Política à Portuguesa, com devida vénia ao arqº Saraiva
É sabido que a política é a arte do possível. É mais uma arte do que uma ciência, como dizia Otto von Bismarck. Mas a forma como os agentes políticos portugueses, incluindo aqui os jornais e os jornalistas que também fazem política pura e dura e são, antes demais, eleitores, revela o jogo de espelhos verdadeiramente alienante em que caímos. A guerra já não é meramente política, é existencial. Aqui no burgo, neste pequeno rectângulo, não se burilam ideias, projectos mas tece-se uma teia complexa para matar o outro. Assassinar o seu carácter, silenciar os que pensam diferente. Isto ganha contornos entre o bem e o mal. E este nunca acontece por acaso. Tem sempre uma mão. Uma mão e um rabo, que fica sempre de fora.
A manchete do Expresso de hoje obriga Cavaco a tomar posição. O Expresso julga, segundo convicções de players próximos de Santana Lopes, que foram os peões do costume, que plantaram mais esta armadilha a Aníbal. Para o obrigar a clarificar-se. Pacheco Pereira, o zelador intelectual de serviço, lamenta este jornalismo político da parte do maior semanário nacional. De caminho, critica também o Público, o seu jornal, por uma outra não-notícia relativa a Cavaco - que já foi publicamente assumida pelo seu director, J.M.Fernandes. Será que é o Lopes que está metido em tudo isto?! Afinal, quantas cabeças tem a hidra? Será mesmo assim tão mau? Pior que péssimo?
E os favores que os pequenos paskins prestam aqueles players - recuperando pseudo-notícias de Free Ports & Outlets - só para manchar o nome a quem se julga que vai ser o próximo Primeiro-Ministro de Portugal!? Sócrates... Será que isto é mesmo o vale tudo dentro do ring...
Será isto mais uma maquinação dos "homens de mão" do dito? Será mais uma "cabala objectiva de contornos subjectivos"? Será mais uma versão: - Quem eu!? quem eu!? quem, eu!? Eu quem...
Sem certezas, cabe-nos aqui fazer a pergunta elementar, meu caro Watson: a quem, afinal, mais aproveita o conjunto sistemático destas maquinações torpes? Que passam por cunhar uma pessoa de homosexual, de traficante de influências em troca de financiamento partidário e o mais...
Que imprensa se presta a este joguinho político? e que editores minorcas obedecem? e a troco de quê? Serão também todos escravos do desejo censurado? Do emprego? de mais uma promoçãozinha porque se conseguiu silenciar um outsider rebelde que critica o sistema que alimenta as clientelas ávidas e não obedece senão à sua consciência? A um empregosito para a mulher que entretanto ficou desempregada ou grávida? Uma recomendação para a Stª Casa da Mesiricórdia? Afinal, as páginas de revista que albergam publicidade paga - pagam mais o quê? Que favores escondem? Que luvas, vinganças, acertos de contas, inveja - por quem pensa melhor e mais rápido?
Enfim, quando se olha para a imprensa em Portugal, até para a mais pequenita, vê-se duas coisas: encomendas políticas com destino e mão certa. Paga com dinheiro, favores e tráfico de influências. Com os empresários da política a decidir quem detém alvarás e percentagens. Cabalas geram sempre mais cabalas... Um pouco como os pastéis de belém. Sempre com o segredo na confecção para não estragar o negócio..
E uma gritante incapacidade, filha da incompetência gerada por esta gestão política. A mesma que quando fez a Sábado, o Liberal e o mais teve de fechar portas à pressa porque o mercado não aguentou o embate de tanta "qualidade". Jornalística, é claro...
Enfim, hoje só vai para a política aquele(s) "burro(s)" que tem uma inaudita capacidade de esperar... Sem ideias, sem qualidade e qualificações, mas com muita vontade. Vontade de esperar e ser ministro. Para dizer ao Pai: "sou, afinal, ministro"..
Um pouco como no jornalismo. O objectivo é, mesmo que se seja um nabo a confeccionar uma notícia - copiada de sete manchetes, esperar, esperar, dar uma engraxadela aqui, outra acolá e esperar pelo momento certo e pela vox da pessoa certa. Et voilá, tem-se um editor, capaxo dos empresários da política, obecedendo a ordens para incluir a mediocridade latente e objectiva, como nas cabalas, e excluir aqueles que estão a milhas de distância do pensamento, na análise e na reflexão.
Tão longe que nem percebem o que lêem, como aqueles burros que morrem por hesitação quando confrontados com dois molhos de feno de igual tamanho...
Afinal, o Portugal-político não é muito diferente do Portugal-jornalistico . Quem não consegue beber o whisky de um lobista, receber o dinheiro dele pela publicidadezinha paga na página escolhida da revista (mais a comissão que meteu ao bolso para pagar o liceu francês à filha que quer fazer doutora), dormir com o mandante, e também com as suas mulheres para compensar eventuais taras e impotências, e ainda assim votar contra ele na manhã seguinte, não tem lugar na política, e, também, não consegue ser editor. Um grande editor... "Editorzeco", segundo alguns.
Certamente, haverá ainda bons editores. Incorruptíveis. Que sabem confeccionar duas ou três ideias com cabeça, tronco e membros. Que não vivem obcecados em construir uma vivenda na outra margem para adorar o Cristo Rei e ir a banhos diáriamente à Costa-da-Caparica. É para eles que dedico esta prédica na certeza de que se revistam de um carácter e uma moral tais e tenham "tomates" para viverem como pensam, mesmo que não pensem como vivem...
Isto implica, obviamente, libertar o País - este nosso bonito Portugal - de "santanices" - cujo significado já é por demais conhecido do léxico luso obrigando os autores de diccionários a fazer a revisão para incluir mais uma nódoa: uma nódoa que virou mancha na história política contemporânea.
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