terça-feira

A mentira política e a teoria da mente dos neurónios em espelho

Parece que alguém pediu ao PM que dê a sua opinião acerca das touradas. A questão em si não tem nenhuma relevância, desde logo porque o PM nada percebe do sector e conhecerá mal as suas tradições. Por isso, será mais um leigo a articular postas de pescada com ar professoral de quem entende do assunto; por outro lado, cada um poderá continuar a ter exactamente a opinião que tinha apesar da opinião do PM mais a de meia dúzia de pessoas que tentam dar uma finalidade à sua vida escolhendo como causa de vida a protecção dos bois bravos. Amanhã será a  protecção das galinhas, pintos, patos e por aí fora até se chegar à protecção do próprio Homem, que, segundo consta, também é uma espécie que se encontra ameaçada. Por isso emigra. Mas o meu ponto é outro e prende-se como a natureza da própria DEMOCRACIA e da verdade que ela encerra nas opiniões e decisões dos actores políticos, mesmo daqueles que nenhuma formação técnica têm sobre os assuntos a que são chamados a valorar. Esta falta de verdade nessas opiniões em democracia assenta na explicação que é dada pela theory of mind - que nos ajuda a compreender o cinismo em que incorre a generalidade dos políticos, já que têm como preocupação desenvolver a capacidade de pensar e julgar o que os outros (eleitorados/massas) pensam e tendem a representar neles próprios os seus estados de alma, mediante os chamados "neurónios em espelho". Ora, é por força deste altruísmo simpático que a classe dirigente tende a captar votos mediante uma lógica discursiva sedutora com o fito de agradar a "gregos e a troianos", fazendo a quadratura do círculo em matérias em relação às quais se devia ter a coragem de separar águas. Também os animais recorrem a este tipo de altruismo simpático que basicamente redunda numa mera estratégia de sobrevivência. E é com base neste exemplo caricato da anti-tourada que compreendemos que as opiniões da classe dirigente, e a forma como as decisões são formadas em democracia, se percebe que a democracia, perversamente, acaba por ser uma fábrica de ilusões e um convite permanente à mentira. Apesar disso, ainda é o menos mau dos regimes políticos...

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