O cardeal Clemente por BAPTISTA-BASTOS
O patriarca de Lisboa é uma sombra melancólica do que foi. E foi um homem desenvolto quando reitor do Seminário dos Olivais.
Conheci-o num debate promovido pela SIC e moderado por Margarida Marante. Um regalo para os olhos e para o espírito. Dois homens cultos, que se respeitavam e desejavam expor, sem gritaria, as suas visões de mundo e as características das respectivas singularidades.
Carteámo-nos por e-mail e, mais tarde, com ele participei, no Porto, em uma controvérsia sobre exclusão social, sob o patrocínio do Montepio Geral.
Ouço-lhe as homilias, os comentários, leio-lhe as entrevistas e as enunciações. Tentava descobrir, no homem de hoje, o padre aberto, dialogante e claro de outrora. Nem sequer a mais ligeira recomendação sobre o Papa Francisco.
A homilia há dias proferida na Capela de Santa Maria constituiu um fluxo de banalidades, mais comuns a pároco de aldeia e não ao fino intelectual interventivo e solidário que foi e deixou de ser.
Parece, inclusive, nas evasivas, nas sinédoques e metáforas com que ornamenta a oração, não estar disposto, como devia e seria imperioso, a arguir, a denunciar, a verberar a situação portuguesa, em todas as vertentes da sua desgraçada miséria.
O mutismo do patriarca Clemente chega ser inquietante, e nada tem a ver com o vendaval moral e cultural que varre o Vaticano. Aliás, ele não está só nesta incongruência desacreditante.
O Episcopado rege-se pela mesma pauta e pratica o silêncio como forma de passar ao lado. O Papa quer punir os padres pedófilos, através das leis civis. Quanto a esse assunto, oclusão absoluta, de que é paradigma o caso de D. Carlos Azevedo.
A Igreja regressou ao breviário mais reaccionário e mais infame. Nos momentos em que mais precisamos da sua voz e do exemplo dos seus melhores homens, desvia-se e entoa outros cantares.
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Obs: Tornou-se por demais evidente que o Cardeal Clemente era fogo de vista: antes de assumir funções todo ele era contestação ético-moral em nome dos mais desprotegidos; uma vez nomeado por Roma tornou-se no perfil do cacique de província mais preocupado com a manutenção do seu poder pessoal do que com as obras da sua paróquia e os verdadeiros interesses das populações que nela habitam. Enfim, um prémio Pessoa desperdiçado num padre que revela ter duas caras, como a face de Janus, para não dizer o diabo..
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