quarta-feira

Matrix...

  • Dedicamos este blog ao Nuno Santos e à Alexandra
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MATRIX À PORTUGUESA
  • Um dia, tudo isso estará bem, eis a nossa esperança: Hoje, tudo está bem, eis a nossa ilusão. Eis as palavras do poema de Voltaire sobre o terramoto de Lisboa em 1756. No início do ano referimos aqui a importância da Rocha Tarpeia por causa do escândalo da Casa Pia. Hoje, por causa do sucesso e da queda súbita da honra das pessoas, regressamos ao tema, independentemente das personalidades envolvidas nesse drama humano, qui ça epifenómeno duma tragédia maior em tons de cinzento carregado.
  • É irrelevante personalizar os passos que conduziram à detenção do ex-embaixador e do deputado, de todos conhecido pela voragem das imagens e vertigem das pulsões. Nem interessa correlacionar tais factos com a respectiva prisão preventiva de ambos ou as escutas telefónicas que dominaram o caso da alegada rede pedófila.
  • É um assunto para a justiça tratar em nome do bem comum. E quanto mais rápido e melhor as instâncias judiciais apurarem toda a verdade, menos serão as possibilidades de alguma opinião pública (e publicada) se comportar como uns carrascos medievais. O tempo da justiça é lento; o das imagens é rápido. Aquele deve ser ponderado, este é voraz.
  • Dito isto, convém alargar a malha analítica e situar duas cosmovisões que ajudam a explicar a estrutura do pecado nas sociedades contemporâneas. Uma decorre do esquecimento de Deus pelo homem daí resultando um mal terrível para a humanidade; a outra remete para um simbolismo extremado em toda a coexistência perversa do homem na sua relação entre o real e o virtual. Aquela representa o passado e o que há de (mais) eterno no homem; esta remete-nos para o futuro dos efeitos visuais e da tridimensionalidade do universo matrix e do pecado face à mais primitiva invenção das culturas humanas: o amor.
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  • Vejamos os efeitos de uma e outra. O egoísmo não larga o homem, antes potencia a tentação perturbadora da ordem de valores misturando o bem e o mal. Depois, a busca de prazeres (perversos) alicia o homem para um conjunto de sensações a experimentar, tal como de uma obra se tratasse. Em 3º lugar, o homem (já) descontrolado, cai no relativismo moral que o deixa desgovernado e sem critérios na auto-estrada dos valores que era suposto observar consigo próprio. Todos estes aspectos estão ligados. Falhada a referência humana, todo o edifício de valores cai. Daí o mundo de hoje ser, simultaneamente, poderoso e débil, capaz do melhor e do pior. Baralhado neste dualismo, o ser humano perdeu o rumo e entrou nas profundezas do pecado.
  • Nesta dimensão de “Matrix” à portuguesa, há uma fusão visionária entre acção e drama e uma história intrincada cheia de pormenores capazes de dar dimensão psicológica às personagens. É o admirável mundo novo que ali se apresenta, recordando os desenhos animados, as artes marciais mas também a religião, a mitologia, a filosofia (zen) misturadas com a ficção científica. Tudo nos empurra para o outro lado do espelho, multiplicando simulacros e alienações neste jogo do gato e do rato.
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  • Porquê “Matrix Reloaded”? Ou mesmo “Matrix Revolutions” (dos irmãos Wachowski) para descrever o horror que poderá estar à nossa espera - caso a justiça não se faça ou a tecnologia seja mal utilizada! Tal como no filme, as imagens e os vírus portugueses têm feito xeque-mate à condição humana, abalando os fundamentos da própria civilização. Da TV à política, das artes à diplomacia. Daí o paralelismo e a ironia contagiante do processo a que estamos sujeitos.
  • A sequência de acontecimentos sobre os alegados casos de pedofilia em Portugal, tal como a de alguns cromossomas cujos genes são maliciosos e de múltiplas personalidades, definem um padrão visual grave. Como uma lei matrix, a imagem já não pode ser ameaçada por nenhum vírus porque, em rigor, ela passou a existir como vírus que vive em regime de autofagia, porventura fragmentando-se até ao infinito, como a desmultiplicação do agente Smith (Hugo Weaving).
  • A Justiça portuguesa precisa reparar injustiças acumuladas; carece de um Neo (Keanu Reeves) que optou por tomar o comprimido vermelho na Matrix, aceitando-se a si como o “escolhido”. Mas essa opção trouxe-lhe uma responsabilidade acrescida: não desapontar Morpheus (Laurence Fishburne) que acredita que o seu destino é acabar com a guerra contra as máquinas. Que é como quem diz: a justiça portuguesa, com ou sem oráculo, deve seguir as dúvidas de Neo para salvar Trinity (Carrie Moss) e a sua capacidade de proteger Zion, última povoação humana na Terra…
  • Este texto foi publicado na imprensa há cerca de 2 anos, e é agora extraído do nosso livro - Em Busca da Globalização Feliz - Análise e Reflexão Política, Hugin, 2005, págs. 209-211
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