quarta-feira

A "solidez" e "credibilidade" do nosso sistema político. O talhante de São Bento...


De modo superficial, ao estilo da governação de Passos Coelho, basta alinhar dois comezinhos exemplos desta desgovernação para compreendermos bem o sentido da nossa direcção colectiva. 
- Dois consultores de Belém assinaram o manifesto dos 70 e são colocados no olho da rua. Porquê? por delito de opinião. Ousaram manifestar opinião distinta daquela defendida por Belém em matéria de política orçamental e de reestruturação da dívida. Mesmo estando certos, no devir histórico, foram queimados vivos no Index de Belém - que nunca perdoa a quem tem a capacidade de pensar diferente e melhor de Cavaco.
- Imediatamente a seguir ao temor reverencial manifestado por Cavaco relativamente a Passos Coelho - este obriga aquele a "engolir" um diploma vetado por cavaco relativamente ao nível dos montantes para a ADSE. Cavaco entendeu que aquele sistema tem receita e é sustentável; mas o locatário de S. Bento, ávido de mais e mais receita, não alterará uma nota ao diploma para o corrigir e expurgar dos vícios que comporta, pelo que o remete para a AR de molde a fazê-lo aprovar com base na maioria parlamentar que aí, cinicamente, dispõe. É mais uma imposição de Coelho; mais uma vingança(sinha) que recai sobre os culpados do costume.
- Já se percebeu que esta mais do que entente cordiale entre Cavaco e Coelho toca todos os sectores da governação, aliás, assume, por vezes, contornos metafísicos, tal a urgência (e medo!) que Cavaco tem em concluir o seu 2º mandato, de preferência sem sobressaltos politico-constitucionais. O pavor que Cavaco tem de sobressaltos...
- Agora, Cavaco e Coelho, estão ambos apostados em enfiar o líder da oposição, António José Seguro, num colete de 7 varas - deixando-o vinculado a decisões que manifestamente discorda.
- É assim que as coisas funcionam na prática. Tudo a pretexto do interesse nacional. Sucede, porém, que o interesse nacional não reside naquelas pretensões de Cavaco e de Coelho, pois presume-se que o verdadeiro e efectivo national interest - vá muito além dos desejos de carreira de Cavaco e da obsessão de manutenção no poder de Coelho. Estes, lamentavelmente, confundem o proclamado interesse nacional com os respectivos interesses pessoais. Fazem ambos batota com os conceitos de Estado.
- O interesse nacional, neste caso, consiste em que o líder do maior partido da oposição, António José Seguro, não aceite papéis que a sociedade política lhe quer impingir. Pelo que terá de se recriar forjando uma nova identidade, assente nos valores da esquerda democrática, a qual comporte novas propostas para os desafios sociais e económicos mais prementes da sociedade portuguesa, como a necessidade de criação de emprego, riqueza, mas também de justiça.
- António José Seguro não pode repetir o erro do curandeiro - em que Cavaco e Coelho incorrem - e em cuja propaganda acreditam. 
-  Seguro terá de ser senhor da sua própria política geral, da sua imagem, do seu posicionamento europeu. Deve ser capaz de atrair novos valores e não de cansar a plateia, como faz Coelho com aqueles seus discursos fastidiosos "à cubano". 
- Presume-se que governar um país não é como cortar carne num talho. E o mais grave, sem ofensa para os verdadeiros talhantes que sabem da arte, é notar que esta desgovernação, nestes quase 3 anos de exercício do poder do XIX Governo (in)Constitucional, nada mais tem feito do que mistificar aquilo que deveria ser uma governação para as pessoas, feita de modo equilibrado e gradual, com os cortes cegos, indo frequentemente ao osso aos portugueses através da draconiana carga fiscal, esbulho salarial e confisco.
- Pela mesma razão de que não vamos comprar bifes ao hemiciclo, em S. Bento, também não deveríamos encontrar uma multidão de talhantes no Governo. Ambos fazem mal à saúde dos portugueses...  



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