A ameaça dos Weblogues (para frustração do jornalismo de poltrona)
- O deserto de assuntos de relevância eminentemente política leva-me à avaliação da importância crescente dos blogues que, em Portugal, nascem à cadência de cem por dia. Podemos resumir esta quantofrenia referindo que no último século dispusemos, basicamente, de dois meios de comunicação: de um para muitos (livros, jornais, rádio, TV); e de um para um (cartas, telégrafo e telefone). Hoje, pela 1ª vez, a Net permite-nos comunicar de muitos para muitos e de alguns para alguns, o que acarreta profundas implicações quer para os antigos destinatários, quer para os actuais produtores de notícias que, sentados nas poltronas dos seus gabinetes editoriais, vêm agora esbatida a velha fronteira entre essas duas categorias. O novel presidente do CDS, o eurodeputado Ribeiro e Castro, espelhando o esprit do tempo novo, disse até que organizou a sua campanha por SMS. Translumbrante.
Eu a tentar fazer um blogue e a mexer na máquina com a tele-ajuda do André...
Go ahead and bellyache about blogs. But you cannot afford to close your eyes to them, because they're simply the most explosive outbreak in the information world since the Internet itself. And they're going to shake up just about every business -- including yours. It doesn't matter whether you're shipping paper clips, pork bellies, or videos of Britney in a bikini, blogs are a phenomenon that you cannot ignore, postpone, or delegate. Given the changes barreling down upon us, blogs are not a business elective. They're a prerequisite. (And yes, that goes for us, too.) Conheça, com vantagem, o desenvolvimento oportuno deste artigo naquele blog.
- Se atentarmos na paisagem virtual em Portugal, verificamos que emergiram dezenas de blogues de qualidade excepcional. São sistemas ricos, complexos e de retorno, como formigueiros, que nos explicam que o todo é mais inteligente do que a soma das partes. Na prática, os blogues permitem individualizar a comunicação, falar alto sem ficar rouco, e, por milhares de interacções, criar um sistema de comunicação global que cresce, como cogumelos, da base para o topo. O que só sucede com sistemas digitais.
- Eis o diamante da comunicação: o blogue, que se expande à velocidade da luz permitindo que todos nos tornemos editores, fazendo pequenos jornais online, tecendo hiperligações e notas que engrossam o caudal da (in)formação/opinião por uma ordem cronológica invertida, uma vez que o último blogue é sempre o 1º da página. Portanto, o velho jornalismo é agora desafiado pelo admirável mundo novo que já não depende só de profissionais da comunicação, mas em que os amadores são admitidos no clube. E hoje, pelo que sei, creio que são os bloggers os pilotos da maior máquina do mundo.
- Primeira consequência desta transmutação (quase ilusão): o núcleo da autoridade no jornalismo clássico está a mudar, deslocando-se para a plataforma dos blogues. Que, por serem mais rápidos, ágeis e criativos na recolha, produção e manipulação de informação (e contra-informação), passam a vigiar as velhas “raposas” do jornalismo de poltrona. E ninguém gosta de ser vigiado na opacidade da sua caixa negra. Daqui decorre uma 2ª consequência: é que a comunidade “bloguista” não hesita em atacar os jornais, as revistas e outros media tradicionais devido à violação, real ou imaginária, dos princípios da verdade e da justiça. Ora para as velhas raposas, com baixa cultura científica mas com elevada tarimba, isto é uma heresia na sala das máquinas. É como se os soldados enfrentassem os generais numa paisagem virtual.
- Portugal goza já de inúmeros desses blogues de excepcional qualidade, que marcam o ritmo e formatam a opinião pública. Outros há, ao invés, que vivem numa relação parasitária com o seu autor. Refiro-me, por exemplo, ao Abrupto (de P. Pereira) que é um blogue-celebridade e reconhecidamente fraco pela comunidade dos bloguistas.
- Os seus artigos no Público ainda se lêm, agora isto...
- Mas o ponto é este: o jornalismo profissional, tarimbado, que se fecha em fortaleza porque sabe que é mais vulnerável, compreendeu os skills superiores vindo das margens que galgam para o centro. Questionando a hierarquia vertical do moderno jornalismo, já que foi notório que os directores dos jornais não souberam aceitar a pujança dessa mega-máquina. Tal como jamais conceberam que os leitores pudessem estar na vanguarda em matéria de produção de informação.
- Mas logo que os media perceberam o que estava a suceder, a cobertura arrancou. E os grandes meios de comunicação também quiseram acompanhar o ritmo reconhecendo, tacitamente, que algum do melhor jornalismo político estava no viveiro dos blogues, i.é, fora das fileiras do jornalismo de poltrona.
- Porque era aí que eles eram mais eficazes no enquadramento/tratamento dado às notícias do que as agências noticiosas. Talvez não tenha sido por acaso que os militares de elevada patente tenham concedido grande importância a certos blogues (repositórios de ideias políticas) no âmbito da guerra do Iraque. Mostrando que o valor desse nicho de jornalismo de ideias já não se confinava às folhas de papel de jornais e revistas. Qualquer dia Marques Mendes sabe disto, faz um blogue e ganha as eleições.
- Este blogue é dedicado a duas pessoas: ao Papa João II e ao André Mendes, que por ele foi tocado e é autor do Transcendente. Entre os dois deve haver um Mundo por percorrer. Só não sei se esse trajecto é mais rápido em Vida ou fora dela... A bola do meio, se for de bom cristal, Cristal de Alcobaça, é capaz de responder. O problema está em interpretar os sinais da bola, que talvez ninguém saiba ler... E aí voltamos a Deus e ao problema da sua existência. Que é como quem diz, regressamos a Sir Bertrand Russel que quando interrogado sobre se acreditava ou não n' ELE simplesmente respondeu: se existiu porque deu tão poucas provas da sua existência?! Ou será que somos todos cegos, surdos e mudos...
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