terça-feira

Estados falhados


Perante esta arrumação no mapa mundo, Portugal não surge como um Estado crítico, em perigo ou na eminência de entrar em perigo. 

Portugal está, de facto, vestido a negro. 

Com uma legitimidade refrescada pelo PR, Portugal - e a coligação do centro-direita que o governa - encontra-se agora desafiada a corrigir todos os erros em matéria de políticas públicas, especialmente no sector económico-financeiro (em que tudo falhou, conforme a carta de demissão de Gaspar) e nas relações delicadas com a troika que nos presta a assistência económica para equilibrarmos as finanças públicas e financiar o Estado.

É, pois, assim, de negro, que Portugal irá captar IDE (Investimento Directo Estrangeiro), criar riqueza, gerar emprego, potenciar a procura e o consumo interno e assegurar as condições objectivas (e subjectivas) de felicidade e bem-estar do povo português.

Neste quadro, Portugal não é um "Estado falhado", pois continua com um governo em funções (formalmente), ainda que não consiga governar; mantém o controlo sobre o território (vide o ex., de Cavaco nas Ilhas Selvagens, querem maior demonstração de grandeza e afirmação de soberania!!?) e sobre as populações (com a maior carga fiscal desde o 25 de Abril, a ponto de se falar em fadiga fiscal); se bem que a economia informal/paralela vá ficando com menos espaço de actuação, mormente em matéria de fuga e evasão fiscal; o nosso aparelho judiciário é o que sabemos: está entupido e não consegue imputar responsabilidades à média e alta criminalidade económico-financeira.

Por outro lado, devemos também perguntar à nossa consciência colectiva como tem evoluído a taxa demográfica entre nós, a emigração (económica) compulsiva, a intensidade da crise económica e social (com o alargamento da pobreza à antiga classe média), à degradação dos serviços públicos do Estado (com tendência para se agravar) e à violação do contrato social que o Estado tinha com os reformados e pensionistas, contrato que parece estar em ruínas, porque denunciado unilateralmente.

Tudo isto não representará (já), entre nós, uma falência múltipla dos órgãos politico-administrativos vitais do Estado para responder às necessidades das populações?

Tudo isto, de forma cumulativa, não representará já uma poderosa e preocupante força disruptiva de deslegitimação do Estado face à colectividade e ao interesse comum da nação?

Todavia, um aspecto deverá sublinhar-se em abono de Portugal: não temos terrorismo nem cisões religiosas à vista. 

No fundo, se virmos a "coisa" por este prisma, se calhar até "vamos no bom caminho"... 

Afinal, a douta explicação para a crise em Portugal repousa nesta fina fundamentação, qual nova doutrina política: "a crise tem sido mais forte porque as pessoas gastaram menos do que previmos".

Afinal, o que nos conduziu até aqui?!



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