terça-feira

Presidenciais em Portugal: todos às espera de melhor tempo




Por regra, em matéria de eleições presidenciais, quer os candidatos, os apoios e as orientações gerais são conhecidos com grande antecipação em Portugal. Mas desta vez, por razões que só o coração (des)conhece, é tudo diferente na postura dos candidatáveis ao Palácio Rosa. Vejamos, à direita e à esquerda, cada uma dessas motivações e opções:

1. Durão Barroso, ainda na qualidade de presidente da CE deslocou-se a Portugal, em 2014, e no liceu Camões (onde estudou e foi doar parte do valor de um prémio) proferiu umas declarações lamentáveis acerca do método de ensino que o aproximou dos velhos cânones salazaristas; por outro lado, o seu legado destruidor duma Europa hoje completamente paralisada e fidelizada a Merkel, fez dele um agente menor da política lusa, pelo que lhe valeram os contactos e algum élan para demandar os EUA e lá fingir que ensina algo de novo aos norte-americanos, que quando olham para o mapa-mundi ainda confundem Portugal com o Principado de Andorra. É lá que Barroso está bem e sente em casa, afinal foi feito presidente da CE na antecâmara da famosa Cimeira dos Açores - que serviu de rampa de lançamento à trágica guerra ao Iraque e a tudo aquilo que se lhe seguiu depois, especialmente em matéria de combate ao terrorismo e destruição de um país: o Iraque - que ainda hoje é um placa giratória para conceber e desenvolver acções de terrorismo globalitário no mundo inteiro.

2. Santana Lopes vive em permanente delírio político. Na sua inebriada mente Sá Carneiro ainda está vivo, ele é o seu assessor e, portanto, pode aceder a qualquer cargo porque se acha ungido de todas as legitimidades possíveis pós-74, até para ser PR (PR!!!). Até lá, encostou-se a Passos Coelho que lhe arranjou um emprego, pois a vida está difícil, e Lopes - como advogado - nunca foi especializado em coisa nenhuma e nunca ninguém o procurou enquanto tal, resta-lhe a política e os apoios e empregos que tem angariado nela. Mas há, ou deveria haver, limites para essa subsídio-dependência, salvo se se considerar que a Santa Casa da Misericórdia também não conhece esses limites, o que é mau para o exemplo que a Misericórdia de Lisboa deveria dar de si ao país e não dá. A lição de Belém pode, ao menos, comportar esse mérito pedagógico!!!

3. Rui Rio, que granjeou algum capital político na Câmara Municipal do Porto, cuja autarquia não deixou endividada, aguarda uma vaga de fundo que ainda não se formou. Não tem o apoio do alegado PM, mas tem alguns apoios no PSD mais tradicional, o que não é selvaticamente ultra-liberal e ainda acredita num projecto de poder inter-classista protagonizado por um velhinho PSDê. Rio representa esse velho PSD hoje em vias de extinção. O seu peso ascendente tenderá a densificar-se consoante o peso da derrota de Passos Coelho nas próximas eleições legislativas. 

4. À esquerda, e tomando por adquirido que António Guterres prefere apostar no cargo de SG-ONU do que ser levado para Belém num andor, existem várias hipóteses, ainda nenhuma delas consolidada. António Vitorino será, porventura, a mais promissora, até pelo seu passado, experiência internacional e de governação e curriculum bastante rico e variado e um conhecimento profundo da realidade sociopolitica nacional. É nisso que A. Costa aposta. E em tempos, curiosamente, dele disse Marcelo Rebelo de Sousa: "Vitorino, será aquilo que quiser ser, aqui, em Portugal - ou em qualquer parte do mundo".

5. E é Marcelo, à direita, quem hoje gere melhor o silêncio da corrida presidencial, aliás, todas as semanas o analista se perfila nesse sentido, ainda que de modo subliminar, mas sempre tentando tocar várias sensibilidades sociais de molde a alargar o seu leque de simpatias pessoais e políticas em directo, on tv, mesmo que não goze do apoio de Passos Coelho. Marcelo, tal como Rio, gozará de mais liberdade política se a derrota de Coelho nas legislativas for estrondosa, como se espera venha a ser, até pelo péssimo resultado político alcançado, com a destruição do tecido produtivo nacional, com o desaparecimento da classe média, com a elevada taxa de desemprego, com a brutalidade da carga fiscal (às pessoas e às empresas), com a emigração compulsiva e uma terrível falta de desígnio para Portugal. Eis o preço a pagar por termos mangas-de-alpaca em S. Bento, e não políticos com visão de futuro. 

6. António da Nóvoa, outro académico, mas pouco conhecido no país também tem marcado presença, até para não ser esquecido pelos partidos e pela sociedade, especialmente após aqueles eloquentes discursos por ocasião do dia 5 de Outubro, dia da implantação da República. A esta luz, a sua missão tem sido útil, pois tem despertado consciências e aumentado a sua percepção para a desgraça trágica em que o país caiu nestes últimos 4 anos. Nóvoa está ali para o que der e vier, ainda que se mostre reservado. É, pois, um reservado atrevido!!!


De todas estas terríveis hesitações decorre uma constatação e uma verdade, se é que em política há verdades: a constatação é que este excesso de calculismo é paralisante e não beneficia ninguém; por outro lado, e resolvida a dúvida de Guterres, que não pode (ou deve!!!) por o país em suspenso, dando a entender que a sua carreira pessoal pesa mais do que a do país, aquele candidato - à esquerda - que melhor estiver posicionado, como é o caso de António Vitorino (caso queira) deverá, o mais cedo possível, apresentar a sua própria candidatura quebrando, assim, duma vez por todas o excesso de calculismo e de tacticismo no terreno e, ao mesmo tempo, marcando um espaço no terreno sociopolitico que coadjuva quem primeiro se demarcar no âmbito da candidatura destas eleições presidenciais. 

Especialmente, num quadro internacionalmente problemático e comunitariamente desafiante e fragmentário. 

Seja qual for o candidato que se venha a impor para Belém, ele deverá respeitar duas regras, ou seja, não deverá violar a Constituição da República Portugal, como tem feito cavaco Silva, e deverá honrar todos os compromissos que vier a estabelecer no contexto de campanha eleitoral com o eleitorado e que depois será objecto de juramento aquando da tomada de posse. 

Numa palavra: o novo PR deverá ser tudo aquilo que Cavaco Silva não foi, ou não tem sabido ser. 


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