quarta-feira

Portugal em três actos: execução, mendicidade e metamorfose

Image Hosted by ImageShack.us Portugal em três actos:
I acto
  • Era uma vez um país à beira-mar plantado que tinha um presidente que exercia o poder com total rigor. Detinha as rédeas da governação através da “bomba atómica”, ou seja, do poder de dissolver a Assembleia e de zelar pelas leis de forma lenta e rigorosa. Depois de ter sido permissivo e de premiar a monarquia em plena democracia, arrependeu-se e tornou-se cada vez mais impiedoso nas suas sentenças. A situação, porém, não se resolvia. Pois o presidente sentia a sua autoridade cada vez mais enfraquecida.
  • Um dia mandou chamar o seu primeiro-ministro (PM) e disse-lhe:
  • - Mandei executar um grande número de pessoas (e leis) e, no entanto, ninguém me teme. Como explica isso?
  • - É simples – diz o PM. – Tem que aprender o segredo da autoridade. Todos os que mandou executar eram incompetentes e culpados intramuros. Portanto, os outros não têm razão alguma para o temerem. Assim, se quiser realmente ser temido tem que mandar executar também alguns inocentes, juntamente com aqueles que fugiram para o estrangeiro e por lá ficaram com o sorriso maoista.
  • O presidente concordou. Tinha compreendido a lição que o seu PM lhe dera. Um dia depois mandou executar o primeiro-ministro.
II Acto
  • No momento em que escrevo já se sabe a dimensão da mudança em Portugal. A cartografia política alterou-se. Cerca de 30 deputados do PsD terão de regressar às suas “brilhantes” carreiras privadas de advogados para tentar fazer a política por outros meios, mas com menos certeza na previsão do salário. Regressando donde partiram: ao anonimato, deixam de ter imunidade e ficam mais expostos às doenças e aos vírus da realidade que atinge meio milhão de portugueses. Agora é que eles saberão dar valor ao último dos três pilares da revolução francesa: igualdade, fraternidade e “mendicidade”.
III Acto
  • A 3ª parte desta reflexão regressa ao presidente que, com a ajuda do seu povo, executou o PM. Trata-se de um presidente transformado em mulher. Em circunstâncias especiais um soberano deve ser capaz de resolver um enigma antigo em prol do bem comum. Vejamos esta metamorfose. Aquele presidente, por causa de uma qualquer maldição, foi severamente punido. Os deuses ofendidos com a sua lentidão e arrependimento transformaram-no em mulher e obrigaram-no a exilar-se na floresta, o que ele fez.
  • Aí, após umas semanas de errância e de mendicidade, tal como aqueles 30 deputados, o rei-mulher encontrou um jovem e vigoroso cortador de madeira que vivia só. O lenhador e a recém-mulher foram invadidos pelo amor. Uniram-se, viveram juntos e até tiveram meninos.
  • Quando a maldição terminou, o presidente voltou a ser homem. O lenhador ficou estupefacto ao ver que a sua mulher se tinha transformado no seu presidente. Este abandonou o lenhador (seu marido), abandonou os filhos (confusos) e tomou o caminho do palácio. Foi acolhido com manifestações de alegria e júbilo, e até as meretrizes do leste que negociavam o corpo na rua brindavam com champanhe francês. Enfim, uma verdadeira festança com bandeiras vermelhas e rosas pregadas nelas. Nas bandeiras.
  • Pois a despeito do pecado que lhe tinha valido a maldição, gozava de uma reputação de grande bondade e de verdadeira justiça. Assim que se soube do seu regresso, todos os amigos regressaram ao seu convívio, pois ele era o único que podia responder à pergunta: no acto de amor, quem experimenta o prazer mais intenso, o homem ou a mulher?
  • Consciente da importância das suas palavras, mandou reunir o País no pátio do seu palácio e mandou que se servisse uma sopa quente, copiando o método da sopa dos pobres ali aos Anjos. Fez-se uma sessão solene e meditou-se. Entretanto, alguém em representação do PM executado, reitera a questão. E o presidente responde: o prazer mais intenso é o da mulher. Tanto que até os deuses no-lo invejam. O povo agradeceu e retirou-se, satisfeito.
  • Antes de partir, o inquiridor ainda chamou o presidente e disse-lhe algo baixinho. Não se sabe bem o que murmurou. O facto é que no dia seguinte o presidente tinha desaparecido e nunca mais fora visto no palácio. Depois o povo, seu conhecido, encontrou o lenhador, já com o sorriso recuperado.
  • Então, adeus e até ao meu regresso...
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