quarta-feira

Dia de futebol: mais um feriado a caçar ratos

O eficiente artigo de Vicente Jorge Silva abaixo postado e pub. no dn disse tudo, quase tudo sobre o Futebol. Contudo, se lá estão explicitadas algumas razões de natureza sociológica (comparada) que fazem do F. aquilo que ele é hoje - um negócio de massas unificado pela globalização dos media - há algumas outras razões - mais de natureza psicológica - que aqui sistematizarei. Até porque hoje é feriado, ninguém trabalha, mesmo aqueles que fingem gostar de F., entendem que também devem ter direito a ele. Porque nisto do F. há sempre muita inveja. Mas antes de me abalançar sobre os tópicos que racionalizam essas motivações e fazem com que as pessoas vibrem com o F., é útil fazer uma distinção prévia da velha sociologia alemã entre Comunidade e Sociedade (Gemenschaft e Gesellschaft) feita em tempos por Fernand Tonnies (finais do séc. XIX).
Ou seja, nas nossas sociedades existem dois níveis de estruturação: a Comunidade que une as pessoas em torno de elementos mitológicos e intangíveis ligando os homens numa comunidade, e é aqui que entra a História (e, por extensão o F.); e a Sociedade - que se resume ao business as usual - enquadrada pela trama de interesses económicos e de processos técnicos que ora associam ora opõem os homens entre si no seio da mesma sociedade. Aqui entra mais o dinheiro do que qualquer outro tipo de motivações nacionais. Embora a massificação do F. , a publicidade global, os milhões em torno dos passes dos jogadores, os interesses cruzados que envolve (sobretudo com a política, a construção civil e conexos) tenha esbatido substancialmente aquela distinção feita por F. Tonnies.
  • - Portanto, hoje - dia de oitavos de final entre Portugal e o México - opera-se mais uma catarse colectiva, mais um orgasmo em grupo: veremos se o é na sua plenitude ou mais uma ejaculação precoce das muitas que já temos vivido - até em matéria desportiva. Afinal, temos de ser bons em algo, e durante anos fomos bons no H. em patins. Esperemos que hoje não patinemos.
  • Vejamos, pois, algumas das razões que fazem do dia d'hoje uma tempo de fraternidade.
  • 1) Desde logo, um lugar comum: o F. é o ópio do povo - por contraponto ao Fórmula 1 - que é o dos ricos. Já para não falar do golf - que mais parece um desporto de aleijadinhos e de pessoas que já não têm força para jogar ténis - ssão depositados nos relvados dos campos de golf. É óbvio que os praticantes jamais o admitirão, até acham isto uma heresia, pois admiti-lo é maio caminho para reconhecer a sua senilidade, e isso as pessoas não fazem. Lembro-me do caso de j. sampaio. Mas há mais. Só que este teve a infeliz particularidade de estar 10 (eu disse 10 anos) a jogar golf em Belém, dando tacadas no vazio de Portugal. Depois de Santana ter chegado a PM temos defendido que sampaio em Belém foi o 3º acidente político em Portugal no pós-25 de Abril. O 1º - e sem querer brincar com coisas tristes, foi o acidente de Camarate que vitimou o então PM e de que hoje ainda nada se sabe. Enfim, é também um retrato da m.... da Justiça que temos.
  • 2) Depois as estatísticas deveriam informar qual o número de trabalhadores portugueses que vão trabalhar hoje. Uma coisa que, por exemplo, o sr. Vitor Constância poderia bem fazer, em vez de andar a elogiar gratuitamente este governo, todos os governos desde que o nomeiem - de tão sabujo que já se tornou. Chego à conclusão que a sua relação com a economia é exactamente igual à de outro economista - césar das Neves - com o lixo teologico que anda a escrever nas págs. do dn - que agora nos diz que o inferno tem apartamento de 2 ou mais assoalhadas no céu. O dn tem de se pôr a pau com os articulistas que contrata, porque assim ainda termina com mais baixos índices de leitura do que o jornal das Beiras.
  • 3) Por outro lado o F. permite a cada um de nós, sem distinção de raça, credo ou condição económica debitar opiniões sobre tudo e sobre nada. O F. permite-nos ser o tal treinador de bancada que dá asas à nossa imaginação e nos faz sentir reis por umas horas. É uma sensação de poder temporária que enriquece a nossa pulsão da vida. Não é por acaso que os guarda-redes têm sempre opiniões abalizadas.
  • 4) Depois no F. mais vale um presente ao juiz do que um avançado de raiz, embora ainda haja gente séria. E as massas associativas sabem sempre detectar essas (in)justiças - sempre em boa berraria por entre outras tantas injustiças e mais berrarias. Depois não se ganha para as pastilhas da garganta. Julgo que muitas dessas pessoas que vão para os estádios arrombar as faringes jamais fariam idêntico esforço vocal se se tratasse de chamar por um nadador-salvador na praia do Guincho a fim de salvar a mulher que se estava a afundar. Com o Marcelo também não pode contar, porque este só promove os livros dos amigos, mesmo que não valham um tostão.
  • 5) Há ainda uma outra razão que faz do F. um desporto surpreendente: há sempre um tontinho que faz uma aposta e quer ganhar uns cobres e decide invadir o campo e mostar o seu rabo, pénis e conexos. Não o faria no Irão, no Iraque ou em Cuba... Aí os ditadores trucidários no poder poriam fim a um circo que não encomendaram. No mundo livre - mas alienado - tudo se permite. Até charadas. Seria agora interessante, para mudar o disco, que a ideia da aposta partisse duma Senhora bem dotada. E digo-o por uma única razão: imagine-se que Portugal termina o 1º team a perder, ao intervalo - vendo aquelas imagens - sempre poderia levantar o moral e entrar a matar no 2º team e ganhar a partida. Sempre entendi que uma boa mulher faz milagres, nem que seja por uns momentos - sem qualquer ofensa à mulheres, pois os homens são, como se sabe, bem mais chatos e, regra geral, também nunca liquidam as apostas que perdem...

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6) No futebol, em rigor, todos os adeptos - que são aos milhões - são arquitectos e engenheiros civis que constroem as suas equipas com boas e sábias jogadas. Mesmo aquele que tem a 4ª classe incompleta sente-se um verdadeiro engenheiro civil ou arquitecto se estiver num estádio de F. O F. é, por estas e outras razões que só o coração e o desnorte das pessoas poderá compreender, esse desporto-rei. Essa terapia para as frustrações do quotidiano; essa possibilidade de soltar a língua e de verter as águas. Essa faculdade de calhandrar, como diriam as sopeiras de bairro - que os homens tanto imitam quando não falam de outra coisa, mulheres, por exemplo. Refiro-me aos heteros..., hoje cada vez em menor número. Mas não deve ser por causa do F.
  • O F. é, em suma, uma espécie de caça aos ratos, é o safari dos pobres. E como estes existem em grande número hoje vai tudo à bola. Por isso, hoje é feriado. Oxalá o resultado seja positivo e que levemos os ratos para casa...
  • Nota:
  • Não sabemos bem a quem dedicar este post, mas para não ser acusado de antipatriótico dediquemo-lo, pois, à História de Portugal. Que desta vitória resultem as maiores felicidades para a economia nacional: que o PIB cresça, as exportações também, Cavaco continue a elogiar Sócrates, este aquele, os empresários se transformem todos em Bill Gaitas e, já agora, que Portugal deixe de ser Portugal, mas o Silicone Valley da Europa. Ainda que sem a estatua da Liberdade que a França ofereceu à República Imperial, como lhe chamou R. Aron.
  • Eis a linha de ataque que o seleccionador nacional escolherá se as coisas correrem mal no 1º tempo. Se repararmos bem, neste caso uma mulher vale por três homens, todos bem posicionados. E com 9 avançados assim duvido que o México se aguente... O México ou qualquer outra selecção do Mundial. Aqui até eu grito: Força Portugal!!!
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