Tirar o retrato aos (mais) velhos
Um dia Deus disse a Moisés: eu sou quem sou - para lhe significar que não era definível na sua pessoa, que se furtava, assim, ao sentimento de posse ou domínio que Adão tinha pelos seus animais - que ele nomeou.
Na aldeia de VF, conta este, quando se recusa uma identificação de apropriação, diz-se por graça e com um toque divino que - eu sou quem cá estou.
Há assim uma pessoa que se recusa a ser identificada simplesmente como um "outro", i.é, uma pessoa definida e apropriada.
Nessa linha, o povo imita assim Deus - na sua impersonalização. Um nome é para sermos nós à nossa face e à face de quem nos nomeia. Embora sê-lo à face dos outros é perdermos a nossa autonomia.
Tal como o retrato significava a perda da nossa alma. Por isso, os homens mais velhos se recusavam a tirar o retrato. Talvez também por essa razão, alguns desses nossos velhos sejam hoje tão impessoais para nós como - a imagem - do próprio Deus.
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Etiquetas: Alma, Tirar o retrato
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