Fujam, que vem aí a Justiça - por Eurico Heitor Consciência -
Fujam, que vem aí a Justiça!
No In illo tempore do Trindade Coelho conta-se que, num cortejo
carnavalesco no Funchal, o Juiz e o Procurador participaram no corso
transportados num andor antecedido dum cartaz solidário e preventivo que dizia:
Fujam, que vem aqui a Justiça.
Como se vê, o Alberto João teve
dignos antecessores.
Ocorreu-me o Trindade Coelho a
propósito dos semanais avanços e retrocessos da Reforma Judiciária.
Quase todos os dias se fala na
nova Reforma Judiciária, que atropelará a do Governo anterior, que ainda estava
na fase experimental.
A manter-se o projecto que se
apresentou como definitivo, faz-se uma asneira maior do que a do anterior
governo – que já não era pequena.
Assim, a máquina da Justiça
continuará por reparar, com rolamentos gripados, carretos sem dentes e dentes
sem carretos mas que, bem untados, rolam muito bem, com alguns escapes
entupidos e outros desentupidos de mais.
A desenvoltura com que os
assessores da Srª Ministra alinham disparates sobre asneiras nascidas de
tolices revela que não conhecem o país – que lixarão, por isso mesmo.
Recomendo-lhes que analisem o país antes de concluírem a lei que só consagrará
a vossa ignorância. Para tanto basta olhar para um mapa de Portugal e para os
resultados do último recenseamento da população.
Rapidamente verão que a vossa
mania de pôr as sedes das comarcas nas capitais dos Distritos é rematada
asneira – logo porque há capitais de Distrito quase despovoadas, estando algumas
localizadas num dos extremos do Distrito, por vezes a cerca de ou mais de 100
Km. das outras cidades ou vilas do Distrito que actualmente são sedes de
comarcas. Dá a impressão que os do Ministério da Justiça querem fomentar as
vendas de gasolina e gasóleo. Como se a Engª Isabel e o Amorim precisassem
disso…
Revejam a reforma original de
Laborinho Lúcio – que teria resolvido os problemas da Justiça se não lhe
tivessem introduzido logo sucessivos cortes e enxertos que a desvirtuaram. As
Grandes Instâncias só podem ser nas sedes dos actuais Círculos Judiciais – que
resultaram de sucessivas respostas às alterações demográficas e aos movimentos
dos diversos tribunais.
(A propósito: eu nunca disse em
lado nenhum que sufragava a extinção da Comarca de Mação. Mas, tendo eu dito
coisa diferente, numa entrevista deste jornal, logo surgiu uma alma caridosa,
anónima, já se vê, que pespegou na Net que eu defendera a extinção da Comarca
de Mação.
A Net tem, claro, coisas
excelentes, mas carece de medidas que acabem com os anonimatos).
E não se esqueçam de encarar com
olhos lavados essa coisa do Apoio Judiciário que tanto agrada ao actual
Bastonário da Ordem dos Advogados e que custa alguns 50 milhões/ano ao bom povo
português e à sombra do qual se recorre a toda a hora de todas as decisões
judiciais – com os consequentes atrasos na definição dos direitos.
Falem comigo, que eu digo-lhes o
que se está a passar. Até já se recorre para o Tribunal Constitucional de
merdinhas que nunca tiveram nada que ver com
as regras constitucionais.
Mas basta remeter o requerimento
de recurso ao Tribunal para o defensor poder facturar umas centenas de euros –
que todos nós pagamos.
E ninguém vê isso…
Abram os olhos.
Ou não reformem. E reformem-se.
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