Uma nova UTOPIA para o dia 15 de Setembro: sonhadores que pensam e pensadores que sonhem
Portugal está num carrefour perigoso, pois para milhões de cidadãos o projecto ultraliberal segundo o qual o Ocidente estaria apto para viver em condições de liberdade absoluta, com elevados padrões de vida, é tão irreal quanto dogmático - como a própria ambição revolucionária de pendor socialista assente no igualitarismo absoluto. Nenhum desses projectos foi, é, realista. A história do séc. XX e a deste 1º decénio do III milénio demonstram-no.
Daí os milhões de portugueses, e de cidadãos europeus em geral, se interrogarem acerca do melhor modo de organizar a economia e a sociedade, ou seja, de conceber os fins da política que procuram exprimir através duma nova utopia, qual racionalização do futuro e do mundo. A austeridade galopante nas finanças públicas em Portugal e, de forma sistemática, o desnorte dum governo neoliberal é bem disso evidência. Daí a necessidade duma profecia política em Portugal, um novo projecto de futuro que reconcilie a sociedade consigo própria e com o Estado, que hoje apenas se comporta como um rufia e assaltante de bairro que esbulha os pobres para dar aos mais abastados, muitos dos quais montados no próprio aparelho de Estado e nas suas dependências orgânicas.
A questão que se coloca neste colete-de-forças é, pois, saber se que haverá espaço político e ideológico para recriar a nova utopia sobre os escombros da barbárie neoliberal?!
Especialmente, se se considerar que existe uma tremenda desconfiança entre governantes e governados, entre as supostas elites e as massas, o que dificulta a estruturação dos grandes projectos político nacionais que nos façam sair do ciclo de pobreza estrutural em que caímos. Desconfiança, sublinhe-se, que também alastra ao imenso descrédito das elites tecnocráticas e à relação das populações e da opinião pública com os media, que são empresas com interesses corporativos muito marcados na sociedade e na economia e, não raro, têm também projectos de poder ou de facilitação de captura de poder em relação a certos players.
Ante isto, os portugueses organizam-se dentro e fora das redes sociais, já convocaram uma manifestação para dia 15 de Setembro a fim de contestar esta nova velha ditadura das finanças imposta por um governo, e um ministro das finanças, completamente insensível às pessoas e aos seus problemas sociais. Enfim, será mais uma manifestação oriunda da sociedade civil em que os homens e mulheres de Portugal irão mostrar que querem apenas introduzir entre nós um pingo de humanidade nesta triturante máquina neoliberal que tem usado e abusado da carga fiscal sobre os portugueses, esbulhando-os descaradamente, procurando um compromisso socialmente responsável que dê uma réstia de esperança a jovens e idosos, hoje condenados a emigrar ou a viver da esmola da sociedade.
Serão, creio, essas angústias e inquietações que irão estar em debate, mesmo que o poder em Portugal se tenha tornado num poder cego, ávido dos recursos alheios que retem indevidamente a quem trabalha e produz. E faz tudo isso em nome dum projecto e duma terapia falhadas, que agora é revisitado pelos mesmos players por força da obsessão, impreparação e incompetência dos actuais titulares dos principais cargos políticos da nação.
Penso, contudo, que a manifestação de 15 de Setembro procurará respostas para estes legítimos anseios mas, de novo, baterá com a cara na parede perante os complexos problemas sociais, económicos e financeiros com que está confrontada. Problemas esses que são endógenos e que se agravam com uma Europa moribunda que há muito deixou de ser um projecto solidarista e passou a ser aquilo que eram os velhos directórios nos sécs. XIX e XX, marcado por guerras de conquista.
Tenho para mim que no dia 15 de Setembro de 2012, cada um dos homens e mulheres experimentará um momento ao mesmo tempo singular e comum de raiva contra um poder cego, incompetente, amador, imoral, insensível e lutará contra um projecto ultraliberal que não faz sentido e, em contrapartida, apresentará uma resposta global que se possa opor o modelo político dominante assente na financeirização da vida política nacional. Projecto esse já criticada pela própria troika, que compreendeu que mais austeridade sem coesão social e crescimento levará à desgraça colectiva.
Ora, é para dar corpo a este novo projecto social, que não é fácil, dado buscar uma ideia de progresso e de crescimento constante e sustentável hoje problemático, que, mais do que os economistas e os tecnocratas, são necessários novos homens para escaparmos deste naufrágio em curso. Esses novos homens serão os sonhadores que pensam e os pensadores que sonham, sem eles dificilmente a sociedade portuguesa conseguirá reencontrar o projecto social que precisa para o nosso desenvolvimento colectivo.
Para esta tarefa não são apenas necessários boa vontade e capacidade de mobilização, urge também encontrar novos conceitos, uma "ideologia" mais amiga das pessoas (e que as sirva e não se sirva delas através do esbulho do Estado por via fiscal). Conceitos emergentes enquadrados por uma nova ideologia é, talvez, o que Portugal e os portugueses precisam hoje para a arquitectura dos seus sonhos, ideias e projectos de vida em sociedade.
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