de que - pelo menos alguns - possam desenvolver essa tal inteligência conectiva no quadro das transformações sociais e políticas que o mundo atravessa.
- Mas é perante essa necessidade de interpretação complexa do nosso mundo hiper-real que nos deparamos com três tipos ou modos de interpretar o que nos rodeia:
  • 1) Uma interpretação do mundo como se ele fosse feito de melodramas e desgraças recorrentes ao estilo de Cassandra;
  • 2) Uma interpretação do mundo como se ele fosse visto pelas lentes do Dr. Pangloss do Cândido de Voltaire - que defende que o mal não integra o mundo nem sequer tem existência;
  • 3) E uma interpretação do mundo como se ele fosse narrado por aquele vendedor de seguros (ou agente bancário que quer é vender produtos financeiros (como quem vende tremoços) ao balcão prometendo o paraíso na terra e omitindo a informação principal), i.é, sem ter em linha de conta que as probabilidades de acontecerem factos desagradáveis podem existir.

- Julgo que se o analista tiver em linha de conta estas três possíveis leituras do mundo moderno poderá diminuir grandemente as zonas de incerteza que hoje continuam a tolher e a ofuscar a nossa análise. Tanto mais que os media têm um tempo de acção mais lento, logo - aparentemente - mais adequado ao relato dessa velocidade dos factos do mundo moderno. O problema é que a velocidade é já tanta que os media na ânsia de estar sempre na frente e de combater a concorrência (que pensa o mesmo) acerca da apreensão dos factos geradores de notícias - também não conseguem entender a tal complexidade dos fenómenos sociais, económicos e políticos do mundo do nosso tempo.

- O resultado de toda essa baralhação é o recurso a uma daquelas três leituras ou chaves de interpretação do mundo, se bem que - vezes há - em que aplicamos as três simultaneamente, ainda que não nos demos conta disso...

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  • Post dedicado aos bons blogers que analisam o mundo moderno com cabeça, tronco e membros. Neste role é óbvio que ficam de fora aqueles jornalistas receosos que pouco ou nada sabem o que fazer com a web, embora a usem desde 1995. Mas o mais triste, até por conveniência de argumento ligado à própria sobrevivência pessoal, é que os profissionais da informação acham que o blogging é uma actividade trivial e fazem tudo para o pôr de parte, ao estilo dum rumor ou dum boato... Talvez por essa razão é que nunca vi nos grandes media nacionais um bom artigo ou reflexão sobre a blogosfera de qualidade que já para aí vai dando cartas. O Jumento - como sabemos - é uma dessas referências democráticas da blogosfera - que além de muito abrangente e de tratar os assuntos com certo grau de profundidade (com humor e ironia à mistura) - observa também um código deontológico - que seria útil os próprios jornais respeitarem. Portanto, essas reflexões existem sim, mas provém de bloggers que sabem pensar o mundo contemporâneo, e alguns são tão bons quanto mais anónimos ficarem. Neste caso o anónimato visa não o ataque soez a pessoas e/ou a instituições, mas o apuramento da qualidade analítica no tratamento das matérias. Também aqui impera a lei da sobrevivência e ninguém gosta de perder, portanto a conduta institucionalizada dos tais agentes de poltrona - é uns omitirem os outros pensando, assim, que intelectualmente os "matam" ou neutralizam nessa roda dentada que é o viver até morrer. Ignorando esses chefes antigos de poltronas velhas que são pequenos demais para dar lições a quem quer que seja, muito menos a certos bloggers que há muito já rasgaram as sebentas por que aprenderam.