Magnanimidade
O Bom Governo - Magnanimidade
Tudo o que o homem faz tem de o fazer primeiro no seu espírito, e o mecanismo subjacente ao espírito é o cérebro. Não pode haver acção sem um mecanismo subjacente, não pode haver Marx sem Hegel. Ideia e realidade são, pois, duas faces da mesma moeda.
Por essa razão Cavaco jamais poderia tocar flauta; Soares nunca poderia saber fazer contas, ainda que primárias; uma vaca nunca poderia chocar ovos, por muito que o tentasse; um burro nunca poderia ser veloz, mesmo que inteligente; um gramofone nunca poderia escrever uma carta; nem uma máquina de escrever poderia tocar musica celestial para os nossos ouvidos, que é o que nos aguarda agora no contexto eleitoral das presidenciais.
Isto significa - que o homem adquiriu o cérebro, essa ferramenta feita de massa semi-sólida que ainda é mais temível que as garras ou os chifres de um predador da selva. O homem tem, de facto, a supremacia sobre tudo. O problema é que a natureza não desenvolveu o cérebro do homem com o objectivo de buscar a verdade, mas sim de procurar alimentos, segurança e abrigo. O cérebro apresenta-se assim como um órgão de sobrevivência, motorizado com o fito de atender aquelas necessidades básicas, ao desejo e a outras satisfações humanas.
Todo o nosso cérebro, ou melhor, o sistema nervoso se desenvolveu com um único propósito: manter as nossas vidas e satisfazer os nossos desejos. Todos os nossos reflexos servem esse objectivo, facto esse que nos torna completamente egoístas. Soares na esfera política é o paradigma negativo dessa asserção. Com raras excepções, as pessoas só estão realmente interessadas numa coisa: nelas próprias. E o exemplo de Soares, que aqui tem valor completamente marginal (aqui e noutros sítios), serve só para enunciar essa necessidade biológica de que toda a pessoa se julga o seu próprio universo. On que é mau, muito mau...
Em parte, todos somos um pouco assim. Mas há criaturas que desconhecem esses limites. É aí que se gera o chamado efeito-Soares, denunciando uma andropausa retardada. O problema é que desde o séx. XIX - em que Soares ainda vegeta - o mundo mudou, embora continuemos todos dispostos a sacrificar interesses vitais mais remotos como contrapartidas de algumas vantagens mais imediatas.
Vejamos um exemplo que, entre outras coisas, serve bem para explicar a mediocridade moral, intelectual e até pessoal do nobel da literatura portuguesa que em 1998 - ante um júri embriagado - recebeu o dito Prémio.
Para este efeito temos de evocar outro nobilizado, desta feita um cientista à séria e não um marceneiro da palavra que saca umas frases da Bíblia, tece uns enredos, monta uns fantasmas, cria umas ilusões e depois pede à editora Caminho que lhe venda os livros. E os leitores alienados - julgando que estão a comprar o passaporte para o paraíso - lá vão ser esbulhados perante os múltiplos pelágios que Zaramago lá vai fazendo à Bíblia - que parece servir-lhe de inspiração. O resto, já se sabe, são umas invenções imberbes - do morre-e-do-faz-que-vive eternamente... Enfim, uma charada. Mas a turba gosta e compra, e depois levam os livros debaixo do braços, como os franceses fazem com as baguetes - e as esplanadas acolhem tudo, talvez a fim de mostrar às árvores que são pessoas cultas e que também conseguem ler textos despontuados orientados por uma mediania que poderemos considerar razoável.
E ao evocar esse outro Prémio Nobel - Albert Szent-Gyorgyi - constatámos que a 1ª coisa que ele fez - na sequência de ter recebido o valor do Prémio - foi investir. Como? Comprando acções. Como se estava na década de 40 do séc. XX - ainda nas vésperas de II Guerra Mundial - a guerra estava iminente e o dito nobel temia vir a desejar a guerra se possuísse acções que subissem no caso de ela deflagrar.
Vai daí, o dito nobel pediu ao seu corrector o seguinte: que comprasse acções cujo valor baixasse em caso de guerra. E assim fez este Prémio Nobel: perdeu o dinheiro mas salvou a alma.
- Albert Szent-Gyorgyi
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