sexta-feira

Eduardo Ferro Rodrigues na estreia da presidência do grupo parlamentar do PS



É conhecida a experiência de Eduardo Ferro Rodrigues nas lides políticas, quer no plano ministerial quer no plano partidário, e, ultimamente, ao nível mais (a)partidário da condução dos trabalhos parlamentares. Por tudo isto, Ferro Rodrigues é já um senador da república que tem um passado histórico que o sustenta.

Hoje, na sua estreia na AR - agora na qualidade de presidente do GP/PS, arrancou ao ataque contra o Governo, e, para o efeito, sublinhou a pobreza (a do governo e aquela em que aquele está a deixar o país), a miséria da Justiça, o caos na Educação e o mais. Pelo meio, como se António Costa precisasse vitalmente dessa mola, desafiou até o ainda PM a debater na TV com o edil da capital o estado da nação. Desafio que foi completamente ignorado pelo estarola de Massamá. 

Ora, o apelo de Ferro Rodrigues àquele debate representa, mesmo que o proponente do desafio disso não se tenha dado conta, uma desvalorização formal e processual da democracia representativa, já que o apelo ao "estado espectáculo", como fez o novel líder do GP/PS - significa, na prática, uma subvalorização dos debates políticos nos órgãos de soberania próprios (como é a AR) e, através da criação de um efeito de marketing político, procurar transferi-los para os media, em especial para a caixa negra. 

Aliás, esta temática foi estudada e desenvolvida há décadas por um cientista social francês, Roger Gérard Schartzenberg - autor do livro - Estado Espectáculo - em que defende como a envolvente dos media e poder estão estreitamente ligados na sociedade moderna. O problema é que essa dependência acentua mais o prejuízo da sociedade em benefício dos truques de comunicação de alguns mestres de oratória, os quais, uma vez no poder, como tem feito Passos Coelho, não cumprem nenhuma das medidas elencadas no respectivo Programa eleitoral comunicado à sociedade e com base no qual o XIX Governo (in)Constitucional foi eleito. 

Creio, por isso, que este "lapso" de Ferro Rodrigues revela, por um lado, um total desconhecimento desta obra de referência tão importante para a política e para os políticos e a acção de comunicação-pública; por outro lado, revela que, para Ferro rodrigues, os debates políticos nas televisões é que valem e são sérios e credíveis, desconhecendo aquele que, na verdade, tais debates se transformam em verdadeiras campanhas de teatralização, o que é um esmagamento da democracia representativa; e, em terceiro lugar, fica a sensação (erroneamente plantada por Ferro) que António Costa, para ser credível e conseguir derrotar o pior PM da história da democracia pluralista em Portugal, terá de o fazer com recurso à tv, tal como ganhou as Primárias ao seu contendor interno. Tamanho erro!!!

Por último, devo dizer que um líder parlamentar deve gozar de determinadas qualidades e virtudes, e uma delas consiste em ser um grande orador, ou, pelo menos, ser fluente e rapidamente articulado e estruturado quer nas críticas que dirige ao poder, que tem diante si, quer ainda nas medidas e propostas de poder alternativas ao governo em funções.

Neste contexto, importa referir que nem Ferro Rodrigues é um eficiente orador, não é criativo e ler fichas no debate parlamentar com o PM, além de quebrar o ritmo da dialéctica parlamentar revela também que, em momentos de grande turbulência política em que se exige uma grande capacidade de comunicação, o perfil escolhido para ser o líder da bancada do PS poderá não ter sido o mais indicado.

Razão por que entendo que este Governo, que não é senão um cadáver adiado, ganhou, perversamente, mais um debate parlamentar. E é pena...

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