As guerras de civilizações
- Este tema foi abordado há anos pelo politólogo meio empertigado que, creio, já comeu biscoitos de chocolate na F. C. Gulbenkian a toque de cházinho da juventude para retardar o envelhecimento e a senelidade. A tese é conhecida e ofereceu alguma sedução à análise mundial que viu alí uma chave cognitiva para explicar tudo quanto fosse conflito inter-étnico.
- Para mim, a valia da tese foi equivalente à tese do Fim da História de Francis Fukyuama - quando sublinhou que para lá da democracia liberal pouco ou nada mais havia. Ambos, em parte, mostraram uma face oculta da história, apesar de ser quase intuitivo pensar nessa linha, apesar de partes de África, América do Sul e Ásia ainda colocarem barreiras aquela aproximação ao fim da história e à inclusão nos seus regimes e sistemas políticos da democracia pluralista e do rule of law. Afinal, o que isso da democracia se no seu próprio berço civilizacional esta está constantemente em risco, nem que seja pelo perigo dos populismos, da demagogia, nepotismo, corrupção, etc...
- - Vem isto a propósito do Editorial d'hoje do Jumento em que se equaciona quem, de facto, ganhou esta guerra entre Israel e o Hezzbola naquela conturbada região do Médio Oriente: rota de petróleo, rota das três religiões do livro e, acima de tudo, rota do mais bárbaro terrorismo internacional que - com a globalização dos capitais e do ódio, do conhecimento e das tecnologias da morte - passou a operar em rede e em tempo real.
- - Mesmo para os que se dizem agnósticos e ateus a fé, directa ou indirectamente, sob a forma de culto ou sob a capa de vested interest (meterial ou ideológico) - acaba sempre por influir nos destinos das pessoas, dos grupos, da sociedade organizada pelo Estado - que dirige os destinos colectivos.
- - E naquela ponta globo há décadas que a fé se foi, a lógica alí é de olho por olho, dente por dente... Haverá sempre ajustes de contas por saldar, sempre!!!É algo que transcende a própria política no sentido mais institucional e formal do conceito.
- - Há até uma pequena história que reflecte essa mesma falta de fé e talvez ajude a perceber alguns desatinos do homem do nosso tempo. Certa vez o papa reuniu os cardeais num concílio. E diz-lhes:
- - Tenho duas notícias da mais alta importância para vos dar.
Uma é boa, outra é má. A boa é que Deus me telefonou...
Os cardeais dão gritos de alegria e aplaudem. Quando se fez silêncio, o papa continuou:
- - A má é que ele telefonou de Meca...
O mesmo se passa hoje no quadro das relações internacionais, há muitos telefonemas cruzados e de pontos que assumem, pela própria natureza das coisas e dos lugares e dos povos e religiões, uma tal virulência que depois é difícil estabilizar no ponto-morto da paz a fim de pacificar os homens, as sociedades e os Estados.
- O Médio Oriente - tal como hoje existe será palco para uma carnificina recorrente na história do III milénio...
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