A honra, o medo e o interesse - por Eurico Heitor Consciência -
Nota prévia: Um advogado a sério dá uma grande pantufada num advogado a fazer de conta. Já se percebeu que Eurico H. Consciência, o autor da reflexão, integra a 1ª categoria.
- Se tivesse de fazer uma pequena errata, fá-la-ia neste sentido: onde se lê, na última linha do artigo: "um português inteligente" - diria "um português esperto"; e na expressão - "um percurso exemplar" - deixaria, naturalmente, as aspas que faltaram.
- Espero, doravante, que o dr. Consciência tenha igual coragem e lucidez para dissertar sobre o legado desse "vulto" (ou sombra) que ainda é a titular da pasta da Justiça, que tem ajudado a destruir o que resta de Portugal. Estarei atento...Mas aí, seguramente, o balanço terá de ser ainda mais negativo.
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A honra, o medo e o interesse
Como ensinou o grego d’A Batalha do Peloponeso, as pessoas
movem-se por razões de honra, de medo ou de interesse. Há 60/70 anos, os
portugueses poderiam não descurar os seus interesses e até poderiam por vezes
ter medo das consequências da sua firmeza, mas não hesitavam, nem que sobre
eles desabasse o mundo, na defesa da honra, do seu bom nome, do nome que
transmitiriam aos filhos e do respeito por si próprios, que lhes impunha
respeitar a verdade e a palavra dada. Por isso, ao fazer-se uma promessa ou um
pacto, dava-se a palavra de honra:
Prometo que… palavra de honra…
As coisas sofreram transformações
profundas nos últimos cinquenta anos: se persistem alguns seres que respeitam a
palavra dada, a maior parte está-se
borrifando para a honra. Borrifa-se…O
Sr. Dr. Eduardo Ferro Rodrigues bem que poderia ter dito que se estava a borrifar daquela vez em que disse que se estava c…Se tivesse dito que se estava borrifando nenhum casto
ouvido se ofenderia e todos teriam percebido que ele andava de caganeira…
Mas adiante: lá diz o rifão que quando a necessidade bate à porta, sai a
vergonha pela janela. E a crise que se vive, com os medos que desencadeou,
alargou rapidamente o número dos que só se determinam por interesses.
Vem este arrazoado todo a
propósito dum homem que, ignorado há dez anos, teve até há pouco tempo
parangonas nos jornais: o Sr. Dr. Marinho Pinto.
Há 10 anos era jornalista e dava
umas de advogado de quando em quando. Mas, apesar de desconhecido como advogado,
ousou concorrer a Bastonário dos Advogados. Nada tendo de parvo, Marinho Pinto
jogou na crise que a profissão atravessava: os jovens advogados, objecto duma concorrência medonha, estavam naturalmente predispostos a votar no
candidato a Bastonário que lhes prometesse reduzir ou, pelo menos, travar a
concorrência. Com promessas dessas, Marinho Pinto ficou em 2º lugar nas
primeiras eleições a que concorreu e ganhou as seguintes – porque os jovens
advogados tinham entretanto aumentado de milhares, tendo portanto aumentado o
número de votantes de Marinho Pinto.
Chegado à Ordem, de que nunca
nenhum Bastonário recebera qualquer remuneração, Marinho Pinto inovou: fixou-se
um salário mensal taludo, seguido, ao que constou, dum subsídio de reintegração de dezenas de milhares de
euros.
Depois, nas cerimónias públicas em
que o Bastonário participava, passou a fazer, durante seis anos, o que todos os
demagogos fazem: só dizem ao povo aquilo que o povo gosta de ouvir.
O resto da estória foi como se
previa: meteu-se num partido político e foi eleito euro - deputado, ganhando um
ordenado obsceno – como ele tratou logo de dizer, mas que, não obstante,
continua a meter ao bolso.
Meses depois fundou novo partido,
com que vai concorrer às próximas eleições legislativas.
Um português inteligente. Um
percurso exemplar.
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