sexta-feira

Não havia nexexidade..

Nunca pensei que em Portugal as denúncias ao fisco incidissem sobre os artistas de humor. Eu aqui incluiria na lei um regime de excepção para os humoristas. Não tanto porque Herman me faça rir (já fez, agora dá-me é vontade de chorar!!) mas porque qualquer dia Portugal não tem um único artista que diga umas baboseiras neste País que também nasceu acidentalmente. Os "gatos fedorentos" são engraçados, mas nada há ali de permanente e duradouro. Hoje fazer humor também se tornou mais difícil e exigente. Exceptuando, claro está, as valentes cróniquetas que a revista Visão paga a Ricardo Araújo - autor do meu Pipi (para não perder leitores junto das camadas jovens) - seguidos dos igualmente profundos e salazarentos rituais do sr. doutor Adriano moreira (lido só pelas pessoas com mais de 70 anos). Um amigo diz-me que quando lê um não lê o outro. Na semana seguinte, alterna. É a melhor maneira de andar sempre altamente informado, diz. Depois complementa a leitura - com uma incursão à revista Caras e 24H... Assim, sem mais, uma a seguir à outra - num feliz retrato da nação revelando o gap geracional que desnuda a intimidade deste Portugal pai-avô. Não vou aqui dissertar sobre os convidados do seu programa, nem sobre o seu way of living nem a luxúria provinciana e almôndega que ostenta - no pior estilo de novo rico. Mas confesso que desejaria ver o homem que marcou a minha geração em termos de humor em Portugal a não cair no ridículo de forma tão deprimente e apressada. Do Herman gostaria de guardar a imagem do Tal Canal, Hermanias e de muitos outros programas e personagens excepcionais que eficazmente retrataram o Portugal contemporâneo. Mas, infelizmente a direcção dos seus últimos programas, os convidados e as intervenções (e nada disto remete para os impostos, pois com um Estado tributeiro como o nosso só quem não pode é que não foge ao fisco...) arrisca-se a terminar a sua descendente carreira como um tipo rico e piroso, ou melhor, pirosamente rico que se comporta como aqueles emigrantes que emigraram nos anos 60/70 e depois regressaram e construíram a vivenda à beira da estrada com o estabelecimento de café ou de electromésticos e/ou Ctt - no r/c. Herman espelha essa versão plebeia do pirosismo campestre da nossa fauna humana. E à medida que o tempo passa não se consegue corrigir, antes agrava o retrato que já dá de si, à semelhança do país. Aqui há empate. Ao mesmo tempo, o artista vai larvando um novo ADN: o da vaidade e da soberba, e as pessoas assim, por mais respeito que nos mereçam pelo seu trabalho passado, tornam-se demasiado egocêntricas. Por isso, quando fazem anos mandam os parabéns aos pais. Sinceramente, hó meus amigos não havia nexexidade...