Saída limpa - por Luís Meneses Leitão -

Passos Coelho teve a sorte de terminar o programa de ajustamento numa altura em que os mercados voltaram a apostar nas dívidas dos países periféricos da zona euro, o que lhe permitiu a saída limpa. O primeiro-ministro foi, assim, dizer triunfante ao parlamento que cumpriu o programa de resgate e o país voltou a ter a sua soberania, apelando ao consenso para continuar a governar, no que foi secundado pelo Presidente da República.

A declaração demonstra o irrealismo que atinge o primeiro-ministro. Três anos de austeridade deixaram os portugueses exangues e furiosos, especialmente com o governo. Se o ministro da Defesa surgir numa sessão, os generais saem. A ministra da Justiça alienou todo e qualquer apoio que poderia ter no seu sector, com uma absurda proposta de mapa judiciário que lançará o caos nos tribunais já em Setembro. Quanto aos funcionários públicos e pensionistas, já há muito que estão indignados com os sucessivos cortes de salários e pensões. Não contente com isso, o governo acaba de anunciar que os restantes trabalhadores também verão os seus salários cortados sempre que caduque uma convenção. Assim, conta hoje apenas com a simpatia dos mercados, mas esses não votam.

As eleições europeias vão ser, portanto, um desastre para os partidos da maioria. Resta saber se esses partidos irão continuar nesta senda. Porque se não arrepiarem caminho, dirão adeus ao poder por muitos e bons anos. Nas próximas legislativas, serão eles que irão sair completamente limpos.

Professor da Faculdade de Direito de Lisboa

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Obs: Digamos que Portugal conta hoje com dois graves, gravíssimos problemas: um chama-se Passos Coelho, o outro, Cavaco silva. Detestam-se, mas, porque precisam um do outro para concluir os seus mandatos com alguma dignidade institucional, não hesitam em cilindrar o país só para atingirem os seus objectivos e ambições políticas e de carreira. É disto que se trata, nada mais. 

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