domingo

Despitar a ilusão política

Image Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.usAnalisamos abaixo - na Teoria dos efeitos perversos - um epifenómeno que mostra como os nossos pequenos vícios, ódios de estimação, rancores e recalcamentos informam as nossas ideologias e maneiras de ser e de pensar o facto político. Dentro e fora do burgo, em contexto presidencial ou noutro qualquer contexto político que mexe sempre com a cosmovisão que temos num dado momento da história e da conjuntura.
O comentário que evoquei sobre os intensos e repetitivos posts do jumento, mormente a sua imaginação, sobre Cavaco são um mero epifenómeno dum fenómeno maior que aqui daremos conta; o mesmo, talvez, se poderia dizer dos meus posts sobre Soares - atendendo à putativa simetria de indiferença e de entendimento precário do que cada um dos candidatos valerá para cada um de nós, cidadãos da blogosfera empenhados em apresentar e discutir algumas ideias, estratégias, táticas e outras derivas que condicionam a gestão da coisa pública.
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Ou seja, uns - como eu - acham que Soares é um tremendo equívoco nestas eleições; outros atribuem essa "qualidade" a Cavaco, a Jerónimo, a Alegre, a Louçã e o mais - incluindo neste "mais" o advogado dos pobres - Garcia Pereira - que é uma espécie de Robin dos Pobres mais capitalista que conheço, com barco atracado nas docas de Belém e tudo o mais, sacando à plebe cerca de 150 euros por consulta jurídica. É assim Garcia Pereira, não brinca em serviço, nem com os mais pobres, apesar dele ter desenvolvido a arte de se fazer passar por um homem verdadeiramente empenhado nos problemas dos mais desfavorecidos. Nem hoje o Pre. Américo, se fosse vivo, acreditaria nesse advogado especializado em questões de trabalho.. Talvez Durão Barroso - como pertence(u) à mesma filiação partidária poderá ter crença ou fé na amabilidade de Garcia e nos seus projectos para Belém..
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Mas antes de irmos ao núcleo da questão cumpre anotar, primeiro, que a política invadiu a nossa vida quotidiana, porque os nossos destinos pessoais estão cada vez mais na dependência do Estado e das empresas multinacionais, ou seja, da política e da alta economia internacional - e do entendimento entre ambas em cada uma das sociedades. A política conduz-nos por ondas de atracção e de retracção relativamente às políticas e, especialmente, aos candidatos que as representam, já que as políticas têm necessáriamente de ter um rosto, uma imagem, representar, alguém ou algo... Image Hosted by ImageShack.us E assim fomos "politificando" objectiva e subjectivamente o corpo político em Portugal e um pouco por todo o mundo. É natural que o operário rejeite liminarmente Cavaco; um advogado ou um médico (ou outra profissão liberal) exclua o seu voto em Jerónimo e assim por diante. É certo que estas classificações não são rígidos, mas ainda é muito plausível que um funcionário público - da alta e média administração - deteste Cavaco pelas medidas que este tomou no passado aquando PM.
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Tornar o dia de carnaval um dia de trabalho e não, como seria suposto, um momento de lazer e de férias é, mais do que justificadamente, uma razão para que muitos funcionários públicos, e refiro-me aos escalões superiores da AP, o ficassem a odiar para todo o sempre. Alguns reduzem até toda a sua energia intelectual para o mostrar criticando Cavaco - de forma a exercerem a sua pequena vingança por aquele dia de carnaval falhado. Image Hosted by ImageShack.us A vingança serve-se fria, e, hoje, muito homens da AP que já ganharam o gosto pela blogosfera e até passam 2/3 do seu tempo a conjecturar blogs - mesmo em tempo de serviço - para irem alimentando o seu site, denunciam essa sua faceta mesquinha e vingativa acerca do modo como concebem a política. Quer isto dizer que os sentimentos estão quase sempre à frente da razão, de tal modo que inventam uma cadeia de argumentos que os convence de que têm a história na mão - e que os candidatos que nunca penalizaram a sua classe socioprofissional é que são uns tipos às direitas capazes de presidir aos destinos do país.
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O Estado tornou-se, pois, o quadro adentro do qual estas guerrinhas se travam e se resolvem, como se dessas opções paroquiais decorresem as verdadeiras soluções para a organização da nossa vida económica e social - que hoje parece estar fechada à influência dos agentes políticos e só se deixa temperar pelas forças e pelos agentes dos mercados. Quem hoje pensa que os preços, os salários, a riqueza, o emprego, a habitação, a educação, a saúde, o ambiente etc, são factores que dependem de Cavaco, Soares. Alegre, Louçã e doutros políticos comete um tremendo erro de civilização. Eles poderão ajudam, mas já não são os actores e os agentes determinantes do processo nem da dinâmica histórica. Mas isto prova como a política (macro) se insinua nas nossas existências, a todos os níveis, por via administrativa, e através de inúmeros actos das autoridades públicas que ritmam (e entopem) o sentido da nossa existência. Não surpreende, portanto, que o tal fenómeno da "politificação" que falámos acima - e de que nós aqui no macroscopio, porventura - acabamos por ser objecto e até vítimas. Pois pensamos duma forma e não doutra; valorizamos uns candidatos e criticamos outros; qualificamos uns e desqualificamos outros; por vezes injustamente, porque partimos de premissas e postulados errados; se fôr necessário até pomos Soares a saber de economia e finanças só para demonstrar que o cargo de PR não carece nem duma coisa nem doutra. Também não é preciso saber de leis e da sua interpretação, porque na retaguarda de Soares estarão sempre os génios do normativo - Vital e Canotilho - o que reflecte a postura mais provinciana que é possível ter a este nível em Portugal.
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Portanto, as palavras, os argumentos e os argumentários servem literalmente para tudo; desde que o "artista" tenha essa tecnhé - que é hoje potenciada pelos artefactos que as TIC nos proporcionam a todos e as fotomontagens são disso eficiente ilustração - de inclusão ou de exclusão política. A blogosfera é, hoje, o mais poderoso veículo desse jogo de espelhos entre candidatos e estratégias políticas, espaço de luta pelo poder, esfera de relação de amigo-inimigo da política na dobra do milénio. Só que alguns são demasiados facciosos, parciais, injustos e esquecem propositadamente certos aspectos da história para poderem evidenciar outros e, assim, fazerem brilhar os seus falaciosos argumentos de lana caprina. E não é necessário ser doutor, mestre ou sequer licenciado para perceber isso na blogosfera. Basta ter algum bom senso e dois dedos de testa e algum conhecimento da política e da história moderna e contemporânea e alguma memória, mesmo que não se veja o Marcelo aos Domingos ou o Vitorino às segundas, por se tratarem já de elementos comunicacionais demasiado previsíveis e conotados políticamente. Turvam mais que esclarecem, e quando esclarecem já a verdade objecto de análise se desactualizou, donde o seu papel ser diminuto senão mesmo marginal. Image Hosted by ImageShack.us Daqui decorre que esta politificação tem consequências psicológicas em todos nós. O Estado, a sua captura - como é hoje manifesto com as eleições para a PR - tornou-se uma ideia fixa em muitos de nós, pelos piores e melhores motivos. Equacionarmos toda esta trama - que nos empurra para o abismo mas também para patamares de maior lucidez - permite-nos compreender o ardil em que muitos de nós, porventura inconscientemente, caem nos seus blogs. Ou seja, a nossa época procura justificar que o bem do Estado corresponde ao bem pessoal de cada um de nós, e dessa equivalência resultará o soberano bem. Logo, aqueles que apoiam Soares para Belém parecem estar firmemente convencidos que isso representa um bem para as suas vidas pessoais; o mesmo se diga dos apoiantes de apoiam Cavaco, Alegre, Louçã e o mais. Isto permite-nos concluir para o ponto, porventura, mais interessante desta reflexão e a que todos os bloguers deveriam prestar alguma atenção ou meditação. Dito isto, todos os canais políticos e da acção pública sofrem desvios de autenticidade, e quando chegam até nós já vêm adulterados e com isso limitam a análise mais rigorosa e objectiva que a todos os momentos se impõe. É, portanto, este efeito de adulteração dos factos e das motivações que geram a ilusão política que, por sua vez, conduz à alienação política que faz com que em Portugal - no III milénio - muito boa gente não vote em Cavaco Silva porque ele chumbou o tal dia de carnaval e promoveu ou consentiu no seu decanato que se promovessem homens como Dias Loureiro que sempre casaram bem os interesses políticos com os da banca, e isso é uma tremenda imoralidade política que pode potenciar mecanismos ocultos de corrupção e nepotismo em Portugal - que há que evitar a todo o custo. Assim, Cavaco - que não é nenhum génio - pode ser metido no mesmo "saco" e perder algumas centenas de milhar de votos só porque não impediu certas aleivosias e pecados capitais durante o seu mandato de 10 anos à frente do governo - até 1995. E certamente que Dias loureiro padeceu dessa soberba no final do 2º mandato de Cavaco, e os acidentes da Ponte 25 de Abril ilustraram-na; o caso dos hemofílicos foram a estocada final do cavaquismo, no caso de Leonor Beleza.
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O que procuro sublinhar, em suma, é o seguinte: temos de denunciar, começando por mim próprio, para dar o exemplo, esta nova alienação que faz de cada um de nós um veículo de ideias feitas que nem sempre são verdadeiras ou plausíveis; e seja qual for a nossa opinião política a postura que cada um de nós deve desenvolver - do ponto de vista analítico e da verdade política - dever ir mais fundo do que a miséria da ideologia que temos na cabeça, a qual serve apenas de cobertura a um ódio, a um rancor anti-carnavalesco recalcado durante anos, a um traço de personalidade mais autoritária, ou que for - que nos influencie de forma encaputada e medíocre. Basta dizer que mais de metade dos blogues hoje criados na blogosfera em Portugal são revestidos de coberturas. Dizem que permite mais liberdade, também menos responsabilidade, melhores narrativas, maior soltura mental e verbal e mais uma catrafada de mentiras compulsivas que - algumas - têm tratamento no divã do psicoterapeuta. Mas isto é elucidativo em Portugal, esta gente prefere esconder a sua própria identidade matricial - única coisa verdadeiramente sua - e revestir-se da pele de uns animais giros através dos quais depois debitam toda a sua inteligência e talento e também verborreia, naturalmente. Também por aqui se vê que Portugal está doente, e a doença é tanto mais grave quanto depois o bloger se convence a si próprio de que a sua verdadeira identidade não é a matricial (como o poeta) - que ele sempre ocultou - mas a cobertura que ele escolheu para o representar. Para estes casos o que vale é a máscara, a dissimulação, o anonimato. Fazer isto uns dias, umas semanas - é aceitável, até é giro, perdurar nestes heterónimos esquizofrénicos só pode sinalizar sintoma de um mal maior, que já nem os próprios sonham que sabem. Confesso que tento aqui não cometer esses erros de personalidade e de carácter, mas julgo que só o facto de ter despertado para essa "ilusão política" - que deve circunscrever o papel fragmentário da ideologia - é já um sinal positivo de participação na sociedade, da nossa sociedade - sans rancunes nem "carnavais"... Que só toldam a visão lúcida da política.
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Ah, e faço-o sem falsas identidades - neste Portugal de falsas coberturas meio promíscuas meio disfarçadas - como se a verdade política e analítica se apurassem mais por serem tributárias de uma ou de outra. Não é!! E permanecer nesses vested interests à portuguesa só pode agravar o clima de suspeição geral que gangrena já a sociedade e, agora, a avaliar por aquela estatística anónima da blogosfera - ameaça poluir este novo espaço de análise e de reflexão - que esperemos seja mais autêntico e menos cínico e hipócrita. É que a ilusão política também se alimenta desses vícios que aqui tentamos combater...