Memórias de Moçambique...
Estes dois grupos de imagens comprimem um texto que é um pedaço de vida. Ou melhor, de vidas vividas, ou por viver ainda, e outras já extintas na finitude da existência de quem já partiu, também com muitas memórias deste continente esquecido, dessa África útil só lembrada quando isso interessa económicamente às grandes potências que nunca souberam olhá-lha com respeito, dignidade e genuína cooperação. Tudo valores que a praxis das relações internacionais - cada vez mais globais - de facto, não contemplam. Hoje, claro, a corrupção e o nepotismo instalado também não ajudam à festa... Digamos que é a versão recauchutada do velho paternalismo colonialista legado pelos brancos. Estas imagens mais não são do que um corte na memória, uma luz na noss idade, que nos ajude a recuperar cheiros, cores, gentes, enfim, até a nossa própria identidade - já na bruma do tempo que passa.
- Estas imagens são traços de um outro Moçambique que pode, porventura, ainda existir nas memórias de muitas pessoas que contribuíram para o progresso e desenvolvimento daquela terra e daquelas pessoas, dentro dos circunstacialismos históricos conhecidos. O Banco, os Correios, a Praia, a Guerra, as Pessoas e, hoje, a memória de tudo isso. Um bocado turvada pelo tempo. Num relance virtual aqui damos conta de algumas dessas lascas do tempo, que também é geografia. Joaquim Luís Paula de Matos foi um desses quadros ultramarinos que pôs lá vários tijolos. Depois, como muitos outros, teve de regressar à pressa. Mas hoje já é com o vagar do tempo que contempla essas memórias, sopradas pelas três décadas que entretanto passaram sobre esse Portugal de além mar. Hoje, só somos de aquém, de tão pequenos que nos tornamos: na economia, na sociedade, na cultura e na generalidade dos indicadores de desenvolvimento humano.
- Estas imagens são, pois, para ele, o meu Tio Quim, ou podem ser um traço de união no espaço da nossa memória. Duma que fala de nós através da lente africana, que também a prendi a ver e a cultivar. Mas a proeza das proezas, é verificar que esse homem de África - quase aos 70 anos - consegue estar a jogar ténis uma hora seguida e transpirar como um jovem de 20. Se pensarmos bem, a vida é estranha. Parece um filme cuja película é interrompida algumas vezes por uns breves intervalos, num piscar d´olhos. Um dia estamos em África a assinar papéis e a despachar, ou a pescar e a caçar (caça grossa, é claro), no outro estamos em Santarém - já com a vida feita e refeita - beneficiando das benesses da reforma e perguntando à vida: afinal quando é que ela começa!? Para outros, infelizmente, a pergunta não foi bem essa... Em todo o caso, fica a memória duma África que nos atravessou a todos, duas gerações de homens que testemunhamos muitas caçadas no Parque Nacional da Gorongoza, pescarias na Ilha de Stª Carolina e o mais - que nos deu alegria e côr à vida, e, um dia, nos acompanhará para a cova... Será já uma cova diferente. Uma verdadeira cova luso-africana...
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