sábado

O recrutamento na Política



Diz-se que o poder faz milagres e que agora, que vamos entrar em período eleitoral no âmbito das eleições autárquicas, que deviam ser simultâneas com as legislativas, iremos assistir aos traços marcantes e aos expedientes mais vincados a que os candidatos recorrem para fazerem as suas promessas às populações a fim de serem eleitos. A este propósito, talvez não seja de estranhar, como ocorre recorrentemente, que se verifique um número de casos de mediocridade a tentar aceder a cargos relevantes na vida pública liderando os governos de proximidade que são as autarquias. 

Mas também aqui dá-se uma situação curiosa e em relação à qual nunca meditamos o suficiente. Ou seja, em qualquer outro domínio de actividade, da medicina à docência passando pelo sector segurador, financeiro ou outro da vida profissional - a conquista dum lugar de chefia, em competição com os pares de profissão, é sempre uma luta diária e nem sempre é conseguida. 

Em contrapartida, na esfera política, porque mudam as regras de partida e também porque se ganha francamente mal (motivo susceptível de multiplicar os casos de corrupção em todos os graus da administração do Estado) - não se verifica aquela dificuldade socioprofissional para atingir um lugar de destaque na sociedade. 

Daqui procede, talvez, a razão de fundo desta reflexão e que se articula com uma questão maior: a de saber como se seleccionam os quadros da política. De acordo com o modelo de recrutamento actual, conhecido de todos, ele é irracional e gerador de incompetência e, por extensão, de maus resultados a médio e longo prazos. 

De resto, se as empresas recrutassem os seus quadros à luz dos critérios que os partidos políticos recrutam os seus, já há muito que estariam arruinadas e declarado falência. De um modo geral os agentes políticos que demandam as autarquias do país, com raras excepções, são precisamente aquelas pessoas que não servem para mais nada. É como se se tratasse duma espécie de ditadura dos "licenciados em direito e não dos advogados". 

Por outro lado, a política há muito que deixou de ser interessante para pessoas com grandes capacidades intelectuais, porquanto existem na sociedade actividades mais relevantes, que conferem o mesmo nível de poder, ou de capacidade de influência, com um nível de risco menor ao da actividade política.

O mesmo é dizer que chegam à política e permanecem nela aqueles players sem terem feito nada de relevante na vida. São pessoas que começaram nas Juventudes dos Partidos Políticos, tiraram a custo uma licenciatura, mas nunca exerceram a profissão para a qual se preparam e/ou se especializaram. Curiosamente, a vida pública nacional está repleta desse tipo de perfil de agente político. 

A via política constitui, assim, o único trampolim para se encaixarem na vida civil. Como nos aproximamos de eleições, quaisquer que elas sejam, estas derivas ganham foros de cidade, nem que seja para meditarmos neste problema e procurar passar a remunerar melhor a classe política, desde que os métodos de recrutamento também se qualifiquem e melhorem.

Quem sabe também possamos ver nessa promessa de mudança uma mola efectiva para condicionar os casos de corrupção na política, na sociedade e na economia em Portugal. 


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