Justiça - por Sócrates -
(...) E, dentro destas categorias de bens, Glaucon pede a Sócrates para que qualifique a Justiça, o qual a coloca como sendo um bem da segunda categoria, ou seja, que nos proporciona prazer por si só e pelas suas conseqüências. Glaucon desafia-o ao afirmar que esse não é o parecer da maioria, pois é consenso, segundo Glaucon, que a Justiça gera honrarias, apesar de ser penosa e que deva ser evitada, quando possível. E, dessa forma, propõem a Sócrates um diálogo onde defenderia e louvaria a injustiça na expectativa de que Sócrates pudesse refutá-lo louvando, assim, à Justiça.
Glaucon propõem realizar a seguinte tarefa: afirma o que deva ser a justiça e sua origem, em seguida demonstrar que todos que a praticam o fazem por obrigação e não por escolha própria, pois, segundo ele, “(…) é natural que procedam assim, porquanto, afinal de contas, a vida do injusto é muito melhor do que a do justo, no dizer deles.” (cf. 358c). Desta monta, Glaucon argumenta que a justiça tem sua origem em leis que impedem a prática da injustiça e oferece o exemplo do anel achado por Giges que ao girar o engaste para o lado de dentro da mão o torna invisível e ao girar de volta para fora o torna, novamente, visível. E com esse poder, Glaucon afirma que qualquer homem, justo ou injusto, percorreria o mesmo caminho, ou seja, o da ambição e, portanto, da prática da injustiça, visto estar impedido de ser reconhecido ao praticar a injustiça e, assim, parecer ser justo. E conclui seu argumento afirmando que o melhor, desde esse seu ponto de vista, é se parecer justo, sendo na verdade injusto. Em suas próprias palavras temos:
(…) ninguém é justo por sua vontade, mas constrangido, por entender que a justiça não é um bem para si, individualmente, uma vez que, quando cada um julga que lhe é possível cometer injustiças, comete-as. (Cf. 360c)
E continua sua argumentação afirmando que entre dois homens, um justo e outro injusto, se cada um a sua maneira for perfeito, um na justiça e outra na injustiça, o que for justo se granjear para si fama de injusto, mesmo não o sendo, sofrerá as penas como se fosse um homem injusto, já o homem injusto se granjear para si fama de justo, terá todas as honrarias de homem justo, mesmo não o sendo. Isto demonstra, segundo Glaucon, que as honrarias não serão pelas evidências de justiça mas pelas aparências de justiça. O cerne da argumentação de Glaucon, que é defendida por Adimanto, também, está no fato destes acreditarem que: “(…) a aparência, como me demonstram os sábios, ‘subjuga a verdade’ e é senhor da felicidade (…)” (cf. 365bc).
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