quarta-feira

A magia do futebol

Em puto, já meio adolescente, pensei ser futebolista. Pela mão de Paco-Bandeira, que na altura frequentava a casa - nas imensas digressões que fazia por esse Portugal-profundo, cheguei ao Tony. E lá fui parar aos anexos do Estádio da Luz para mostrar os meus magros méritos, evidenciar as minhas singulares capacidades futebolísticas. Como eu estavam lá mais uns quantos. Tudo malta que vivia numa ilusão. Ser o "dono da bola".
O treinador tinha uma tarefa: dificultar-nos a vida ao máximo... Explico: os estreantes, onde me encontrava, agruparam-se entre si. Ao nosso encontro veio uma equipa já de malta madura que, pelos inícios da década de 80, já prometia. Alguns integraram depois o plantel da Luz, O Glorioso. Tinham o dobro do nosso tamanho, alguns o triplo do nosso peso. Então, a coisa começou. Mas que coisa??? Treino e mais treino. Carregar com aquelas bestinhas no nosso lombro; atravessar o estádio a fazer de burro de carga. Quase uma hora nesse suplício. Perguntei-me se não me teria enganado na morada, pois parecia-me mais que estava na estiva ou a descarregar contentores vindos do Ultramar. Só dizia: porra, não nasci para isto... Mais uns exercícios esgotantes e veio a partida entre pequenos e grandes, mais parecia o David contra Golias. Depois veio o jogo cujas regras impunham que se fizesse a troca de bola ao 1º passe. Resultado: como os estreantes estavam exaustos assim que passávamos a bola ao 1º toque caíamos para o lado. E assim foi a minha experiência no futebol, depois disso joguei como amador. Mas aquela experiência macaca ficou-me, alguns, mais iludidos, ficaram traumatizados e em vez de serem futebolistas passaram a caminhar para o divã do psicanalista. Mas aí não se joga à bola, aí só se estoura o que alguns ganham com a bola...
Mas acima do futebol está sempre uma lenda, um sonho que comanda as nossas vidas. Hoje vivemos nesse suspense, nessa magia, estamos despertos para essa paixão neste dia de "feriado". É mais uma festa pagã que ou se chora ou se vibra. Cada um de nós, irá agora entrar nas profundezas da nossa (in)consciência e construir o seu jogo, o jogo diferente daquele que vai ser verdadeiramente jogado no campo. Dependendo, naturalmente, da paixão de cada um. Por isso, hoje, agora, é tempo de fazermos a tal corrente psicológica para canalizar as energias positivas para dentro do campo, e permitir que dessas ondas positivas venham golos espectaculares neste Portugal preso pelo fio do futebol. E a forma como se vêm os dirigentes políticos subordinados a essas agendas até parece que o seu sucesso dependerá também da vitória da selecção Nacional. Espero que hoje possamos rematar bem na realidade. Até porque todo o sonho, toda a lenda, constitui um sistema. Cabe agora ao mito concretizar essa realidade. Portugal 3 México 1.