E
screve
Ricardo Costa que Paulo Rangel cometeu um erro. Para ser preciso, “um erro propositado” porque “Paulo Rangel recorreu a um truque retórico clássico: o de se dizer uma coisa sabendo que toda a gente vai entender outra”.
Estou de acordo. É tudo lúgubre: um ex-governante na justiça sugere a manipulação partidária da investigação criminal, ou do governo anterior ou do actual, e lança lama em todas as direcções para convocar Sócrates. Na campanha europeia, se bem se lembram os leitores, já tinha havido episódios deste calibre, com a dupla Rangel-Melo, bem artilhada para estas aventuras.
Mas, neste caso, acho que o erro foi propositado ainda noutro sentido. Rangel sabia que ia ser criticado. Que haveria conferências de imprensa e
declarações ofendidas de juízes e magistrados do ministério público, que o PS se
atiraria ao ar, que os comentadores o enterrariam. Pensou ele que tudo isso seria espuma dos dias se conseguisse o único objectivo que esta declaração pretende alcançar: fazer com que Sócrates volte a intervir, aproveitando a deixa e argumentando que tudo foi uma manobra partidária contra ele. Se isso acontecer, a notícia já não será o erro do Rangel, será o caso Sócrates metido na campanha eleitoral a quatro semanas do dia do voto.
E a direita precisa disso por todas as razões. O ódio a Sócrates mobiliza o seu eleitorado, que está apático e cheio de dúvidas porque não acredita em Passos. O caso Sócrates faz tremer os sectores sociais do centro, que estão entre o PàF e o PS. E a coligação precisa desse suplemento de alma para acreditar que ainda pode recuperar os votos que tem perdido ao longo do desastre que foi a estratégia de “empobrecimento” de Portugal.
A coligação da direita está reduzida à política da emboscada.
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