terça-feira

Durão Barroso: o padrinho do Catch all parties ao albergue espanhol






O desplante do desertor Durão Barroso parece não conhecer limites à sua acção política: após dar uma entrevista à SIC/Expresso em que, cuidadosa e ocultamente, se posiciona para a corrida presidencial a Belém/2015, adianta que certos membros que integram o Manifesto dos 70, como Bagão Félix, Manuela Ferreira Leite e outros que vivem acima da média, só o fizeram para embaraçar o governo. Bagão já lhe respondeu aqui, e disse que é um homem de valores e convicções para além das conveniências do momento. 

Bagão, pelos vistos, só agora parece conhecer o seu ex-primeiro ministro que sempre actuou em função da sua carreira e ambição pessoal em detrimento do interesse nacional. Bagão acordou tarde, já para não referir Ferreira Leite - que deixou de falar a Barroso quando este resolve desertar e deixar o governo entregue a um aventureiro.

Curioso é também notar o posicionamento de Barroso, chamando a si a função de padrinho da opção de Catch all parties - ou seja, procurando racionalizar uma acção política de alargado expectro, de molde a nela integrar o PSD, o PS e, claro, o partido-muleta - o CDS de Paulinho Portas -  que ora se deita politicamente com o PS ou com o PSD, na ânsia de resgatar para si uns cargos no aparelho de Estado, as usual

Barroso afigura-se, assim, um homem de muitos princípios, alargados valores e de grande flexibilidade politico-partidária. Numa palavra, o desertor-Barroso assume-se o chefe de banda desse albergue espanhol emergente que, no seu entender, melhor o levaria ao colo até Belém. 

As coisas recortam-se assim na mente escondida de Barroso porque ele sabe, qualquer português sabe, que o PS dificilmente terá maioria absoluta nas próximas eleições legislativas em Portugal. E sabe também que uma coligação do PS de Seguro com o PCP e o BE é algo improvável entre nós, pelo que resta a possibilidade de constituir uma aliança à direita do PS, e aí caímos na velha fórmula de repescar o CDS a fim de garantir a maioria absoluta necessária para viabilizar as leis no Parlamento. Doutro modo, há uma paralisação da actividade legislativa e da produção política em Portugal. 

É com este miserável novo-velho cenário que Barroso sonha e cogita diariamente, a fim de garantir o seu certificado de aforro político quando regressar da reforma dourada de Bruxelas, onde, aliás, fez um lugar medíocre e subserviente duma Alemanha egoísta que tem escavacado cada pedra do complexo edifício da construção europeia que vinha do passado recente. 

Se este cenário encontrar projecção na realidade, Barroso poderá sempre alegar, mais tarde, que não está a fazer nada que vá além do velho sonho de Sá Carneiro, ainda que executado de forma sui generis, atenta a conjuntura de endividamento que vivemos e a situação de protectorado neocolonial que sofremos com a presença da Troika: dispor dum governo, duma maioria e dum presidente. Garantindo, desse modo, que Portugal tenha um Presidente (laranja, Cavaco), um Governo da mesma cor e, doravante, e por imperativos nacionais ligados ao equilíbrio das finanças públicas e à inevitabilidade da austeridade por mais duas décadas (conforme profecia de Cavaco) - disponha também desse novo-velho Bloco central de que ele, o desertor-Barroso, seria o timoneiro.

No fundo, Barroso não mudou nada: para conquistar o seu poder político pessoal recorre à velha técnica maoista de dar um passo atrás para poder dar dois à frente. 

Barroso, depois de desertar das funções de PM, pretende regressar directamente para ocupar o cadeirão de Belém. Que topete!! Depois de nos desprezar enquanto povo - pretende iludir-nos com a sua opção de ser o chefe do novel albergue espanhol, com a agravante de trazer com ele para Portugal a cabeça da hidra da Europa à qual cegamente tem obedecido: Angela Merkel. 

Pior do que um desertor, só o branqueamento desse desertor 10 anos depois no nosso seio em Belém. Seria o prolongamento miserável daquele neoprotectorado, agora perigosamente teleguiado a partir de Bonn. 


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