quarta-feira

As verdades de Durão Barroso: o pretenso Padre Américo da União Europeia




Durão Barroso criticou a Alemanha por ter beneficiado mais do círculo vicioso na economia europeia por força da criação do euro. Desta vez, Barroso, esse grande português que um dia desertou de Portugal e deixou o Governo de Portugal entregue a um amador (que o dirigiu por um semestre negro), teve coragem e disse uma "verdade": a Alemanha foi uma recebedora liquida, mais do que qualquer outra economia da UE, no jogo do import & export na economia europeia. Já sabíamos, por isso não surpreende.

Contudo, esta verdade de La Palice é dita como se fosse uma revolução na ciência e uma inovação na política europeia, quando toda a gente já sabe que a Alemanha é a economia charneira da Europa, é a que exporta mais, é a que importa menos e, portanto, é geradora de assimetrias de desenvolvimento regional em toda a Europa. E ainda tem a lata de pedir às demais economias europeias que baixem os respectivos salários e continuem a importar produtos made in Germany. Esta é uma verdade tão velha e decadente que até a Srª Merkel conhece de cor e salteado.

Novidade, afinal, é o modo e a circunstância em que o presidente da CE, agora em fim de mandato, lança essa pequena farpa à Alemanha de Merkel, vista em toda a Europa pobre e "pendurada", designadamente em Portugal e na Grécia, como a mal-feitora da crise e, de alguma forma, a impositora das políticas económicas de austeridade geradoras de recessão e de pobreza entre nós. Em Portugal parece que só é Pedro Passos Coelho quem aprecia a senhora. E Portas...

Por outro lado, esta verdadinha do dr. Barroso parece encaixar-se numa verdade maior, como as camadas da cebola ou as bonecas russas. As mentes brilhantes que lideram a Europa descobriram, de súbito, que a economia norte-americana não consegue interagir com a economia europeia se se mantiverem estes rácios de crescimento (negativo). Os quais são geradores de mais falências, mais desemprego e, portanto, incapacidade de gerar a tal procura interna necessária às economias para que tudo funcione equilibradamente, i.é, sem grandes injustiças sociais e motivos para contestações que, no limite, podem descambar em revoluções e banhos de sangue. 

O dr. Durão, ao fim de estar quase 10 anos à frente (ou atrás!!!) da CE descobriu a pólvora (seca), e anda, doravante, urbi et orbi muito preocupado com as assimetrias regionais da Europa potenciadas por uma Alemanha gorda, sebosa e egoísta. No fundo, o retrato da própria Merkel que Durão plasmou nesta sua última intervenção que, certamente, trás "água no bico"... 

Para reforçar essa sua estranha preocupação social com as economias mais desfavorecidas (vide, Portugal), o que fará  de Durão o novo Padre Américo da UE, não me surpreenderia que defendesse, numa próxima intervenção pública, um aumento dos salário mínimo em Portugal, colocando-se em linha com a CGTP-In, a UGT e, claro, essa múmia do sistema político português que é Cavaco Silva. 

É triste concluir o seu penoso 2º mandato sem nada de significativo para dizer ou oferecer à Europa, no seu conjunto, e a Portugal, em particular. 

Durão deixa mais estragos do que obra. Deixa uma Europa sem força, altamente espartilhada, sem prestígio e sem estatuto mundial que tinha quando assumiu a presidência da UE, em 2004. 

Apesar de agora andar armado em Pre. Américo da Europa, quiça defendendo para ela a abertura de "casas do gaiato" em cada capital de Estado membro da UE, e tendo, perversa e cinicamente, na mira do horizonte as futuras presidenciais no país de que é natural e do qual, lamentavelmente, desertou. 

(In)felizmente, os portugueses há muito que já o conhecem...

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