quinta-feira

António Botto - poeta (amante) do estético e do belo

António Botto viveu aqui nesta casa em Concavada, no concelho de Abrantes. Foi considerado um "poeta maldito" pelos suas opções e orientações sexuais que teve a coragem de assumir. Alguém que hoje seria um ícone para o Bloco de Esquerda e para a diversidade do género humano, mas o ponto não esse. O essencial foi o que ele nos legou a todos, e isso está bem documentado no estudo crítico que Fernando Pessoa lhe fez que serviu de entrada, aliás, ao estudo da sua Obra: As Canções. Cá vai (uma das suas) lições criadoras: - O mais importante na vida É ser-se criador - criar beleza. - Para isso, É necessário pressenti-la Aonde os nossos olhos não a virem. Eu creio que sonhar o impossível É como que ouvir a voz de alguma coisa Que pede existência e que nos chama de longe. Sim, o mais importante na vida É ser-se criador. E para o impossível Só devemos caminhar de olhos fechados Como a fé e como o amor
  • As Canções, pág. 47.
- Em Botto tudo era uma rara perfeição, altamente intelectual, revelando-o o estudo da forma e do ritmo, a escolha dos momentos representativos dos seus poemas. Mas, ao mesmo tempo, e seguindo o que dele diz Fernando Pessoa, tudo é pensado, crítico e consciente. Não há ali metafísica alguma, interesse pelas ideias como tais. Botto é uma inteligência que dirige, mas não pensa, que compreende, porém não aprofunda. Duas ideias centrais governam a inspiração deste poeta, meu conterrâneo: a beleza física e o prazer. - Tudo quanto fosse beleza física - a graça, a força e a perfeição, o corpo feminino tem só a primeira, porque não pode ter a beleza da força sem quebra da sua feminilidade, i.é, sem perda do seu carácter próprio; o corpo masculino, em seu entender, pode, sem quebra da sua masculinidade, reunir a graça e a força; a perfeição só aos corpos dos deuses, se existem, é dado tê-la. Botto era assim uma raridade, tanto mais que há meio século as mentalidades eram bastante mais resistentes à diferença do que hoje. Botto foi o exemplo desse esteta perfeito raro na nossa civilização cristã. É claro que, pelas opções sexuais supraferidas e que o poeta assumiu (e pagou bem caro - votado que foi ao esquecimento!!! e Pessoa - também não o foi em vida?), espelhada, naturalmente, na sua produção poética, representou também esse desvio equilibrado a que outros chamaram génio quando sintético, talento quando analítico. As Canções de António Botto eram a demonstração clara do seu talento, servindo até de referência para literatura europeia. Por isso lhe dedicamos esta simples referência evocativa, para que não morra nem o seu exemplo nem o seu génio e talento. - E como guardo o cartão/dedicatória posta no livro - As Canções - oferecido por Isabel Pontes Botto (sua sobrinha-neta) ao senhor meu Pai - também abuso da genealidade, tolerância e grandeza do Poeta e estendo a evocação ao meu Q. Pai - que partiu em 2000 - e a cujos esforços se deve a inauguração pública daquela estátuta em homenagem ao Poeta, em 1982, em Concavada. - E, já agora, se a magnânimidade do poeta me permite, dedicar - através dele - esta seiva criativa a todos os "artistas" que diáriamente fazem a blogosfera em Portugal - e que não andam a fazer comentários torpes, nem pishings, nem ciber-crimes, nem comem criancinhas de 10 anos ao pequeno-almoço, entre outras "pacheciques" arrogantes e soberbas de quem todos os dias se olha ao espelho e, por não gostar daquilo que vê - declara guerra ao mundo. Razão por que este blog também é dedicado às pessoas de bem que enriquecem a informação, a opinião, a análise, o comentário e a reflexão em Portugal através da blogosfera.