A pequena traição de Teixeira dos santos entre a moral de convicção vs moral maquiavélica. Evocação de Weber e Aron
Teixeira dos santos tentou sublinhar, na excelente resenha histórica feita pela SIC - que o fracasso do PEC-IV e a entrada da Troika no burgo - se confrontou entre duas lealdades: a sua lealdade ao país e a lealdade devida ao PM, que o nomeou, e que em caso de conflito predominaria aquela.
Teixeira fica, assim, (ou pensa que fica!!) bem no fotomaton dos factos políticos da política portuguesa contemporânea.
Teixeira procurou transmitir a ideia de que agiu sob o desígnio da moral de convicção - que convida cada um a agir segundo os seus valores, sem atender às consequências dessas acções. Neste domínio, Teixeira não deixou qualquer espaço de manobra ao PM, confrontando-o com um facto consumado, o qual originou a declaração constante do pedido de ajuda feito por Sócrates à Comissão Europeia.
Diferente da moral de convicção, de raiz kantiana, perfila-se a moral de responsabilidade, de raiz maquiavélica, que coloca os desafios sociais em termos de relação meios-fins, e que envolveu a decisão de Sócrates de convocar a troika para Portugal, esgotadas as outras opções de financiamento apoiadas pela Alemanha.
Creio, apesar do melindre da situação, que o então ministro das Finanças deveria ter tomado a sua decisão comunicando previamente essa mesma decisão ao PM, responsável último pela condução do governo do país, e não subtraindo-lhe esse espaço de manobra.
Afinal, Teixeira dos Santos não se salvou a si, nem ao governo que integrava e, mais importante, não salvou o país obrigando-o a incorrer numa agonia hoje bem conhecida de todos nós. A esta luz, inclino-me a supor que o professor de Economia traiu a sua função, aquele que o nomeou - e também não foi útil a Portugal num momento tão crucial da nossa história política contemporânea. Ou seja, a decisão unilateral de Teixeira dos Santos ajudou a aprofundar a dependência do país do exterior.
Se Teixeira dos santos olhar para os resultados a que chegados hoje, compulsando todos os indicadores micro, meso e macro-económicos - perceberá a borrada da decisão que precipitou, empurrando o PM para o pedido de ajuda, e, paralelamente, criando as condições políticas para que Cavaco fizesse cair o governo e, assim, ajudar a elevar ao poder o XIX Governo (in)Constitucional, cuja natureza, funções e mediocridade de política públicas conhecemos.
Enfim, este é um tema que foi inicialmente estudado pelo maior sociólogo da modernidade, Max Weber e depois continuado por um dos seus maiores cultores: Raymond Aron. Dois pensadores hoje aqui em destaque
A este propósito deixamos aqui uma obra de referência para quem se interessa por estas temáticas: As Etapas do Pensamento Sociológico, de Aron. Além, naturalmente, da Ciência e a Política: duas vocações, de Weber.
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