terça-feira

As falácias do dr. António Borges desmontadas por António Vitorino

Sobre os rumos da Europa, do euro, do investimento, da economia (doméstica e europeia), sobre a mudança de rumo na Europa pós-Sarkosy, sobre a qualidade do investimento (público e privado), sobre os salários, ah, os salários (!!), sobre a ideologia que subjaz a todas essas opções, foi muito interessante, para não dizer algo mutante, ver o raciocínio e o discurso do sr. "Goldman Sachs" deslizar conforme a direcção das asserções sistematizadas pela segurança e experiência de António Vitorino, que apresentou uma visão estruturada, com coesão social e sustentável do que poderá (ou deverá) ser a nova Europa:

- Borges, afinal, deseja salários mais elevados para os portugueses, ele até nem defende a desvalorização dos mesmos em 30%, como o Nobel P. Krugman, que deu um jeitaço citar; só por isso já valeu a pena Krugman ter vindo a Portugal..aliviar as "bernardas" do sr. Borges;

- Borges, afinal concordou com António Vitorino quando este quis por no prato da balança qual dos dois investimentos era mais nocivo à economia: o público ou o privado. Borges teve medo, até porque a dívida privada é superior;

- Afinal, a questão já não é ideológica, é, tão somente, pragmática. Se calhar, foi por isso que Borges defendeu a venda pelo preço da "uva mijona" da Cimpor, e fê-lo no Parlamento como se fosse um verdadeiro ministro da Economia, relegando o Álvaro para as questões do aprovisionamento da internacionalização dos pastéis de nata;

- Afinal, Borges reconheceu que Portugal é o país que sofre das maiores injustiças sociais, apesar de aforrar mais hoje do que no passado. Borges percebeu que após ter dito umas asneiras teria que se penitenciar afirmando coisas de bom senso, que o apaziguassem com a opinião pública portuguesa. Coelho pediu-lhe essa tarefa, Borges cumpriu. Foi, pois, um bom aluno;

- Afinal, não há divergências nenhumas, o que há são pequenas divergências geradas pelas escassa clareza das palavras e dos conceitos que, por vezes, mistificam mais do que clarificam.

- Aliás, António Vitorino até sublinhou a ideia de que Borges é sempre muito claro, nem que, para o efeito, tenha que dizer uma coisa numa semana e defender o seu exacto contrário na semana seguinte, porque o império da opinião pública está à "coca", e não permite mais deslizes de natureza anti-social. Borges sabia que não poderia falhar na RTP, pois se o fizesse contribuiria para agravar ainda mais os índices de popularidade do PM e do Governo (ou "conselho de gerência", como diz um amigo) no seu conjunto;

- Borges compreendeu bem a lição dos erros ditos em público, e aproveitou o Prós&Contras para se redimir das anormalidades que defendeu recentemente, e pelas quais foi também corrigido pelo próprio PR, que sendo da sua área político-ideológica dele discordou frontalmente, afirmando que a melhoria da qualidade de vida não se faz à custa de abaixamento de salários, que foi o modelo económico terceiro-mundista defendido pelo neoliberal Borges;

- Borges também não compreendeu o sentido da União Europeia, desconhecia que esta criação jurídica e política complexa, que não é uma federação à americana nem uma confederação clássica, se faz com liberdade de movimentos, coesão social, solidariedade entre países e regiões; Borges ficou parado no tempo, por momentos pensei que ficara preso a um dos pilares do Mosteiro dos Jerónimos que sobre ele desabou em 1986, quando Soares assinou o Tratado de adesão à CEE, pois julgava que a UE tinha apenas uma dimensão de mercado e de estabilização financeira conducente ao euro; o que revela que este economista não conhece a história da evolução da construção europeia, cujos grandes líderes, como Delors, ele nunca soube citar;

- De facto, vivemos tempos difíceis, tão difíceis que até o sentido e alcance das palavras ganha uma amplitude dual, qual novilíngua, sendo que a síntese é sempre aquela  revelada pelo espírito e o sentir convergente com o gosto e o desejo das massas no momento, não vão elas, em fúria, rebelar-se contra um Governo moribundo que teve, tem e terá em Borges um porta-voz (não oficial) de luxo, que, no final, mais parecia um socialista com sinceras preocupações comunitárias, desenvolvimentistas e justicialistas - relegando para segundo plano aquilo que geneticamente sempre foi: um neoliberal puro e duro que, se mandasse por um dia na economia portuguesa, até o O2 que respiramos privatizaria;

- Afinal, Borges já quer salários mais elevados para os portugueses, o modelo económico (também já) pode não fundar-se apenas na austeridade...

- Numa palavra, as posições de Borges são perigosas porque o aggiornamento do seu duplipensar revela bem a duplicidade dos seus pensamentos sobre política económica que condiciona, em última instância, a vida de todos nós. Sobretudo, quando temos um PM que é altamente influenciado por este tipo de economistas estrangeirados que, lá fora, nenhum crédito têm nos planos intelectual e técnico, e até são despedidos, mas em Portugal agigantam-se dado o nosso crónico provincianismo cultural, intelectual e político. O Eça explicou bem este fenómeno que, pelos vistos, não mudou entre nós;

- Mais 15 minutos de programa e seria fácil ver Borges defender a manutenção da RTP sob tutela pública; para, dias depois, numa futura conferência de empresários interessados na eventual privatização da estação, defender a sua imediata privatização com a justificação da valorização dos activos e até como forma de desonerar o Estado desse fardo;

- Mas quando António Vitorino "lhe perguntou" pelo que tem sido feito pela atracção de IDE, o sr. Borges jogou os olhos para a mesa, enrolou a língua e..., voltou a ser aquele neoliberal cujos resultados para a economia nacional são exactamente iguais aos sucessos do ministro relvas na reorganização e reforma das "províncias" (e doutros serviços) em Portugal. 

- Em face do exposto, e como nota de pendor mais literário, apenas direi que se amanhã o 1984 de G.O. conhecer nova reedição, já sabemos quem seria a pessoa mais indicada para fazer o prefácio...



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