Jürgen Habermas na Gulbenkian
Habermas na Gulbenkian (link) pode ser uma boa oportunidade para compreender por que razão o Estado se está a demitir de assumir as suas funções sociais clássicas (sem substituto à altura pelos privados..), designadamente ao nível da Educação e em quase todos os graus de ensino, a tal ponto que as novas gerações - a maior parte das quais foi "convidada" a emigrar (compulsivamente) tem dificuldade em reflectir acerca do que pode ser o projecto de vida, os ideais da democracia e a vida em comum adaptadas às condições de governo e funcionamento da [boa] sociedade.
Será assim em todos os países da Europa, ou esta faca no dorso da democracia afecta mais os países do Sul da Europa (?) - violentando aí as condições do exercício do próprio projecto democrático, que se agrava com a quebra de natalidade, a emigração crescente, o desemprego massivo e um conjunto de bloqueios que estraga a democracia, entorpece a economia e degrada a política, até pela forma como as elites são recrutadas e os agentes políticos representam o povo - num sistema representativo - como o português - em que a majestade da ABSTENÇÃO se agiganta, como foi evidente nestas eleições autárquicas [um verdadeiro cartão amarelo-vermelho ao XIX Governo (in)Constitucional].
Se essa poderá ser uma proposta de reflexão num espectro mais macropolítico, num plano mais micro, entre as múltiplas circunstâncias que nos rodeiam, convirá distinguir (ou fazer a revisão dessa distinção) entre o privado e o público - cuja fronteira é, hoje, cada vez mais ténue. Ainda que isso não traduza o fim do privado nem a diluição do público, mas implique uma grande transformação da relação entre o que deve ser considerado a esfera privada e a esfera pública.
Uma revisão de pressupostos que tem como fundamento as inovações técnicas e tecnológicas ao nível da comunicação e da informação. E neste domínio ainda está por apurar qual o efeito efectivo que a Internet virá a produzir no espaço público, mas essa pode ser - até por homenagem à obra do filósofo germânico que moldou boa parte do pensamento do séc. XX (que se dedicou ao estudo d´A transformação estrutural da esfera pública) - deixando uma interrogação irrecusável acerca do papel da rede das redes.
Ou seja, saber como os cidadãos podem obter uma cultura cívica comum que contribua mais para congregar do que para polarizar e fragmentar a informação e as opiniões, seiva da democracia e suporte da própria lógica argumentativa - tão cara a Jürgen Habermas.
Ao fim de meio século de trabalhos, as posições do sociólogo não deixam de suscitar interesse em fazer um balanço, sobretudo se nos preocuparmos em saber da validade dessa concepção do espaço público em sociedades crescentemente diferenciadas, heterogéneas e multiculturais que já não são regidas e enquadradas por um modelo estável de discussão e cuja fragmentação sociocultural (fortemente condicionada pelas desigualdades económicas resultante da draconiana carga fiscal em Portugal nestes últimos dois anos) já não pode ser assegurada pelo Estado - que se revela também (ele) cada vez mais impotente para garantir valores e protocolos comuns que sirvam espaços de comunicação saudável - intrasocietárias e entre sociedades.
Por alguns destes motivos, e outros certamente mais importantes que aqui me escaparam, talvez seja interessante escutar um dos mais influentes filósofos contemporâneos na linha da tradição da teoria crítica e do pragmatismo associado à Escola de Frankfurt e ao pensamento das sociedades e das democracias de capitalismo avançado do séc. XX - que hoje estão órfãs de pensamento, de teoria e de acção.
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