Democracia - por Paulo Baldaia -
Em dois anos, a austeridade fez cair dez Governos da União, e em dois desses casos, Grécia e Itália, as eleições foram dispensadas para evitar males maiores. À custa deste modo de fazer as coisas crescem os radicais de esquerda e de direita. Crescem em França, dominam na Holanda e ameaçam acabar com a maioria tradicional na Grécia entre socialistas e conservadores. No Norte e no Leste da Europa há sinais preocupantes em relação à extrema-direita.(in DN, Paulo Baldaia)
A presidente do Parlamento, Assunção Esteves, foi sábia quando celebrou o 25 de Abril dizendo-nos que "a democracia tem hoje a sua prova de fogo no bem-estar social e económico". Não pode haver dúvidas de que se os partidos tradicionais não souberem resolver os problemas das pessoas serão os populistas e extremistas a beneficiar do voto dos eleitores.
É verdade que também há democracia quando o voto dá vitórias aos extremistas, mas a questão é que a democracia não se pode esgotar nas urnas, tem de se consolidar na forma como quem exerce o poder governa um país. E nós já sabemos ao que levam as ideologias radicais. O que andamos agora a descobrir por toda a Europa é que se impôs o maior dos radicalismos, aquele que diz que a política não interessa para nada, que o que importa são os mercados.
Percebendo o fenómeno, estando na oposição, a esquerda estrebucha. Ameaça, em França, romper com a ideia de que a Europa deve ser liderada a partir de Berlim e ameaça, em Portugal, deixar o centro-direita a viajar sozinho. Querem mais crescimento e menos austeridade. É muito provável que esta simples vontade acabe por fazer caminho e a democracia supere a sua prova de fogo não esquecendo o bem-estar social e económico, como deseja a social-democrata Assunção Esteves.
Mas há riscos nesta desejada inversão de marcha. Os mercados que impõem austeridade e gostam de juros altos costumam ficar nervosos com pouca coisa. No caso português, são bem capazes de ver um aumento de risco caso o PS cumpra a ameaça de fazer uma "ruptura democrática" e deixe de estar no apregoado consenso que nos distingue da Grécia. No caso dos gregos, são bem capazes de entrar em histeria se os partidos do arco do poder nem juntos conseguirem uma maioria. No caso francês é ainda mais perigoso, porque os mercados adoram o directório Paris-Berlim tal como ele está.
Os eleitores dizem nas urnas o que entendem sobre os políticos e os mercados que lhes impõem as regras. A Europa vai andar a votos, mas por cá as eleições são só em 2015. PSD e CDS devem governar, tentando antecipar as mudanças de rumo na Europa para não fazerem a viagem sozinhos. O problema não é Seguro mudar de ideias, é Hollande ganhar as eleições e Merkel mudar de ideias.
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