A esperança exige luta por BAPTISTA BASTOS
Está por esclarecer o que deu origem ao facto de Portas substituir Passos no palco da Convenção, porque as regras consuetudinárias exigem a reciprocidade nestes assuntos. Depois, o PSD e o Partido Popular são "irmãos" na Europa e nos desígnios. O CDS, neste caso, é uma excrescência. Aliás, os representantes do PSD estavam remetidos para as filas do fundo. Embalado no contentamento juvenil de dizer coisas que não são exactas, e de ter com a verdade uma relação assaz conflituosa, Paulo Portas esqueceu-se, pouco diplomaticamente, de a Espanha estar a atravessar uma crise gravíssima, sem fim à vista.
Quanto a nós. A dívida pública portuguesa aumentou assustadoramente; o desemprego é medonho; os cortes nos rendimentos das pessoas, com particular incidência nos reformados, nos pensionistas e nos funcionários, são infames; 140 mil jovens foram, até agora, coagidos a emigrar; a investigação científica está a esboroar-se, com um ministro esburacado que traiu os testamentos legados; cada vez há menos estudantes nos cursos superiores; o Serviço Nacional de Saúde, a jóia da coroa, está a ser atingido de morte; a Justiça é uma amolgadela social e moral; a Segurança Social mingua a olhos vistos. Ora bem: pode alguém mentir assim tanto e apregoar virtudes que lhe não cabem?
Sei muito bem que toda esta aldrabice faz parte de uma estratégia ideológica das direcções políticas ocidentais, articulada na esterilidade de ideias, no esvaziamento do debate, na manipulação dos valores que conduzem ao desprezo pela política e à ascensão da insignificância e da futilidade. A política passou a ser obliterada e substituída por "gestores" e "economistas" que possuem do facto social uma noção de insensatez. Estou a lembrar-me do banqueiro Ulrich, que, desaforado, teve o descoco de afirmar, em resposta a uma pergunta sobre se a população aguentaria tantos sofrimentos: "Ai, aguenta, aguenta!"
O desgosto que nos assola é demasiado. A nossa tristeza torna-se endémica. Mas sou autor de uma frase muito citada, que continuo a sublinhar: a esperança tem sempre razão. No entanto é preciso lutar por ela. Pela esperança.
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Obs: Mais um retrato hiper-realista do Portugal contemporâneo feito por BB.
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