quarta-feira

Da eficácia e da racionalidade política em Portugal




No debate parlamentar sobre as dívidas de PPC à SS estavam em causa algumas questões, destaco uma que não foi devidamente colocada: quantos anos (e meses) estavam por liquidar e, durante esse tempo de dívidas contributivas, para que entidades patronais aquele cidadão trabalhou e se o fez por acumulação de funções incompatíveis por lei. 

Ferro Rodrigues interveio, e apesar de ter larga experiência na área da SS, em que já foi ministro (embora não se tenha notado!!!), revelou uma grande previsibilidade de perguntas, feitas naquele seu registo discursivo monocórdico que é hoje incompatível com a necessidade da elaboração do raciocínio veloz e do tempo rápido, utilização duma dialéctica criativa e abrangente. Ferro Rodrigues, consabidamente, encontra-se nos antípodas desse perfil que seria exigido aos desafios do tempo novo. 

Há hoje muita gente nova no PS que tem grande capacidade parlamentar e elevado rendimento político, qualidades essenciais às conjunturas turbulentas e de grande estagnação socioeconómica, como a que vivemos. 

Foi notório que ficou rapidamente submerso nas respostas taxativas do PM. E daqui há a extrair uma conclusão: a de que António Costa, novel SG do PS, por um erro de avaliação (deliberado ou não), não fez a escolha mais eficiente para liderar a bancada parlamentar do PS, um pólo nevrálgico para desencadear todo o processo de oposição política e de feitura legislativa. Um trabalho cuja eficácia é entorpecida por um governo de coligação do centro-direita que se encontra no estertor da morte, e que só sobrevive pela compaixão simbiótica de Cavaco, que precisa desse mesmo governo, qual cadáver adiado para concluir o seu mandato presidencial com alguma dignidade institucional. 

O BE, por Catarina Martins, conseguiu ser mais certeira e incisiva e fazer o contraste das miseráveis condições de vida em que vive a generalidade do povo português, a quem são penhorados os salários e os bens, e um PM relaxado a quem a SS prescreve dívidas e/ou poupa alguns meses de atraso no seu cabal cumprimento, e só o fez sob pressão de um órgão de comunicação social.

Jerónimo de Sousa, do PCP, por ter um estilo discursivo semelhante ao de Ferro Rodrigues, falou mas não deixou rasto, as usual...

Foi, de facto, o líder parlamentar do CDS, Nuno Magalhães, líder dum pequeno partido que conseguiu virar o debate a favor de Passos Coelho, e fê-lo esbatendo o alegado estatuto de favor que a SS facultou a PPC e introduzindo uma deriva no debate e, ao mesmo tempo, puxando para cima uma ministra da quota do CDS: a ministra da Agricultura - cujo contraste estabeleceu com o ex-ministro da Agricultura do Governo PS, Jaime Silva, que por não ter feito o levantamento dos problemas do sector obrigou Portugal a ter de pagar cerca de 140ME em coimas à UE. Coima por coima - as multas da Agricultura que Portugal teve de devolver a Bruxelas - acabaram por absorver as dívidas menores de PPC à SS, que são peanuts...

Numa palavra: tudo como dantes, quartel-geral em Abrantes. 

Portugal terá pela frente um cadáver político adiado por mais um semestre em São Bento, e um PR que anda agora mais preocupado com a fileira do sobreiro e do eucalipto. 

Estamos, doravante, mais virados para a reflorestação do País, na senda da política do rei D. Dinis. O que antecipa a novel adoração de Cavaco pelo regresso à monarquia, o que lhe daria imenso jeito nesta fase (terminal) da vida em que já não quer abandonar o Palácio Rosa. 

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