Os jornalistas não vivem numa ilha...
... Mas integrados num ambiente de constante evolução e transformação social, apanhados no turbilhão da revolução política cujas raízes remontam às transformações da sociedade e da economia das fases anteriores que, por sua vez, conduz à sociedade emergente. Nem sempre melhor. Mas é aí que se esbatem as diferenças de origem e estatuto social e cultural em democracia. É também aí que o crescimento económico é acelerado, as classes médias alargam-se e o País, no seu conjunto, sofre as pressões liberais, as aspirações de consumo (que arrancaram com o “cavaquismo”), as modas culturais e políticas vindas de todo o mundo ocidental, a par das frustrações vividas por largos estratos da população – que ansiou pelo erradicar de um regime político autoritário de tipo conservador (de Salazar), responsável pelo impasse da guerra colonial – e que depois originou o estado democrático em Portugal.
Ora, o jornalista quando recolhe informação e trata os acontecimentos, não pode alhear-se deste encadeamento de factos e de circunstâncias presentes na história política e social portuguesa. É com esta realidade histórica que os homens da informação têm de lidar quando tratam, do ponto de vista jornalístico, do que se passa nos partidos políticos (livres), nas autarquias (livres), nos parlamentos eleitos (democrática e livremente), enfim, do conjunto de realidades (como a liberdade de associação, de opinião e o mais) que estimulou uma nova mentalidade em Portugal.
valor específico. É isto que faz a grandeza do seu ofício, por vezes afrontando poderosos interesses económicos e financeiros (ocultos), mas que estão sempre lá, reclamando o poder e a decisão e os resultados favoráveis de ambos.
É para essa sensibilidade que se deve dirigir a capacidade de síntese e a imaginação sociológica do jornalista. Lembremo-nos do conflito israelo-palestiniano que confrontra o Estado de Israel com todo o mundo árabe, não deixando de fora dessa contenda os EUA, a Europa e as américas. Com efeito, todo o mundo olha para aquele secular conflito com lentes não só diferentes como contraditórias, desempenhando a informação um papel cimeiro na forma como cada uma das partes lê a informação disponível sobre aquele conflito regional-globalizado (ou globalizado que se regionalizou). - O jornalista do III milénio deverá ser alguém que além da tarimba conferida pela experiência, deve também ser portador duma sólida formação intelectual
e cultural: deve ter mundo. E é aí que ele se senta, à coca do turbilhão de informações, que lhes chegam pelos mais variados suportes infotecnológicos à velocidade da lux, que ele depois terá de filtar. Até porque o jornalista, à semelhança do cientista, do empresário ou do político pode, por vezes, decidir da direcção do mundo com a publicação de uma simples notícia que depois se pode converter num ensaio, num livro ou até numa referência mundial que outros seguem em busca dum mundo melhor, em busca da globalização feliz...
- Dedicamos este texto a todos os bons jornalistas portugueses pelo serviço público que têm assegurado a Portugal.




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