quarta-feira

O (meu) herói contemporâneo: o sacerdote-economista

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  • Perscrutando a actual paisagem e fauna política lusa confesso não identificar tema de reflexão que me legitime junto do leitor. Ante esse deserto de ideias, factos, valores, planos ou homens com visão em Portugal (e os que existem são silenciados), sou obrigado a visitar o baú da história e biografar, na medida do possível, um homem cuja vida espelha o (meu) modelo do herói contemporâneo: o Pre. Francesco Van Der Hoff. Um sacerdote holandês que prometeu mudar a cotação do café com base no comércio justo junto duma comunidade de agricultores no México. Sob a aparência de um empresário emergiu um missionário que é, hoje, a luz (e o pão) para milhares de famílias que passaram a viver melhor na fronteira de Chiapas.
  • Mas qual é a motivação de um sacerdote europeu que lia o El País em zarpar rumo ao Pacífico levando apenas um telemóvel e um PC? Doutorado em teologia Hoff também sabe de economia. E foi com essas ferramentas que tem (desde a década de 80 do séc. XX) melhorado as condições de vida da população indígena, na sua maioria produtores de café. A ideia-mestra consistia em dar forma ao comércio justo. Para o efeito, havia que consciencializar (para transformar) a comunidade internacional para o facto de que os países ricos podiam ajudar os países pobres ficando todos a ganhar. Desde que, naturalmente, a base dessa troca fosse garantida por uma remuneração mais justa.

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  • Conquistada a confiança dos camponeses locais – uma vez que Der Hoff passara a viver no meio deles (como fez Agostinho da Silva quando foi para o Brasil) estava percorrido metade do caminho. Um caminho tortuoso, repleto de espinhos que causavam o sofrimento a milhares de índios-agricultores explorados. O sacerdote compreendera que em vez das tradicionais ajudas ao desenvolvimento, disfarçadas de caridade que fizeram carreira ao tempo de Willy Brandt, seria mais eficiente (e mais justo) conseguir duas coisas: 1) fazer com que o Norte remunerasse melhor o preço do café pago aos agricultores do sul; 2) e que estes, em conformidade, cuidassem da sua qualidade. E assim Hoff conseguiu aproximar as posições negociais dos índios do Sul com as posições dos aristocratas do risco representado pelos homens de negócios do Norte de molde a encontrar uma remuneração mais justa.

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  • À melhor qualidade do grão castanho seguiu-se a exploração da agricultura biológica. O resultado desse comércio justo viabilizou cooperativas fazendo com que os índios passassem a gozar de crédito junto do mercado. Foi essa alteração qualitativa que permitiu às comunidades locais financiarem os seus próprios projectos de desenvolvimento, dantes impensáveis. E assim nasceram estradas, hospitais e escolas que passaram a ser utilizads por todos.
  • Volvidas duas décadas o balanço é francamente positivo. A economia serviu apenas de guia para valorizar pessoas. E através da organização holandesa de comércio justo (Max Havelaar) as bases dessa estrutura alargaram-se substancialmente, com a duplicação dos rendimentos dos índios mexicanos.
  • Provavelmente, nunca um sacerdote foi tanta vez convidado para participar em fora políticos – na ONU, na Europa onde teve oportunidade de expor as suas teorias económicas que podem integrar um futuro Prémio Nobel da Economia. Eis um exemplo que escapa à rotina dos padrões de avaliação ocidentais; eis a vida de um sacerdote “armado” com as 3 armas do desenvolvimento: o conhecimento, um telemóvel e um portátil. Sempre conectado à rede – este ciber-missionário consulta on line as cotações dos preços do café de modo a garantir que os agricultores (semi-letrados) não fiquem penalizados no acesso à gestão da informação.

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  • Em suma: este enviado de Deus aproveita os dispositivos da globalização para ajudar os mais pobres. Percebe que as ideias são mais importantes que as armas. As ideias produzem sonhos que transformam a realidade. Rejeita a rota antiglobalizadora que destroi Macdonald’s ao estilo bárbaro do sr. de bigodes farfalhudos - de José Bové - que não aproveita ninguém. Quando se olha para a fauna política lusa dificilmente se encontra espécie que seja simultaneamente competente e solidário: o filósofo Agostinho da Silva era-o; o sociólogo Acácio Ferreira Catarino também; Hoff, que é um sacerdote-economista e um nobel em potência, é uma luz desse caminho. E quando se espreita a escuridão do governo da nação, o leitor sabe...

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