A loucura da normalidade..
- Não é por me chamarem louco que desanimo e deixo de criar obras que os outros não entendem, mas que depois exaltam como criações divinas, sobre-humanas. E eu ouço e fingo que não é comigo... Ou talvez diga: coitados, são uns retardatários, uns relapsos. Ora isto confunde-se quase com o pagamento dos impostos.. Também, com o Estado que temos!
- Depois, fico sem saber bem a diferença que separa um louco daquele que o não é. Será por termos uma casa, um carro, alguma educação, comermos à mesa com talheires??!!! Pois, também arrotamos, também cheiramos mal, também transpiramos, também saímos da norma, ou seja, daquilo que a sociedade instituiu como convenção social.
- Também andamos à roda, por vezes numa espiral que nos enlouquece. Temos falta d'ar - que não se vê. Deixamos de ter tapete, quando o nosso velho morre. Entramos na aspiral, que nos expira não sei bem para onde. Um espaço e um tempo não racionalizáveis. O tempo está dentro de nós; o espaço absorve-nos a partir de fora. E assim julgo não haver fronteira entre um louco e uma pessoa (dita) normal. Apenas o louco sabe que o é, assume-se como tal. Não aceita a indiferença, reclama imediatamente no meio da multidão sem ter receio de ser censurado pela turba que, mesmo sem o saber, é que é verdadeiramente louca. Com uma má fé - toda cumplice, inerte, oculta e silenciosa. Daquelas que vê o desastre e finge que é um placard da Pepsi-Cola, passe a Pub. Ora eu, o grande Almada, não sou assim. Não quero ser assim. Quero ser louco, quero que todos vejam a minha loucura. E a paguem caro, seus relapsos da anormalidade... Pois se eu não fosse louco, como seria capaz de criar, ver para além do zénite e do horizonte?! Seria como todos Vós, seus retardatários, ignorantes, improdutivos, imitadores de rotinas que nada imaginam, concebem ou criam. E assim morrem estúpidos, sem nunca terem experimentado a vox e mão da criação, que alguns dizem ser divina. Amén.
- Por isso, morrem sem saber que alguma vez existiram, seus trôpegos, aleijados. Por isso, daqui exorto: nunca desistam de criar, de cometer erros, pois o erro é uma verdade à espera de vez, como dizia o grande Virgilio Ferreira, que morreu amargurado, talvez por antever que o Nobel da literatura foi para um tal Zaramago que escreve sem pontos nem pontuação e que não vai além da média. Salvo na censura e nos saneamentos aos seus colegas no DN ao tempo do 25 de Abril...
- Afinal, todos morremos da mesma forma. Mas nunca desistam de sonhar, de serem engenheiros de telecomunicações, matemáticos, cientistas da couve e da indústria aviónica, poeta à solta - como Agostinho da Silva, farmacêuticos ou ainda editores de uma revista para homens, como aquelas que as mulheres gostam. Com ou sem o mamilo da Catarina Furtado, com ou sem a mamoca da Bárbara Guimarães, com ou sem o trazeiro da Alexandra Lencastre, com ou sem o rosto da Manuela Ferreira Leite... No fundo, lá bem no fundo, para alguns aquelas formas que supra-vemos são bem quadradas, mas para a generalidade dos mortais - o que vêem não passa de coisas feéricas. Então o Mundo não seria diferente - se em lugar de lá vermos bolas víssemos outras formas!? Tenho dito, Pim!
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