quarta-feira

A independência do Montenegro

Temos de seguir o guião da informação mundial: o disparo dos preços do ouro negro e a independência do Montenegro. Lembrei-me duma reflexão de Alain Minc, esse brilhante engenheiro de minas francês com uma poderosa vocação sociopolitológica. Há 15 anos falava na Vingança das Nações... - dizia ele que o drama Jugoslavo seria uma excepção ou uma antecipação. No 1º caso porque contemplaria uma solução não violenta para encarar o seu destino político enterrado que foram os anos trágicos do comunismo, essas mistura de ópio, crendice e electricidade; antecipação - naquela conturbada zona dos balkans, onde o tricot político impera a todo o momento - e em que entaladao entre a Bulgária e a Grécia, entre a Hungria e a Roménia à propos de la Transylvanie... Enfim, um ninho de lacraus numa encubadora de bébes sem o enfermeiro por perto. Na 2ª feira o referendo foi expressivo e agora esperemos não acolher na Sociedade internacional mais um caso lamentável semelhante a Timor-Leste - que aree viver uma situação de pré-guerra civil. Mas abaixo poderá ler-se uma sistematização muito eficiente do nosso amigo Paulo Cunha Porto - autor do Misantropo Enjaulado mas que agora também assumiu a paternidade de um outro blog - CalmaPenada - que não se lhe fica atrás e, por isso, merece ser lido com atenção atenção e meditado com tempo como, porventura, diria o Marcelo (se tivesse um blog, e às vezes tanta falta lhe faria, evitaria muitos dislates). Ora vejam...
  • Repescar Um Estado Parece feito. As primeiras projecções dão como certa a recriação do Montenegro. O referendo parece ter resultado numa margem suficiente para divorciar-se da Sérvia, depois da separação judicial já estar consumada, no respeitante a economia e governação interna. É caso para dizer que a Europa o dá, a Europa o tira. Foram as potências pujantes que favoreceram o estabelecimento do pequeno Reino, com um único Soberano, governante um tanto platónico, embora literato, que passava mais tempo em Monte Carlo. Continuaram a ser os restos das potências, agora esgotadas pela Guerra, que determinaram o disparate pegado da Jugoslávia, feita para recompensar a Sérvia e punir a Áustria, mas arrastando os montenegrinos para a boca de Belgrado. Hoje são as impotências que formam a UE que se tentam desmentir a evidente fraqueza e ainda se dão ao luxo de mudar o conceito de maioria para 55%, em ordem ao reconhecimento da secessão. A posição fede a esforços da França para fingir que ainda pode ditar alguma favorabilidade à Sérvia, que cegamente continua a incluir na sua esfera de influência, quando é mais do que certo que ali já só influi a Rússia, dadas as exigências de julgamentos internacionais de responsáveis da guerra. O Futuro a Deus pertence, mas temo que, neste caso, com usufruto do Diabo. Se a UE continuar na sua teima de se não aliar a Moscovo, para se autonomizar do Amigo Americano e resistir à ameaça chinesa, os pobres Balkans estão como mato seco para pasto das chamas: privados do acesso ao mar, vendo o seu ex-parceiro com uma economia modernizada e subsidiada e uma minoria sua apenas a nove pontos percentuais dos 43% de puros naturais da nova bandeira, a tentação será muito grande.

Adenda: com base em comentário posterior do autor do Calma Penada na sua mail-box: (...) Neste caso, a base da nacionalidade é difícil de determinar. Mesma religião, mesma língua, etnia diferenciada, apenas quarenta anos de independência histórica, quase paridade nas origens principais da população. Penso que grande parte da explicação da votação está na aspiração a viver melhor, com a adesão à UE e no sentimento que as amarras à Sérvia atrasariam a obtenção desse desiderato. Por uma vez, o discurso dos governantes parece corresponder à verdade.

  • Macro-despacho: pergunte-se ao Paulo Cunha Porto se acha que os portugueses vivem melhor do que algum país da Europa já integrada, e se é expectável que o Montenegro daqui por breves anos nos ultrapassem nas estatísticas do desenvolvimento humano...