quarta-feira

o dr. Nogueira Pinto e a 7ª Arte


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Em circunstância alguma, em contexto democrático - bem entendido - se pode defender o cerceamento da liberdade de expressão de terceiros. Tal revela medo, um ímpeto ditatorial e sectário incompatível com a democracia e as liberdades de pensamento e de expressão, mormente numa universidade pública - onde o contraditório é sempre desejável e saudável.

Por isso, era necessário ouvir as banalidades sociopolitológicas do dr. Nogueira Pinto, naquele seu registo de sermão pachorrento que convida a assistência a adormecer e a pirar-se antes do termo da conferência. Seja sobre o orgulhosamente só de António de Oliveira Salazar, que perspectivou Portugal do Minho a Timor, ou as (suas, dele) posições sectárias acerca do colonialismo português, assente naquela famosa, rural e peregrina ideia de que Angola é Nossa!!!

Teria certamente coisas curiosas para dizer sobre o Brexit, de que já todos sabemos; ouvi-lo teorizar sobre os nacionalismos europeus devia ser um must, num apelo ao regresso em força das nações e da srª Le Pen - que estaria na relação directa da decadência do projecto Europeu, tal como ele hoje é equacionado e encosta as periferias (onde está Portugal) ainda mais para a valeta da história.

Sobre Trump, o dr. Pinto teria certamente dimensões interessantíssimas ao nível da filosofia da cultura para esplanar (explanar), um pouco em linha com o "ultra-sofisticado" pensamento e acção do actual Presidente da República Imperial, como Raymond Aron designou os EUA na década de 80, num livro com o mesmo nome. 

Enfim, da Nova Portugalidade aos misteriosos caminhos do pensamento sobre todas aquelas matérias, o dr. Nogueira pinto teria certamente a oportunidade de debitar toda a sua sapiência, como quem debita uma missa depois (ou antes) dum funeral. É sempre igual. 

Dele, no plano pessoal, guardo "dumas imagens" que sumariamente aqui descrevo factualmente. Corria a década de 90 do séc. XX e ele, Nogueira Pinto, leccionava uma cadeira de - Partidos Políticos - no mestrado em Ciência Política, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, ainda na Junqueira.

Em lugar de fornecer um conjunto de conhecimentos relativos à temática da disciplina, consumia boa parte do tempo a dissertar sobre cinema e a influência da 7ª Arte na cultura e no mundo político. Cedo percebi que aquilo não era senão uma pequenina feira de vaidades de que ele, obviamente, se sentia o protagonista. 

Confesso que nem sempre estava disposto a pagar bilhete...

Noutra ocasião, cai no erro de lhe emprestar um livro de Habermas, a que me dei ao trabalho de fotografar e aqui postar (ao lado da sua imagem), talvez ele se lembre... Ou não... Porque, em rigor, não me o queria devolver, e não fora a minha insistência em o recuperar ainda hoje ele não me teria sido devolvido. Não foi bonito, dr. Pinto.

Só nunca consegui perceber se o atraso considerável no lançamento da minha nota em pauta - à referida cadeira (da "7ª Arte" - que ele designava de partidos políticos) - se devera à minha insistência em recuperar um livro que tive então o gosto em lhe emprestar, e ele não teve a educação de o saber devolver no tempo combinado; ou se tal se ficou mesmo a dever àqueles lapsos de génio que só os génios como ele, naturalmente, têm.

Da disciplina, não fora ter lido alguma literatura comparada, pouco ou nada aprendi. Em rigor, nem sei por que razão recupero aqui hoje este fragmento sem importância da minha própria circunstância, mas há uma coisa que sei: nunca devemos limitar os outros na sua liberdade de pensamento e de expressão, mesmo que os outros pouco ou nada tenham para dizer ao mundo, ou o que entendam dizer seja por demais banal, previsível e até parcial, porque espelha apenas um dos lados da realidade histórica, envernizada por uma ideologia alinhada e que remete para a educação, as origens, a família, etc em relação às quais algumas pessoas nunca se conseguem apartar. 

E isso, em certas circunstâncias, é profundamente negativo.

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