O futuro-pretérito de Portugal. As presidenciais vistas de helicóptero
A análise política aerotransportada será uma nova secção a integrar nos curricula dos cursos de Ciência Política e Relalões Internacionais. Se e quando as pessoas desistirem nos respectivos cursos - por ausência de perspectivas de emprego - sempre poderão acabar as vidas como instructores de salto aéreo... Parece que Durão Barroso já se candidatou. E Lopes, o Santana, já é monitor há uns meses, mas pela calada da noite...
- Análise e reflexão política aerotransportada. By heli...
- Eu é que sou o "Presidiente", ouviram?! Eu é que sou! Bom, vamos lá ver se não nos chateamos. Bem...
- I' am Freitas. Diogo for friends. I use to be the ancien presidente de l' Assemblée Generale des Nations Unies... Now, I am stradivarius..and play songs in DN. Faço karaoc, mas não faço casamentos nem baptisados..
O futuro-pretérito de Portugal. As presidenciais vistas de helicóptero
- Falar de Portugal com os actuais personagens que se perfilam a Belém é como falar do drama daqueles que carregam no fígado as caves do Abel Pereira da Fonseca. É como atar o cordão umbilical ao pescoço. Não existem conceitos políticos válidos para avaliar este caos. Daqui decorre a ideia do dr. Mário Soares entender que tem ideias e um projecto político para Portugal a partir de Belém. O Expresso apresentou a sondagem, arrumou matematicamente os candidatos, e todos se precipitaram para o banquete (salvo Cavaco): Aníbal está na pole position, Soares segue-lhe; e, em 3º lugar, o eterno Freitas – o virtuoso perdedor. Alegre, não conta, é um triste poeta que julga ainda viver a agonia de Salazar e do regime. Ora, quem gosta de Portugal não pode deixar de pensar que a herança é bárbara: na economia, na sociedade e, sobretudo, na política com a renovação falhada.
- Interrogo-me acerca das consequências que este efeito de ausência de alternativas políticas (em termos de candidatos) poderá representar para o futuro do País. Ou seja, que Efeito de Borboleta gerou esta dependência sensível das condições iniciais da vontade de homens como Soares e outroas - e que reflexos poderão ter no futuro imediato em Portugal.
- Esta equação (caótica, porque imprevisível, inesperada e até indesejável) pode ser genéricamente apresentada com este folclore:
Por um prego, perdeu-se a ferradura;
Por uma ferradura, perdeu-se o cavalo;
Por um cavalo, perdeu-se o cavaleiro;
Por um cavaleiro, perdeu-se a batalha;
Por uma batalha, perdeu-se o reino!
- Os indicadores socio-económicos são conhecidos, os responsáveis também. Tudo nos afasta da Europa e do mundo desenvolvido. Por isso, vamos dar uma volta de helicópetro pelo País e desenhar o mapa político que nos espera a partir dos céus de Portugal. O norte produz riqueza e agitação. Temos o engº Belmiro e Pinto da Costa. Mas a cidade termina no estádio do Dragão. É um espaço económico, não político. A sul temos a 2ª Circular e o Estádio da Luz iluminado pelo Glorioso. Mais a norte da cidade de Lisboa temos o Campo Grande que, por prudência, convém traçar uma linha divisória com o Hospital Júlio de Matos, Largo do Rato e rua das Cortes.
- A sul temos o rio Tejo, e a outra banda que não segrega nem política nem economia, só sol e praia. No lado ocidental de Lisboa, temos a Ajuda – que alberga o País formal, apesar de termos de ignorar toda a ”Ajuda” que de lá vem. Que se estende a Alcântara até ao Aqueduto das Águas livres, pólo de seringas descartáveis. Mas a este mapa ainda se junta o observatório do desemprego: meio milhão de desempregados, muitos deles licenciados, mas nenhum é filho de ministro (ou ex-m.).
- Não há investimento, não há poupança, não há ideias nem projectos mobilizadores, só há consumo e vontade de poder em o (tal) Campo Grande requerer (pela 3ª vez) o direito de admissão a Belém, qui ça, para unir a Praça do Império a qualquer coisa que dê votos e daí fazer um esplendoroso lar de 3ª Idade que se dedique ao brainstorming diário. Com Soares a interpelar o País e J. Carlos Espada a anotar os registos dessas ideias no Expresso.
- Freitas, visto de helicóptero, oferece uma toponímia perigosa e repelente: é que a Quinta da Marinha é luxúria ofensiva para o povo encaixar em urnas. Apesar de ser dos três, de longe, o mais sábio e intelectualmente estruturado, Freitas tem um passado comprometido com o cinzentismo salazarista e a timidez democrática, que se diz do Centro (por causa da bola que é equidistante). O seu problema é que é um aristocrata snob – como Eça – que tem sempre razão antes do tempo. Mas tal como o romancista, está-se a marimbar para a plebe. Isto é fatal em política, e acabará (como Carrilho em Lisboa) por ser desprezado por todos. Para que o país real votasse em Freitas era preciso que a pizza urbana se sobrepusesse ao lavagante da Quinta Marinha. Só que os tugas não são mentecaptos e sabem que os políticos vão de novo prometer o Paraíso na terra, só que não há mesa para comer as pizzas.
- Resta Cavaco, o mais humilde. É aquele que oferece uma toponímia mais plana, promissora, jovial e enérgica a partir da Travessa do Possolo. É ele que vai matar a sede à malta com capilé e pôr Portugal no carrefour do desenvolvimento. É o mais técnico (e o menos político dos três). Logo, o que menos instabilidade política suscitará a Sócrates.
- Quando o helicóptero aterrou esbarrei com o Portugal do futuro-pretérito: a franqueza e a doçura, a bondade imensa, os fogachos que logo se esfumam. A generosidade e o desleixo, a constante trapalhada nos negócios, muita honra e uns escrúpulos, e uma imaginação que leva à mentira. Ao passadismo. A vaidade gerontocrática que jamais se desapega do poder. A desconfiança de si para logo emergir como um herói. Isto não é (só) o Portugal de Eça (n’A Ilustre Casa de Ramires) é, também, o Portugal de Soares, Freitas e Cavaco. Infelizmente, o nosso Portugal - já a caminho do 1º quartel do séc. XXI - mas a anos luz dos padrões de desenvolvimento e níveis de bem-estar de outras sociedades europeias.
- Pensar a Política à portuguesa (de helicóptero e neste caos) é, hoje, como realizar uma prova de hipismo com o cavalo embriagado.
Ruisinho:
- Aceitei a boleia e lá fui no helicóptero ficcionado na tal volta ao país real e ainda bem que a vista foi aérea porque nos dispensa de ver as minudências dos pormenores do que se passa cá em baixo, como o daquelas centenas de pessoas que à porta das fábricas choram os postos de trabalho perdidos com a raiva incontida da sua impotência, desorientadas, de olhares vagos, lançando perguntas ao futuro num espectáculo de verdadeiro drama social.
- Felizmente que do helicóptero nada disso se viu, a paisagem tem esse atractivo especial que é o de permitir desfrutar da beleza do conjunto dispensando-nos dos pequenos tramas do quotidiano. Por alguma outra razão, os ricos, preferem os meios aéreos. Para alem da comodidade e da rapidez evitam-se certos espectáculos que se não os afligem pelo menos incomodam.
- Voltando ao nosso helicóptero temos as vistas do Campo Grande, da Quinta da Marinha e desse tal de Boliqueime que não tem chique nem charme e só por um capricho do destino se atreve a ombrear com tão distintos lugares. Estou mesmo convencido que a Quinta da Marinha não se vai apresentar ao desfile, incomodada como está com a presença desse tal de Boliqueime, que a afronta e a provecta idade do Campo Grande com quem em tempos, na sua juventude, teve os seus derriços.
- Todos sabemos como a teimosia é uma característica da idade que, pela natureza das coisas, só espera que mais algum tempo lhe ponha fim, mas se assim é porque não tentar beber o cálice da vida até à sua última gota? Grande parte dos espectadores aplaude o arrojo e a temeridade, o desfecho é aliciante, assim como assim, é um acto de coragem de quem podendo estar, comodamente, sentado na assistência decidiu saltar, um pé agora e o outro depois que os anos já não permitem ligeireza, para a arena e desafiar esse tal de Boliqueime.
- A turba esfrega as mãos e espevita os sentidos, o adversário, calado e sorumbático, rodeado pela família, espera por ele no local da partida. Dizem as más-línguas que já lá está há 10 anos com receio que algum outro concorrente, da sua região, lhe ocupasse o lugar, mas isso são tudo especulações que ele é de poucas falas e não se abre.
- Mas o helicóptero passa, com o seu zumbido de gafanhoto zangado lá vai seguindo viagem à procura do futuro deste país desconcertante, que com os seus 8 séculos de história já viu tudo isto e muito mais, quando ainda não havia Campos Grandes e Boliqueime e Quintas da Marinha então, nem se fala.
- O piloto do helicóptero regressa a Lisboa, pousa ali para os lados de Carnaxide, vantagens dos helicópteros que pousam em todo o lado, não precisa de o guardar na garagem porque o desmonta na sua imaginação, vantagem do poeta à solta. Regressa triste, provavelmente não terá gostado de tudo quanto viu, é ambicioso, quer uma sociedade mais justa, é normal, e por isso clama, reclama, barafusta, quem me ouve, quem me ouve, quem me ouve….
- Xau, uma boa tarde para ti, hoje, porque é 6ª fª, vou jogar ténis.
Tio Quim
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