terça-feira

A culpa pelos ‘swaps’ é sua, caro leitor - por Bruno Faria Lopes


A culpa pelos ‘swaps’ é sua, caro leitor



1. Os gestores das empresas públicas que contrataram ‘swaps' altamente especulativos argumentam que não havia grande problema nisso. A gestão desses contratos era feita "de perto" e o problema foi que, de repente, o país e as respectivas empresas ficaram sem financiamento. Não importa que os gestores estivessem a brincar com o fogo, não importa que estivessem a assinar contratos que não compreendiam. Estava "tudo sob controlo".

2. As tutelas políticas das empresas públicas - sobretudo as do PS da era de Sócrates - argumentam que não são responsáveis pelo problema dos ‘swaps'. Teixeira dos Santos e Costa Pina lembram que as empresas públicas tinham autonomia total para fazerem o que quisessem na gestão de risco financeiro. Eram outros tempos - um gestor de uma empresa pública endividada podia assinar à vontade com a banca a troco de financiamento. Era legal? Era. Então tudo bem.


3. Quando descobriu que, afinal, não estava tudo bem, a equipa das Finanças no anterior Governo passou a sujeitar os ‘swaps' a um controlo do IGCP. Afinal era possível controlar - nem que seja com um despacho já depois de umas eleições perdidas e muito depois dos avisos da Inspecção-Geral de Finanças, de notícias nos jornais, etc. Porque não se fez nada antes? Argumento: quem podia adivinhar que os juros ficassem tão baixos durante tanto tempo? E quem adivinharia que viria a ‘troika'?


4. Chega a ‘troika' e cai o ‘rating' para lixo - e a banca aparece à porta das Finanças para exigir garantias sobre os contratos indecentes de ‘swaps' que impingiu às empresas. Maria Luís, já ao leme do Tesouro, toma conta do assunto em Julho de 2011, numa altura em que as perdas potenciais são de 1,6 mil milhões - e demora um ano e meio para começar a negociar com os bancos, numa altura em que as perdas potenciais já ultrapassavam três mil milhões de euros.


5. Porquê tanto tempo? Maria Luís argumenta à comissão de inquérito que o Governo anterior não deu qualquer informação, nem sequer fez referência ao problema e que ela, Maria Luís, teve de "partir do zero". (Não interessa que apenas um mês depois já houvesse um relatório da DGTF a apontar perdas assustadoras - o que interessa é que não disseram nada a Maria Luís no final de Junho sobre um problema conhecido há anos.)


6. Perante desmentidos e emails, afinal percebemos que Maria Luís recebeu alguma informação. Mas não chegava. Era preciso mais. A consultora financeira que avaliou os ‘swaps' precisou de um trimestre para avaliar mais de 200 contratos - mas o Tesouro português demorou um ano e meio até começar a "negociar" com a banca, para chegar a um resultado que não implica quaisquer perdas para os bancos. Porquê? O argumento é moral: o Governo actual herdou um "problema complexo" para o qual partiu do zero (não é bem assim, pois não?) e está 
a "resolver". O Governo actual é bom e os outros são os "maus".


7. No final de tudo isto, o que sobra? De quem é a responsabilidade por perdas efectivas, até aqui, de mil milhões de euros? É sua, caro leitor, é minha. A culpa é nossa. Será esta a conclusão da comissão de inquérito pedida pelo PSD para tramar o PS que agora trama o PSD. E, como a culpa é nossa, somos nós a pagar. Simples, não é?







Em Portugal a responsabilidade continua a morrer solteira. E nós, os contribuintes, somos os viúvos que liquidamos sempre a factura do funeral. E, pior, temos já a percepção que os funerais são simulados com vista a ludibriar o contribuinte. O que aumenta o transtorno e a factura..








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