quinta-feira

Sócrates trilha o seu próprio caminho, caminhando...


Lula apela a Sócrates. "Tem que voltar a politicar"

Fotografia © Álvaro Isidoro/Globalimagens


Do ex-presidente brasileiro Lula da Silva, Sócrates ouviu um apelo directo: "Tem que voltar a politicar, é muito cedo para deixar a política." Mário Soares, ao lado de Lula, ouviu-lhe o mesmo apelo: "Por favor não descanse."
Dezenas de personalidades foram ao Museu da Electricidade, em Belém, associar-se ao lançamento do livro, entre os quais muitos ex-ministros de Sócrates.

Obs: 1. Sócrates é, porventura, o ex-pm português mais presente na vida pública portuguesa do pós-25 de Abril.

2. Por outro lado, Sócrates aproveitou o tempo pós-político para desenvolver conhecimentos de filosofia política, circunstância que lhe permite, hoje, pensar crítica e mais transversalmente os problemas sociopoliticos das sociedades contemporâneas. Infelizmente, e em termos analógicos, o conceito de "tortura" encontra na sociedade portuguesa paralelos perigosos, já que as pessoas, as famílias e as empresas podem ser, e são, torturadas de diferentes formas. O que está hoje a acontecer em Portugal é, de facto, uma "tortura fiscal" através dos últimos orçamentos. Neste sentido, a problemática do livro do ex-pm cruza-se perigosamente com os desatinos da governação do XIX Governo (in)Constitucional que não conhece outra forma de governar senão pela via do imposto continuado e progressivo, i.é, pelo esbulho e pelo confisco.

3. Quanto à linguagem utilizada na entrevista ao Expresso podemos adoptar duas posturas: a) a pudico-conservadora que se sente escandalizada pela utilização de tais adjectivos, em regra merecidos aos visados, mormente a um tal Lopes que chegou a ser pm da república por um semestre e de que não reza a história, qual epifenómeno dele próprio; b) e o reconhecimento de que a sociedade portuguesa está estourada, farta de ser tratada como cobaia e já sem paciência para tolerar mais a mentira política institucionalizada com que se tem desgovernado o país desde o verão de 2011. A esta luz, é inteligente o tom coloquial e plebeu usado por Sócrates, fazendo aí uma justaposição cultural (mecanismo da identificação) entre a sua circunstância pessoal e a situação colectiva (desesperada) em que se encontram hoje 10 milhões de portugueses. Além de que o conteúdo da referida entrevista está em linha com aquilo que o povo português pensa de certas personalidades domésticas, do ex-ministro das Finanças alemão e tutti quanti.

4. Não sei, não sabemos o que vai no íntimo do seu pensamento em matéria de projectos políticos para o futuro. O que podemos aferir desta exposição pública é que ela, de per se, abre mais portas do que fecha. Nessa perspectiva, Sócrates está a tecer o seu próprio mapa e a colocar nele os landmarks e as coordenadas que precisa para poder navegar com alguns instrumentos de precisão e não se perder nessa (ainda) indefinida trajectória. Uma trajectória que, neste preciso momento, pode ainda ser desconhecida pelo construtor do mapa, mas a curto e médio prazo poderá revelar-se - quando as demais peças e quadros de possibilidades da evolução da sociedade - começarem a articular os interesses dos principais protagonistas e as combinações das racionalizações aliadas aos desejos e ambições da classe política. Nesse momento, será possível conhecer o posicionamento de todos os actores relevantes perante as eleições presidenciais e legislativas.

Não podemos esquecer que vivemos tempos anómalos, aliás, o XIX Governo é um erro de casting, facto que recorta a maior das anomalias - a que se junta a forte possibilidade de o governo ser implodido (por efeito de desagregação natural), ou ser mandado abaixo, em uníssono, pelo Tribunal Constitucional e pelo conjunto do povo português.

Esse rastilho poderá antecipar um capítulo ao livro que Sócrates não escreveu mas que, caso queira, poderá ter de reescrever após o mesmo ter sido lançado.

Afinal, para que servem os mapas?!

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