sábado

Uma breve história da globalização para jovens..

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Dizem que há uma "terrível" distinção entre os conceitos de mundialização e de globalização(G.). Aquele versa mais sobre processos de integração económica com reflexos directos na organização da sociedade e da economia, especialmente ao nível da divisão internacional do trabalho. E que a globalização assumiria mais a tarefa de uniformizar regras, métodos e processos de gerir esses fenómenos globais, na teia das interdependências que fazem carreira no nosso tempo. Um é um conceito mais finito e limitado ao tempo e ao espaço, e também de origem francesa (a mundialização); o outro, é mais abrangente e de origem anglo-saxónica (a globalização). Seja como for a distinção é subtil e as subtilezas também povoam a vida, como o sal da terra, dando-lhe cor e emprestando diversas matizes aos argumentos. Assim, os homens ficam mais satisfeitos porque conseguem explicar o mundo de diversas maneiras, com diferentes cores e matizes utilizando, para o efeito, múltiplos conceitos. Ora isto é saudável do ponto de vista epistemológico, teórico, sociológico, politológico, conceptual.
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Outra opção que se pode usar para aprimorar o assunto, em termos conceptuais, é claro, é recorrer a uma simples estrutura de tripé. Ou seja, quando confrontados com uma definição de G. podemos defender que se trata de um fenómeno multidimensional. Vejamos: 1) No domínio da economia - as trocas económicas (de bens, serviços e capitais) tendem a criar no sistema/ambiente um determinado tipo de relações. Fixando/localizando modos de produção que envolvem concentrações de força de trabalho, capital, tecnologias, matérias-primas que concorrem significativamente no quadro das vantagens comparativas que se estabelecem entre os empresários, os mercadores, os investidores e todo um conjunto de actores - que directa ou indirectamente - contribui para a fixação/localização desse tipo de relação; 2) No domínio político - as relações também transcendem as velhas fronteiras nacionais. Quantas vezes um Estado tem de receber no seu território refugiados (de guerra), de pessoas vindas de outros territórios vizinhos. Este tipo de internacionalização dos problemas culmina na redefinição dos critérios que estabeleciam as velhas fronteiras nacionais - que hoje estão diluídas por uma multiplicidade de interesses difusos noutras sociedades. As relações políticas, diplomáticas, militares e no plano da transferência de conhecimento e de tecnologia acabam por sofrer os efeitos das vagas de globalização obrigando a repensar e a reformular todas as ideias que outrora funcionavam e eram eficazes no Estado e nas sociedades. 3) Por último, e além das mudanças operadas nos domínios económico e político - sobrevém as mudanças no domínio das trocas simbólicas entre as nações, as sociedades, as organizações e as pessoas. Destas novas relações e interacções estabelecem-se novas referências ao nível da comunicação das ideias e dos valores, dos símbolos, da comunicação (lato sensu), dos processos de aprendizagem, do ensino, da oratória, e de todo um conjunto de rituais e de info-entretenimento e espaços de lazer (publicidade e propaganda) que, num dado momento, faz circular informação neste teatro espectacular que nos é dado viver.
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Podemos, assim, concluir pelas seguintes ideias-força:
  • as trocas materiais localizam as relações sociais num dado espaço e tempo
  • as interdependências políticas estendem-se para além das suas fronteiras naturais que já não se confinam às velhas soberanias, logo internacionalizam as relações.
  • a circulação de símbolos no espaço virtual - que é global e instantâneo - globaliza as relações no mundo contemporâneo.
É este conjunto de "arranjos" da Economia, da Política e da Cultura - que nos explica o mundo actual. É natural que o mundo não gire todo à mesma velocidade. Portugal ainda é, como sabemos, muito lento na adaptação às grandes correntes de modernização que sopram do exterior. Nos domínios da inovação tecnológica e da criatividade, no âmbito da produtividade e da competitividade, das marcas e do marketing e doutras aplicações dos vários sectores da economia.
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Não raro, a componente da globalização económica é mais veloz do que as dimensões política e cultural desse fenómeno multidimensional da globalização competitiva: esse decisor oculto, definidor da regra e da norma mais eficiente. Mas podemos não estar ainda satisfeitos com esta explicação "tosca" de globalização, e recorrer a uma outra ainda mais tosca que possa explicar as dinâmicas sociais que ocorrem numas sociedades e não ocorrem noutras. Ora vejam: A globalização terá começado, não ontem em que a Águia mostrou ao leão quem manda na selva, mas no dia em que um sujeito anónimo, primitivo, algures no mundo, qui ça perdido num qualquer continente, ainda por nomear, caminhou além dos limites conhecidos pela sua família, (perdão tribo) e encontrou um bando de desconhecidos, com o qual entabulou um certo tipo de comunicação e de interacção. Tudo isto ocorreu após várias sessões de pancadaria, é claro!! Foi talvez a partir desse momento, uma vez que depois da guerra vem a bonança, que os homens nunca mais pararam de caminhar, uns em direcção aos outros, em redor do mundo ainda por explorar e descobrir. Ora foi a esse processo complexo que hoje podemos dar o nome de globalização. O qual assumiu várias formas (consoantes as tecnologias disponíveis) ao longo dos séculos.
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O movimento cultural, social, político das Descobertas foi, necessáriamente, uma primeira manifestação desse fenómeno multidimensional. Um processo que se espalhou pelo mundo, por por todo o Planeta, ao mesmo tempo que aumentava a influência europeia no mundo. Daí nasceu mais outro conceito: o Euromundo. Tudo, claro está, por causa da capacidade inventiva dos nossos equipamentos de navegação e de grandes descobertas em vários domínios que o sector da navegação - com um apurado sentido de risco e de empreendedorismo - potenciou.
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Para o mundo nasceu uma marca: Portugal. Um pequeno país que era uma grande potência política e diplomática, aproximando continentes, dominando territórios e pessoas. Depois o processo consumou-se na colonização que todos os países da Europa seguiram sacrificando o velho Contiente africano, que ainda hoje está atrasado, não obstante as suas riquezas naturais. No séc. XIX o telégrafo submarino reduziu o tempo, eliminou distâncias, e as ordens e as decisões mundo fora foram sendo tomadas de forma cada vez mais rápida, sem grandes desfasagens no tempo e no espaço. Hoje já não se admite que Eça de Queiroz diga que demora 3 horas de Cascais a Carcavelos.. Que maçada! Ainda por cima de charrete, fícávamos com o rabo todo durido. Depois veio a Citroen e inventou belas suspensões. De tal maneira isto foi uma realidade que na década de 60 do séc. XX - os famosos Bocas de Sapo foram exportados de França para os EUA. A coisa fez algum sucesso, mas foi um sucesso curto e com custos sociais dramáticos, trágicos até. É que aqueles carros eram tão confortáveis que os americanos adormeciam nas auto-estradas a conduzir aquelas máquinas de conforto. E as ditas exportações tiveram de ser interrompidas. Julga-se, hoje, que era desta forma que os franceses queriam matar todos os americanos, pela via da exportação de citroéns. Mas isto ainda está por apurar, porque os arquivos, segundo Fernando Rosas, só se podem abrir volvidos 50 anos.. E que se saiba G. W. Bush também nunca foi adepto da marca. Mas segundo rezam as crónicas terá dito um dia, após uma das conversas com J. Chirac: não existem bruxas, mas que...
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Para concluir: o processo actual de globalização diferencia-se do iniciado ao tempo das Descobertas, também por altura em que Camões de tanto escrever - Os Lusíadas - acabou por ficar zarolho, mas aprendeu a nadar mariposa. Foi desde essa 1ª circumnavegação que o mundo deixou de ser o mesmo. Depois veio a revolução nos chips que permitiu armazenar grandes quantidades de informação. Foi a revolução tecnológica e da informação - já no último quartel do séc. XX. Em que o mundo se tornou um só, qual berlinde a girar na palma da nossa mão. Um mundo em que podemos ver a informação a circular de modo instantâneo em todos os pontos do mundo, e o acesso aos bens materiais, aos serviços, aos capitais, às tecnologias, ao conhecimento (para o bem e para o mal - para a paz e o desenvolvimento e para a guerra e a recessão económica e social) se tornaram instantâneos. Tudo porque a informação chega a todo o lado ao mesmo tempo. Soubemos todos ao mesmo tempo da morte do Papa João II; e também soubemos - todos ao mesmo tempo, da derrota dos lagartinhos. Por mim, já lhes apresentei aqui as minhas condolências - em blogue anterior. Espero não ser alvo de represálias nem objecto de práticas vudoo... Ora é essa simultaneidade totalizante que reina no nosso mundo, e integra - para o melhor e para o pior - os homens, as sociedades, as nações, os Estados do nosso tempo. Uma espécie de abraço armilar que nos envolve a todos. Por vezes sufoca-nos, outras liberta-nos.. Depende dos tais ritmos de mudança social a que cada sociedade consegue adaptar-se às correntes de modernização e desenvolvimento.
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De certo modo, a globalização é esse padrão uniformizador que torna as pessoas mais ou menos iguais, não importa os grupos a que pertençam. Embora faça com que dentro de cada grupo essas mesmas pessoas sejam mais iguais que outras... Foi assim no passado, é assim no presente e será assim no futuro.
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Pois há coisas que não mudam. E esta - que remete para a própria condição da natureza humana - também não. Pelo que os vários processos de globalização serão sempre vistos pelas pessoas, pelas sociedades, pelas organizações e pelos Estados como pólos de oportunidade, mas também poderão ser avaliados como factores de risco, de crise e de incerteza que atravanca ainda mais o desenvolvimento de certos pontos do mundo, que hoje se encontram dramáticamente subdesenvolvidos. Um dos desafios do homem do nosso tempo será, porventura, fazer com essa globalização que, apesar de unir os países, não divida ainda mais os homens. Seremos capazes??? Até porque hoje para percorrermos a distância de Cascais a Carvelos precisamos apenas de uns 7 minutos. Mas pode ser menos, depende de como se vai.. (Eis a questão que deixo ao Tiago, ao Daniel e ao Luís). Três especialistas na matéria que na 5ª feira me irão explicar como e porquê..
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