A independência do Montenegro
- Repescar Um Estado Parece feito. As primeiras projecções dão como certa a recriação do Montenegro. O referendo parece ter resultado numa margem suficiente para divorciar-se da Sérvia, depois da separação judicial já estar consumada, no respeitante a economia e governação interna. É caso para dizer que a Europa o dá, a Europa o tira. Foram as potências pujantes que favoreceram o estabelecimento do pequeno Reino, com um único Soberano, governante um tanto platónico, embora literato, que passava mais tempo em Monte Carlo. Continuaram a ser os restos das potências, agora esgotadas pela Guerra, que determinaram o disparate pegado da Jugoslávia, feita para recompensar a Sérvia e punir a Áustria, mas arrastando os montenegrinos para a boca de Belgrado. Hoje são as impotências que formam a UE que se tentam desmentir a evidente fraqueza e ainda se dão ao luxo de mudar o conceito de maioria para 55%, em ordem ao reconhecimento da secessão. A posição fede a esforços da França para fingir que ainda pode ditar alguma favorabilidade à Sérvia, que cegamente continua a incluir na sua esfera de influência, quando é mais do que certo que ali já só influi a Rússia, dadas as exigências de julgamentos internacionais de responsáveis da guerra. O Futuro a Deus pertence, mas temo que, neste caso, com usufruto do Diabo. Se a UE continuar na sua teima de se não aliar a Moscovo, para se autonomizar do Amigo Americano e resistir à ameaça chinesa, os pobres Balkans estão como mato seco para pasto das chamas: privados do acesso ao mar, vendo o seu ex-parceiro com uma economia modernizada e subsidiada e uma minoria sua apenas a nove pontos percentuais dos 43% de puros naturais da nova bandeira, a tentação será muito grande.
- Por Paulo Cunha Porto -
Adenda: com base em comentário posterior do autor do Calma Penada na sua mail-box: (...) Neste caso, a base da nacionalidade é difícil de determinar. Mesma religião, mesma língua, etnia diferenciada, apenas quarenta anos de independência histórica, quase paridade nas origens principais da população. Penso que grande parte da explicação da votação está na aspiração a viver melhor, com a adesão à UE e no sentimento que as amarras à Sérvia atrasariam a obtenção desse desiderato. Por uma vez, o discurso dos governantes parece corresponder à verdade.
- Macro-despacho: pergunte-se ao Paulo Cunha Porto se acha que os portugueses vivem melhor do que algum país da Europa já integrada, e se é expectável que o Montenegro daqui por breves anos nos ultrapassem nas estatísticas do desenvolvimento humano...
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