À espera de Godott...
À Espera de Godot, de Samuel Beckett
- A peça de Beckett suscitou no meio crítico teatral um debate infindável que perdura até aos dias de hoje. Afinal, o que é o Godot? O que Beckett - um dos principais representantes do teatro do absurdo ao lado de Eugène Ionesco, Adamov e Jean Genet - queria dizer com aquele diálogo interminável entre dois mendigos que diante do tédio da vida pensam constantemente no suicídio mas não levam a cabo a intenção, pois a corda disponível é fraca.
- O diálogo entre Vladimir e Estragon é patético e desesperado, acerca de tudo e de nada. Godot é um ser vago, esperado ao fim de cada dia, que serve de pretexto para resolver a mísera existência sem sentido. Pozzo e Lucky, as duas outras personagens, criam uma forma de jogo, na qual se defrontam com igual indiferença e consciência de inutilidade, no espectáculo do servilismo à sua condição. O mesmo, sob outra perspectiva, que faz de Estragon e Vladimir subservientes e cegos ao interminável preenchimento do tempo da vida, escravos do peso de carregar os dias como uma espera sem qualquer sentido. Pozzo, que tiraniza Lucky como proprietário de suas vontades, é, ele próprio, destituído de desejos passíveis de se concretizarem.
- Para cada um de nós que anseia por algo todos os dias, Godot não é coisa nem ninguém. Não é o vazio que não chega. Godot pode ser, sim, a esperança clara do que está para vir. Ficamos À Espera de Godot. Nada a fazer.
- Questões para reflectir por analogia ao teatro político português:
- Será que este teatro do absurdo lhe faz lembrar algo nestes últimos meses?
- Lembra-se de algum equívoco? Ou erro de casting?
- Pode enumerar meia dúzia de palhaçadas trágicas, numa espécie de percepção concreta do nada, de dissolução do eu colectivo, de Portugal? Escolha só o trajecto que vai de S. Bento a Belém...
- Com quem identificaria a lengalenga improvisada, qual fala absolutamente desprovida de significado, que agita Portugal numa angústia intolerável?
- Será que estamos À espera de Godot…
- Poderiam os nossos figurantes da política ser actores das peças de Samuel Becket? Se sim aponte que seres diminuídos são esses. E diga quais são aqueles que mais convidam ao riso interminável, numa espécie de diálogo inútil, na sua lenta decomposição, onde nada acontece, mas algo segue dentro de momentos.
- Será, como a própria peça, que tudo isto que aconteceu a Portugal nos últimos tempos decorre exclusivamente duma coisa: inventar a linguagem!?
- Será que Lopes e Sócrates – neste Portugal SS – poderiam ser escolhidos para uma peça de Becket?
- E esta Dona... - para onde irá ela com tanta pressa!? Quem acha que são aqueles 3 figurantes da política à portuguesa?
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